segunda-feira, novembro 22, 2010

EU, O "PROTO-FASCISTA"


Estava demorando. Cedo ou tarde, quem se atreve a desafiar os dogmas esquerdistas e politicamente corretos, ou simplesmente pensar com os próprios neurônios e não balir como o resto da manada, será brindado com o adjetivo infamante. Basta encostar um da fauna na parede, usar um pouco de lógica e, pronto! A palavra odiosa, previsível como o nascer do sol, será urrada em sua cara: “Fascista!”

A minha vez de conhecer a Lei de Godwin - aquela que diz que, quanto mais longo um debate, maior a probabilidade de alguém lhe chamar de nazista ou fascista - aconteceu há alguns dias. Foi num site de um conhecido meu, o Pablo Capistrano, velho conhecido deste blog. Pablo não é nenhum militante comunista (pelo menos não que eu saiba), não é membro do PSTU ou do PCO (bom, acredito que não, mas sei lá...). Se fosse algum desses quadrúpedes a me xingar, eu nem ligaria, daria algumas risadas e pronto. Ofensas e xingamentos dessa turma apenas me divertem.
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O problema é que quem assim me rotulou foi um intelectual, reconhecido por alguns como tal, um professor de filosofia, que se apresenta como uma pessoa equilibrada, relativista, pós-moderna, portanto “neutra” e “imparcial” em suas observações sobre política etc. Enfim, alguém que até já brigou comigo porque eu o chamei, certa vez, de chester por não querer sair de cima do muro filosófico e se assumir de vez como esquerdista.

Pablo votou em Dilma. Mais que isso: fez, em seu site e à sua maneira, campanha para a criatura de Lula. Chegou a escrever um texto tachando de “fundamentalismo de direita” a denúncia do flip-flop da Camarada Estela na questão do aborto, e denunciando uma suposta conspiração das forças das trevas, que estariam interessadas na “desconstrução da mulher”... Sempre com argumentos, como eu poderia dizer?, muito filosóficos e sofisticados, politicamente corretos, até poéticos. Um bom-moço, poder-se-ia dizer.

Pois foi esse mesmo cara “neutro” e “equilibrado”, filosoficamente sofisticado, que primeiro se recusou a responder a duas perguntas que eu fiz, que podem ser assim resumidas: 1) por que, se a política macroeconômica de FHC foi uma porcaria, os lulo-petistas se esforçaram tanto por mantê-la? e 2) eu detesto todas as ditaduras, será que meu interlocutor poderia dizer o mesmo?

Foi também esse modelo de correção política e de honestidade intelectual que, além de não responder a nenhuma de minhas indagações, fez questão de adicionar a seu silêncio a injúria e a calúnia, ao dizer: “acho que você não é contra todo tipo de ditadura não, você já mostrou ser condescendente com a ditadura de Pinochet aqui mesmo nesse [sic] espaço.”

Ao ler a frase acima, um calafrio percorreu minha espinha, fui acometido por um súbito temor: teria eu, em um momento de insanidade temporária, escrito alguma palavra a favor de Pinochet? Tratei então de procurar avidamente onde, quando, eu teria dito tal absurdo. Já estava pronto a rezar trezentas aves-marias ajoelhado no milho me flagelando e assistir cem vezes ao último discurso de Dilma Rousseff em punição por tamanho pecado, mas não encontrei nada (já declarações mais do que condescendentes, coniventes, de Pablo em relação à tirania dos irmãos Castro em Cuba, encontrei aos montes).

Pois bem. Desafio qualquer um, a começar pelo autor da frase, a dizer em que texto, em que parágrafo, em que linha, em que frase eu digo uma palavra sequer que possa ser interpretada como “condescendente” com a ditadura de Pinochet. Estou pensando até em criar um prêmio para quem conseguir essa façanha.

A coisa não parou por aí, não. Depois de ter insinuado que eu apoiaria (sempre no condicional) regimes que matam e torturam, golpes etc., Pablo resolveu mostrar-se um especialista em liberalismo, duvidando de minhas credenciais liberais. Ele saiu-se com essa:

“Eu particularmente acho seu discurso proto-fascista.”

Nem vou perder meu tempo analisando o absurdo da afirmação acima, feita por um esquerdista. Basta lembrar, para quem tem um minimo de curiosidade histórica, o pacto Hitler-Stálin de não agressão de 1939 ou ler o capitulo “As Raízes Socialistas do Nazismo”, do clássico O Caminho da Servidão, de F. Hayek, para constatar que comunismo e fascismo não são exatamente antípodas irreconciliáveis. Vou me concentrar apenas no que eu disse.
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Por que será que Pablo me chamou assim? Porque, entre outras coisas, afirmei o seguinte:
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- O governo Lula (e agora, Dilma) é de esquerda (Pablo acha que não é de esquerda o bastante);

- FHC, Serra e o PSDB também são de esquerda (como eles mesmos fazem questão de dizer, mas ele também acha que não);

- O Foro de São Paulo existe (Pablo acredita que é uma fantasia paranóico-conspiracionista – “da direita”, claro...);

- A China é uma ditadura comunista (Pablo acha que não é – estou esperando ele me dizer o que seria, então);

- Democracia é pluralidade de idéias, não uniformidade ideológica (Pablo gostaria que fosse um concurso de esquerdismo – como são há anos as eleições no Brasil, aliás);

- Os ideais de liberdade e de democracia são universais (Pablo pensa que são um instrumento do “imperialismo ocidental”...).

Pois é, meus amigos... Viram como eu sou um mau elemento, nocivo e perigoso para a sociedade? Por dizer isso que está aí em cima, eu sou um – vejam só – “proto-fascista”...

Depois disso, é desnecessário dizer qualquer coisa. Mesmo assim, vou exigir provas de acusações tão severas. Mesmo sabendo que esperarei em vão por tais provas, assim como esperei em vão por respostas a minhas perguntas.

Em outras palavras, como eu sou um "proto-fascista" por ter dito o que vai acima, fica decretado, portanto, o seguinte:

1 - Qualquer um que discordar da esquerda, que disser um pio que seja contra Lula e Dilma, é um fascista, nazista, chauvinista, racista, machista, anti-pobre, anti-nordestino, agente da CIA, membro da TFP, do Opus Dei e da Ku Kux Klan.

2 – Qualquer um que denunciar os desmandos da quadrilha cleptolulista, ou a política externa pró-ditaduras do governo Lula, ou o aparelhamento das instituições, ou os objetivos totalitários contidos no PNDH-3, é um criminoso do pensamento e deverá ser imediatamente detido e enviado, algemado, a um campo de reeducação ideológica na Amazônia. Afinal, trata-se de um elemento perigoso, um verdadeito representante das classes dominantes e inimigo do povo...

Como eu disse aqui outro dia, o Brasil está ficando um país cada vez menos tolerante. E cada vez mais burro.

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