Na véspera do Ano Novo, um carro-bomba fez em pedaços 21 pessoas numa igreja cristã copta em Alexandria, no Egito. A igreja estava lotada de fiéis, que assistiam à missa. Entre os mortos, mulheres e crianças, além de 79 feridos. Uma barbaridade.
No dia seguinte, o papa Bento XVI fez o que se espera de qualquer pessoa decente e condenou o atentado. A reação dos mulás egípcios foi a seguinte: disseram que o chefe da Igreja Católica estava se metendo num assunto interno do Egito. Mais: afirmaram que o Sumo Pontífice não condena os atentados em que morrem muçulmanos no Oriente Médio...
As duas afirmações acima – a última das quais, abertamente mentirosa – não saíram da boca do chefe do Hamas ou de Osama Bin Laden, mas de líderes religiosos considerados "moderados", apontados como interlocutores confiáveis do Islã. Homens tolerantes, enfim.
Fico aqui pensando o que será que tais líderes religiosos diriam se, diante de um atentado contra muçulmanos em Paris ou em Roma, o papa dissesse para eles: "Isto não é problema de vocês; é um assunto interno nosso". Ou então: "Não me lembro de ter visto vocês condenando atentados em que morrem cristãos". Conseguem imaginar o escândalo? No mínimo, os muçulmanos e os intelectuais de esquerda ocidentais iriam às ruas protestar e exigir a cabeça de quem disse uma coisa dessas, tachando-o de hipócrita, de calhorda e de canalha da pior espécie. E com toda razão.
Pois bem. Não me lembro de ter visto nenhum ativista de esquerda organizar qualquer protesto contra os lideres muçulmanos egípcios. Procurei no noticiário, mas não vi nenhum conhecido crítico do Ocidente, nenhum Noam Chomsky, nenhum Tariq Ali, dizer uma palavra de repúdio ou de solidariedade às vítimas do atentado. Por que será?
Há somente uma explicação para esse tipo de duplo padrão moral: na cabeça de religiosos islâmicos, moderados ou não (e de seus aliados seculares ocidentais), a morte de cristãos não é tão grave quanto a de muçulmanos. Isso porque, por mais que se diga o contrário, não existe Islã moderado.
Antes que me entendam mal: não tenho nada contra o Islã como religião privada. Aliás, não tenho nada contra nenhuma crença individual. Para mim, crer em Alá, fazer as abluções, rezar cinco vezes ao dia com o rosto voltado para Meca, é uma questão de crença pessoal. Mas é exatamente aí que está o problema: o Islã não é uma religião privada. Crer ou não em Maomé, para um muçulmano devoto, não é uma questão pessoal. Ponto.
Se há algo que distingue o islamismo das outras religiões, em particular do cristianismo, é que no Islã não existe diferença alguma entre as esferas pública e particular. Pergunte a qualquer muçulmano sobre separação entre religião e Estado e ele provavelmente pensará que está diante de um imperialista, um marciano ou um fugitivo do hospício. É inútil procurar algo semelhante nos paises islâmicos. Até mesmo regimes seculares do Oriente Médio tem um pé no Corão: no Egito, por exemplo, é proibido pregar abertamente outra religião que não a do Profeta (um pastor protestante brasileiro foi preso lá no ano passsado por distribuir bíblias!). O Islã é mais do que um conjunto de regras de conduta moral: é uma ideologia total, que abarca todos os aspectos da vida particular, assim como da política e da economia. Daí que falar em Islã "moderado" é, no minimo, um oxímoro (Islã radical, por sua vez, é um pleonasmo). É uma auto-ilusão, uma fantasia de intelectuais multiculturalistas e politicamente corretos.
Hoje, quando o Egito e boa parte do Oriente Médio estão numa encruzilhada depois da queda do ditador Hosni Mubarak (no que foi, em tudo menos no nome, um golpe de Estado, mas não é de bom-tom dizer), a tendência é ignorar esse fato. Cansei de ler comentários de pessoas ditas sérias celebrando a participação da Irmandade Muçulmana no novo governo de transição do Egito como uma mostra de que o país estaria entrando, enfim, numa nova era de "democracia". Esquecem que, com os islamitas, a primeira eleição democrática da qual sairão vitoriosos será tambem a última. Se alguém duvida, pergunte ao Hamas ou ao Hezbollah.
