A coisa mais chata que existe é o militante. Ou "militonto", como costumo dizer. Seja de que causa for - nacionalista, vermelho, negro, verde, gay, feminista -, o militante é, sempre, um chato. Um chato que não admite um mundo onde não existam chatos iguais a ele. Um chato incapaz de ter uma visão universal das coisas e que, por isso, insiste em reduzir tudo e todos a guetos e rótulos políticos. Um chato de galochas, o pior tipo de chato - aquele que não se contenta em ser chato sozinho, em guardar sua chatice para si.
Sou, por instinto, radicalmente contrário a reduzir o indivíduo - a coisa mais complexa do mundo, cheia de virtudes e defeitos - a grupos estanques, como se o sujeito, por ter esta ou aquela opção sexual ou gostar deste ou daquele tipo de comida, fosse obrigado, por esse motivo, a só se relacionar com quem tenha os mesmos gostos e opções, ou tentar converter o restante da humanidade às delícias de uma vida gay ou do vegetarianismo. Longe de mim esse cálice, como diria outro muito maior do que eu. Há quem diga, "tenho amigos gays", e encha o peito, posando de "moderno" e "tolerante". Não penso assim. Tenho amigos gays, e inclusive esquerdistas, e sou amigo deles porque são meus amigos, não porque são gays ou esquerdistas. Para mim, amizade não se confunde com gosto ou cor política. Sou contra todas as militâncias, inclusive - aliás, principalmente - a militância disfarçada, diluída num bom-mocismo de telenovela. Sou inclusive contra a militância dita liberal ou conservadora, supostamente pró-indivíduo. Sou um indivíduo, não um carregador de bandeira.
Por que estou dizendo isso? Porque, entre outras coisas de que já fui chamado por parte de quem estava do outro lado do debate, e que não entendeu nada, está o adjetivo infame, "militante". "Militante de direita", para não repetir, aqui, outras coisas que já me disseram quem acha que me conhece melhor do que eu mesmo. E isso porque falo mal do governo Lula e da ditadura dos irmãos Castro em Cuba, entre outras coisas. A "lógica", aqui, é a seguinte: "não é de esquerda? então só pode ser militante de direita!" E aí vem uma torrente de adjetivos carinhosos: "cruzado", "reacionário", "golpista", "agente da CIA", "lacaio de Wall Street" e assim por diante.
Não, bobão! Nada disso! Não sou "militante" de direita, pelo mesmo motivo pelo qual descobri, há uns quinze anos, que não sou militante de esquerda (ou militante de coisa nenhuma). Sou, aliás, o anti-militante por excelência. Descobri, a duras penas, que é a opinião do indivíduo, não a das multidões, a que verdadeiramente importa. Não me chamem para desfilar na rua empunhando uma bandeira ou vestindo a camisa de um partido. Sou um indivíduo, não parte da manada. Prefiro desafinar a fazer parte do coro. Remo contra a corrente. É precisamente esse o significado do nome que escolhi para este blog, "Do Contra". Entenderam?
Concordam comigo? Ótimo, maravilha. Não concordam? Bom do mesmo jeito. Não estou aqui para catequizar ninguém, mas para debater. E debate, ao que me consta, é feito de idéias discordantes e divergentes. Quando duas ou mais pessoas concordam 100% entre si, não há debate, há consenso. E o consenso, na quase totalidade dos casos, é a ausência de pensamento. Não quero que concordem com tudo, nem com a metade, nem com um terço do que eu digo: quero debater. Só isso. E debater é discordar. O consenso total só existe nos cemitérios.
Por exemplo, tenho minhas próprias idéias sobre religião, sexo e política, mas não faço questão de que ninguém concorde com elas. Acontece às vezes de essas idéias, principalmente sobre política, coincidirem com as da "direita" - como indivíduo, não posso ver com bons olhos, por exemplo, um Estado intervencionista e totalitário, tampouco a condescendência com tiranias -, e, nesses casos, já estou acostumado a ser coberto de rótulos pelos militontos esquerdistas e lulistas, eles mesmos especialistas em rotular quem não concorda com suas teses antidemocráticas. Já mandei avisar: se querem me chamar de "direitista" por ser crítico do PT e não esconder de ninguém minha aversão ao comunismo (e a seu irmão gêmeo, o fascismo), podem chamar que eu não ligo. Prefiro isso a ser chamado de pró-totalitário e defensor de Fidel Castro e de Ahmadinejad.
Não é por me colocar no lado oposto dos adoradores de Stálin e Che Guevara que vou deixar de defender certas posições que não coadunam, pontualmente, com o que essa mesma esquerda patrulheira e intolerante convencionou chamar de uma visão direitista ou conservadora. Sou, por exemplo, ateu. Também não vejo como o fim do mundo a adoção de crianças por casais homossexuais. Ou as pesquisas científicas com células-tronco. Nem por isso, porém, vou concordar com absurdos como a criminalização da liberdade religiosa. Nem deixar de denunciar, na medida do possível, as tentativas de policiamento politicamente correto para instaurar uma ditadura mental de gays e outras minorias. Estou sendo contraditório? Não! Estou sendo um indivíduo, ora essa! E um indivíduo age conforme sua consciência, não para ajustar-se ao que outros pensam. Prezo, acima de conveniências ideológicas, a liberdade individual.
A liberdade de pensamento é exclusiva dos indivíduos, sujeitos livres que escolheram ter suas próprias opiniões, não a de grupos, sem medo de desagradar a ninguém. Nesses tempos cada vez mais politicamente corretos, em que ter uma opinião é sinônimo de grosseria e falta de educação, e em que a ânsia de estar de acordo com a maioria e acompanhar o rebanho adquiriu ares de verdadeira neurose e imperativo moral, não há como ser um indivíduo e não estar em minoria. Isso, certamente, não faz de mim um militante. Mas faz de mim um ser que pensa.
Um comentário:
Rapaz... Gostei do texto!
Eu sempre me disse (e continuo me dizendo) "militante ateu". Mas, na verdade, meus textos costumam ser bem parecidos com os seus.
Tudo o que quero com meus textos é fazer com que as pessoas PENSEM POR SI MESMAS a partir das questões que levanto. Até porque, pensar por si é algo que está cada vez mais raro hoje em dia... :/
Enfim, não conhecia o blog. Mas gostei! Parabéns!
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