sábado, fevereiro 05, 2011

ATRAÇÃO PELO SUICÍDIO (OU: SALVANDO OS ESQUERDISTAS DELES MESMOS)


Pelotão de fuzilamento no Irã, 1979: muitos achavam que nada seria pior do que o Xá...
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Uma característica definidora da loucura é a falta total de senso de proporções. Alguém que mata uma pessoa a sangue-frio é um assassino. Quem faz o mesmo com dez, ou cem, ou mil, é dez, cem ou mil vezes assassino. O primeiro deve ser condenado pela morte que causou. O segundo, pelos dez, cem ou mil assassinatos que perpetrou. Ou, dito de outro modo: as penas devem ser proporcionais ao crime cometido. Isso é tão óbvio que seria imediatamente apreendido até por crianças de cinco anos, se crianças dessa idade tivessem idéia do que é um assassinato. Não pelo louco. Para este, tanto faz se se mata um ou cem, ou dez, ou mil, ou um milhão. Em seu cérebro perturbado, não existe qualquer diferença, nenhum sentido de proporcionalidade. Cortar um galho de árvore ou atear fogo a uma casa com os moradores dentro, para ele é tudo a mesma coisa.

Por mais que se explique, por mais que se mostre, por mais que se prove para um louco - no caso, um imbecil irremediável, incapaz de qualquer pensamento minimamente lógico - esse tipo de coisa, sempre haverá, infelizmente, quem prefira ignorar o óbvio e escolher, entre dois males, o pior. Nunca subestime a capacidade de certos espíritos de desprezar o perigo e de cavar seu próprio túmulo. Por burrice, estupidez, malícia ou oportunismo, não importa: sempre haverá quem corteje a própria ruína, a própria destruição. Qualquer pessoa sensata concluiria logo que é preciso proteger esses indivíduos deles mesmos, pois são como crianças. Totalmente irresponsáveis, não são capazes de cuidar de de si mesmos, que dizer dos outros. Débeis mentais ou loucos psicóticos, para usar a terminologia científica.

Fiz o preâmbulo acima porque, mais uma vez, os fatos parecem confirmar um padrão histórico, já tantas vezes repetido. Estou falando das manifestações no Egito. Escrevi aqui um post sobre o tema. Deixei claro - pelo menos, acredito que está claro no texto - que considero o regime de Hosni Mubarak uma ditadura, e que desprezo todas as ditaduras. Escrevi também que, malgrado esse fato, existe a possibilidade alarmante de que, uma vez derrubado o regime de Mubarak, algo muito pior - uma teocracia islamita - tome seu lugar no Egito, do mesmo modo que a queda do regime despótico do xá do Irã deu lugar à tirania muito mais opressiva dos aiatolás em 1979. Apontei para o fato de que fanáticos islamitas estão posando oportunitiscamente de democratas nas manifestações, com o intuito de impor sua própria tirania, muito pior do que a atual, e enterrar assim, definitivamente, qualquer esperança de democracia. E isso não só no Egito, mas na Tunísia, no Sudão, no Iêmen, na Jordânia, no Líbano - enfim, onde quer que haja radicais muçulmanos à espreita, prontos para tomar o lugar de autocracias seculares pró-ocidentais - e IMPEDIR QUE ESTAS SE TRANSFORMEM EM DEMOCRACIAS, é bom que se diga.

Pois não é que, em vez de entender o alerta acima, há quem veja no que eu disse uma contradição? Pior: uma defesa de Mubarak?
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Um tal de Pereira, por exemplo, que acredito seja o mesmo que tomou uns cascudos aqui outro dia, escreveu o seguinte sobre meu texto EGITO: O QUE ESTÁ EM JOGO (E AS BESTEIRAS QUE ANDAM DIZENDO POR AÍ):

Agora você está numa bela sinuca. Ou apóia Mubarak, um ditadura ou apoia a reinvidicação popular, mesmo que islâmica. Se escolher por Mubarak fica óbvio para mim e os demais leitores deste blog que você possui uma tendencia totalitária (ao contrário do que vem dizendo) e uma atitude contra o Islã e os religiosos mulçumanos.

O que passa no cérebro de quem produziu semelhante disparate? Para o tal Pereira, ao que parece, só existem duas alternativas no Oriente Médio: ditaduras seculares alinhadas ao Ocidente ou teocracias islamitas. Ou, no caso do Egito: Mubarak ou a Irmandade Muçulmana. E nada - absolutamente nada - entre um e outro. Nada mesmo. Democracia, por exemplo, nem pensar.

O rapaz não se dá conta, nem sei se tem a capacidade intelectual para compreender, mas, ao colocar a coisa nesses termos, confessou não acreditar em democracia no Oriente Médio. Para ele, ou é Mubarak ou é a Irmandade Muçulmana, e ponto final. E - afirma - escolher Mubarak seria mostrar uma "tendência totalítária (!) contra o Islã e os religiosos mulçumanos" (SIC) etc. Ou seja: o sujeito é tão inconsciente do que diz que, após confessar seu pouco apreço pela democracia naquela região, confessa em seguida sua preferência pela... Irmandade Muçulmana! Precisa dizer mais?

Ainda que - enfatizo o ainda que - a opção no Oriente Médio fosse entre os mubaraks e os fundamentalistas muçulmanos, está claro como água, para qualquer pessoa que tenha um mínimo de respeito à inteligência (para não falar em amor à própria vida), que uma ditadura secular e pró-ocidental é infinitamente menos nociva e menos perigosa do que uma teocracia islamita (ou seja: não deixa de ser algo ruim, mas é menos ruim, entenderam?). Se têm alguma dúvida, perguntem aos iranianos ou aos palestinos na Faixa de Gaza, que em 2006 viram uma ditadura secular brutal e corrupta (a do Fatah) substituída pelo reino de terror dos fanáticos do Hamas (surgido, aliás, da Irmandade Muçulmana).

Em 1979, muitos comunistas participaram, entusiasmados, da revolução popular que pôs fim à ditadura do xá do Irã. No dia seguinte, estavam todos na cadeia ou executados pelos pelotões de fuzilamento do regime fundamentalista xiita que se instalou em seguida. Eles também acreditavam que nada poderia ser pior do que o regime do xá. Negligenciaram o perigo do fundamentalismo islamita. Desse modo, cavaram sua própria sepultura.

Talvez ainda haja tempo de salvar a cabeça dos que acham que nada é pior para o Egito do que Mubarak. Mas, pelo visto, a atração dos esquerdistas pelo suicídio é realmente muito forte. É preciso salvá-los deles mesmos.

2 comentários:

Anônimo disse...

obrigada , porf gustavo, pelas aulas de sabedoria e de "paciencia"

seu blog me instrui muito- aqui muito aprendo
agradecida

Anônimo disse...

Gustavo, sua lógica agora me deixou confuso. Então no Egito deveria se manter uma ditadura sendo ela apoiada pelos EUA.
Agora em Cuba a ditadura " Castrista" não é aceita simplesmente porque " ha uma alternativa melhor ?" coisa que o Egito não tem ??? usando suas proporias palavras " Me parece uma forma de ofende-los".
A ditadura de Mubarak não oferece risco aos EUA porque se aliou a ele, já a ditadura iraniana e cubana são autônomas e por isso oferecem risco a hegemonia americana.