No dia seguinte, o papa Bento XVI fez o que se espera de qualquer pessoa decente e condenou o atentado. A reação dos mulás egípcios foi a seguinte: disseram que o chefe da Igreja Católica estava se metendo num assunto interno do Egito. Mais: afirmaram que o Sumo Pontífice não condena os atentados em que morrem muçulmanos no Oriente Médio...
As duas afirmações acima – a última das quais, abertamente mentirosa – não saíram da boca do chefe do Hamas ou de Osama Bin Laden, mas de líderes religiosos considerados "moderados", apontados como interlocutores confiáveis do Islã. Homens tolerantes, enfim.
Fico aqui pensando o que será que tais líderes religiosos diriam se, diante de um atentado contra muçulmanos em Paris ou em Roma, o papa dissesse para eles: "Isto não é problema de vocês; é um assunto interno nosso". Ou então: "Não me lembro de ter visto vocês condenando atentados em que morrem cristãos". Conseguem imaginar o escândalo? No mínimo, os muçulmanos e os intelectuais de esquerda ocidentais iriam às ruas protestar e exigir a cabeça de quem disse uma coisa dessas, tachando-o de hipócrita, de calhorda e de canalha da pior espécie. E com toda razão.
Pois bem. Não me lembro de ter visto nenhum ativista de esquerda organizar qualquer protesto contra os lideres muçulmanos egípcios. Procurei no noticiário, mas não vi nenhum conhecido crítico do Ocidente, nenhum Noam Chomsky, nenhum Tariq Ali, dizer uma palavra de repúdio ou de solidariedade às vítimas do atentado. Por que será?
Há somente uma explicação para esse tipo de duplo padrão moral: na cabeça de religiosos islâmicos, moderados ou não (e de seus aliados seculares ocidentais), a morte de cristãos não é tão grave quanto a de muçulmanos. Isso porque, por mais que se diga o contrário, não existe Islã moderado.
Antes que me entendam mal: não tenho nada contra o Islã como religião privada. Aliás, não tenho nada contra nenhuma crença individual. Para mim, crer em Alá, fazer as abluções, rezar cinco vezes ao dia com o rosto voltado para Meca, é uma questão de crença pessoal. Mas é exatamente aí que está o problema: o Islã não é uma religião privada. Crer ou não em Maomé, para um muçulmano devoto, não é uma questão pessoal. Ponto.
Se há algo que distingue o islamismo das outras religiões, em particular do cristianismo, é que no Islã não existe diferença alguma entre as esferas pública e particular. Pergunte a qualquer muçulmano sobre separação entre religião e Estado e ele provavelmente pensará que está diante de um imperialista, um marciano ou um fugitivo do hospício. É inútil procurar algo semelhante nos paises islâmicos. Até mesmo regimes seculares do Oriente Médio tem um pé no Corão: no Egito, por exemplo, é proibido pregar abertamente outra religião que não a do Profeta (um pastor protestante brasileiro foi preso lá no ano passsado por distribuir bíblias!). O Islã é mais do que um conjunto de regras de conduta moral: é uma ideologia total, que abarca todos os aspectos da vida particular, assim como da política e da economia. Daí que falar em Islã "moderado" é, no minimo, um oxímoro (Islã radical, por sua vez, é um pleonasmo). É uma auto-ilusão, uma fantasia de intelectuais multiculturalistas e politicamente corretos.
Hoje, quando o Egito e boa parte do Oriente Médio estão numa encruzilhada depois da queda do ditador Hosni Mubarak (no que foi, em tudo menos no nome, um golpe de Estado, mas não é de bom-tom dizer), a tendência é ignorar esse fato. Cansei de ler comentários de pessoas ditas sérias celebrando a participação da Irmandade Muçulmana no novo governo de transição do Egito como uma mostra de que o país estaria entrando, enfim, numa nova era de "democracia". Esquecem que, com os islamitas, a primeira eleição democrática da qual sairão vitoriosos será tambem a última. Se alguém duvida, pergunte ao Hamas ou ao Hezbollah.
Um comentário:
De pleno acôrdo!
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