Primeiro foi a gritaria dos petralhas, repetida pela imprensa com eles mancomunada: “Lula é o líder mais influente do mundo, segundo a Time”, disseram os mais afoitos, felizes da vida pelo nome do Chefe ter sido lembrado numa revista do istranjêru. Depois, questão de horas, baixaram um pouquinho a bola, quando viram que a lista dos “mais influentes” publicada todos os anos pela revista norte-americana, que neste ano apresenta Luiz Inácio como o primeiro da lista, não segue um ranking, e seu nome só foi colocado no topo por questões editoriais. Enfim, ele não é “o” mais influente, mas “um dos”, segundo a revista, juntamente com figuras como Sarah Palin, Glenn Beck e Nancy Pelosi. Agora, a brochada final: adivinhem quem escreveu o panegírico a Lula na Time? Michael Moore, o cineasta...
Aliás, vale lembrar: “O Cara” é realmente muito influente, o mais influente entre os influentes do mundo. Tão influente que não consegue emplacar seu golpista de estimação numa grande potência como Honduras. Ou frear as maluquices totalitárias do coronel Hugo Chávez. Ou convencer seus amigos Fidel e Raúl Castro a libertarem presos políticos, que ele comparou a bandidos. Um verdadeiro peso-pesado da política mundial. E um gigante moral.
Para que não fiquem dúvidas sobre a grandeza do Guia Genial das Galáxias, cantado em prosa agora pelo mestre do gênero documentário-ficção norte-americano, resolvi traduzir o artigo de Moore na Time. O texto dele vai em vermelho. Meus comentários vêm em seguida.
Quando os brasileiros elegeram Luiz Inácio Lula da Silva Presidente pela primeira vez em 2002, os barões ladrões do país verificaram nervosamente os tanques de gasolina de seus jatos particulares. Eles tinham transformado o Brasil em um dos lugares mais desiguais da Terra, e agora parecia que eles teriam o troco.
De que “barões ladrões” (robber barons) Michael Moore estaria falando? Certamente não os ultra-bilionários banqueiros que encheram as burras graças ao apoio generoso do governo nos tempos de Lula. Seriam os representantes daquela nova classe social, composta de companheiros de partido e da elite sindical, que se apossaram de parcelas significativas do Estado, e que passaram a ser conhecidos como “burguesia do capital alheio”? Não, acho difícil. O mais provável é que Michael Moore esteja aqui apenas exercitando um de seus esportes favoritos: a denúncia demagógica, do tipo “luta de classes”.
De que “barões ladrões” (robber barons) Michael Moore estaria falando? Certamente não os ultra-bilionários banqueiros que encheram as burras graças ao apoio generoso do governo nos tempos de Lula. Seriam os representantes daquela nova classe social, composta de companheiros de partido e da elite sindical, que se apossaram de parcelas significativas do Estado, e que passaram a ser conhecidos como “burguesia do capital alheio”? Não, acho difícil. O mais provável é que Michael Moore esteja aqui apenas exercitando um de seus esportes favoritos: a denúncia demagógica, do tipo “luta de classes”.
Lula, 64 anos, era um genuíno filho da classe trabalhadora da América Latina – de fato, um membro fundador do Partido dos Trabalhadores – que já tinha sido encarcerado por liderar uma greve.
Sim, um genuíno filho da classe trabalhadora – assim como Stálin também era. Ou, para falar de alguém de que Moore certamente já ouviu falar, Nixon. E sim, ele é membro fundador do PT – foi bom Moore ter nos lembrado disso.
Sim, um genuíno filho da classe trabalhadora – assim como Stálin também era. Ou, para falar de alguém de que Moore certamente já ouviu falar, Nixon. E sim, ele é membro fundador do PT – foi bom Moore ter nos lembrado disso.
A propósito: a tal prisão de Lula, quando ele liderava uma greve, ocorreu em 1980, quando o país há muito já deixara, na prática, de ser uma ditadura, sendo, no máximo, uma ditabranda. Ele ficou 30 dias preso, numa sala da Polícia Federal em São Paulo, sem que lhe tocassem num fio de barba. Num surto de picaretagem, chegou a aderir, contra a vontade, a uma "greve de fome", na verdade um jejum de três dias, que ele suportou, galhardamente, comendo balas Paulistinha que ele havia escondido debaixo do travesseiro. Muito diferente de Orlando Zapata Tamayo, o preso de consciência cubano que definhou até morrer, após 86 dias de greve de fome contra a ditadura dos irmãos Castro em Cuba, e que Lula, em sua infinita sensibilidade e sabedoria, culpou pela própria morte... Esse é Lula, o verdadeiro, não o da fábula contada por Michael Moore.
Quando Lula finalmente ganhou a Presidência, depois de três tentativas fracassadas, ele era uma figura familiar na vida nacional brasileira. Mas o que o levou à política em primeiro lugar? Foi seu conhecimento pessoal de quão duro muitos brasileiros devem trabalhar apenas para sobreviver? Foi ter sido forçado a abandonar a escola depois da 4ª série primária para sustentar a família? Foi ter trabalhado como engraxate? Foi ter perdido um dedo num acidente de fábrica?
Não, foi quando, com a idade de 25 anos, ele viu sua esposa Maria morrer no oitavo mês de gravidez, juntamente com seu filho, porque ele não poderia proporcionar tratamento médico decente.
Hummm... Não sei se Michael Moore assistiu à patacoada hagiográfica Lula, o filho do Brasil, o mais caro e estrondoso fracasso de bilheteria da história do cinema brasileiro. Mas o que ele diz aqui parece ter sido tirado diretamente do roteiro do filme dos Barreto. Segundo diz Moore, Lula teria entrado na política por puro altruísmo, depois de ter perdido a primeira esposa e o bebê, para que todos pudessem ter um “tratamento médico decente” e não passassem pelo mesmo sofrimento. Tocante, não? Seria, se não fosse por alguns detalhes históricos, que Moore estranhamente se omite de citar: quando Lula tinha 25 anos, corria o ano de 1970 (ele nasceu em 1945) - ele entra para o sindicato em 1975. Para a política, mesmo, só entra em 1980, quando funda o PT. Nessa época, ele já estava casado pela segunda vez com uma “viúva jeitosinha”, como ele mesmo disse em entrevista. Nesse meio tempo, tentou se manter afastado da política, só se tornando Lula depois das greves do ABC paulista. Entrou para a política porque, como em tudo na sua vida, surgiu a oportunidade. Inclusive de subir na vida.
Há uma lição aqui para os bilionários do mundo: deixem as pessoas ter bom tratamento médico, e elas vão dar muito menos trabalho para vocês.
Confesso que achei esse parágrafo enigmático. O que MM quis dizer exatamente? Que os “bilionários” devem tratar bem as pessoas, com saúde gratuita e de qualidade, para que elas não se voltem contra eles depois? Mas Lula não é o queridinho dos bilionários branquelos de Davos? Admito que fiquei confuso... Quase tão confuso quanto depois que perdi duas horas assistindo a Fahrenheit 9/11.
E eis uma lição para o resto de nós: a grande ironia da Presidência de Lula – ele foi eleito para um segundo mandato em 2006 e vai exercer o poder até o final deste ano – é que mesmo quando ele tenta impelir o Brasil para o Primeiro Mundo com programas sociais governamentais como o Fome Zero, destinado a acabar com a fome, e com planos de melhorar a educação disponível para membros da classe trabalhadora do Brasil, os EUA parecem cada vez mais com o velho Terceiro Mundo a cada dia.
Confesso que achei esse parágrafo enigmático. O que MM quis dizer exatamente? Que os “bilionários” devem tratar bem as pessoas, com saúde gratuita e de qualidade, para que elas não se voltem contra eles depois? Mas Lula não é o queridinho dos bilionários branquelos de Davos? Admito que fiquei confuso... Quase tão confuso quanto depois que perdi duas horas assistindo a Fahrenheit 9/11.
E eis uma lição para o resto de nós: a grande ironia da Presidência de Lula – ele foi eleito para um segundo mandato em 2006 e vai exercer o poder até o final deste ano – é que mesmo quando ele tenta impelir o Brasil para o Primeiro Mundo com programas sociais governamentais como o Fome Zero, destinado a acabar com a fome, e com planos de melhorar a educação disponível para membros da classe trabalhadora do Brasil, os EUA parecem cada vez mais com o velho Terceiro Mundo a cada dia.
O que Lula quer para o Brasil é o que costumávamos chamar de Sonho Americano. Nós nos EUA, por contraste, onde os 1% mais ricos possuem mais riqueza financeira do que os 95% mais pobres juntos, estamos vivendo numa sociedade que está rapidamente se tornando parecida com a do Brasil.
MM não perde a chance de fazer sua demagogiazinha. Depois de torcer os fatos até não poder mais em filmes como Fahrenheit 911 – em que praticamente acusa os Bush pelos ataques de 11 de setembro –, ele agora aproveita para destilar seu discurso embolorado de “ricos contra pobres” (com ele, acionista da Halliburton, no papel de porta-voz dos “pobres”, claro...). E arrebata, com ares de quem achou o Messias esperado: “O que Lula quer para o Brasil é o que costumávamos chamar de Sonho Americano”. Mais uma vez: ou ele não sabe quem é Lula ou não tem a menor idéia do que seja o Sonho Americano. Se este significa vencer na vida pelos próprios méritos, sem politicagem nem demagogia, sem parcerias repulsivas, nem culto à própria ignorância, com sentido de ética e decência, com base no compromisso com a democracia dentro e fora de casa, então Lula pode ser qualquer coisa, menos um exemplo do Sonho Americano realizado. Ele é exemplo, sim, para uma legião de oportunistas e carreiristas da política, que a vêem como uma oportunidade de negócios. E para milhões de enganados e iludidos que babam em ver a foto de seu Guia e Líder nas páginas da Time.
Mas numa coisa pelo menos MM tem razão: os EUA estão a cada dia mais parecidos com um país de Terceiro Mundo como o Brasil. Principalmente depois que elegeram um presidente como Barack Obama, a versão afro-descendente do Filho de Dona Lindu.
Mais uma prova de que muita gente nos EUA, inclusive os que escrevem na Time, não tem a menor idéia de quem é Luiz Inácio: na lista dos “heróis”, publicada na mesma edição da revista, constam os nomes, entre outros, de Mir-Hossein Moussavi e de Zahra Rahnavadi, respectivamente o candidato derrotado nas eleições (fraudadas) do Irã no ano passado, vencidas (fraudulentamente) por Mahmoud Ahmadinejad, e uma importante ativista pelos direitos humanos no Irã. O que Lula tem a dizer dessas pessoas? Ele já disse, no ano passado, quando comparou os protestos pela fraude e a repressão no Irã a uma briga de torcidas de futebol. Desde então, Lula vem sendo o mais ardoroso aliado e defensor de Ahmadinejad e de seu programa nuclear secreto "para fins pacíficos". É, Michael Moore, você tem razão: o que Lula quer para o Brasil é mesmo o “sonho americano”. Com a diferença de que a capital dos EUA, agora, mudou-se para Teerã.
Não há limites para a caipirice dos megalonanicos, assim como não há limites para sua mitomania. Mas também, para quem já falsificou até foto de Dilma Rousseff em seu blog oficial, para que ela ficasse com a cara da atriz Norma Benguell nos anos 60, uma mentira a mais não faz diferença.
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