Confesso que relutei um pouco antes de escrever sobre este assunto. Afinal, as eleições municipais, mesmo em uma cidade como São Paulo, estão longe de ser a prioridade na minha lista de temas preferidos. Além do mais, como vocês verão, o nível de sordidez e de podridão geralmente associado a esse tipo de campanha, principalmente no segundo turno, é algo capaz de fazer revirar até o mais forte dos estômagos. Mas, diante dos ensinamentos que daí podem advir, creio ser necessário tapar o nariz e remexer nesse lamaçal.
Uma inserção no rádio e na TV da candidatura de Dona Marta "relaxa e goza" Suplicy à prefeitura de São Paulo, veiculada no domingo, dia 12, questiona vários aspectos da vida pregressa do candidato adversário, Gilberto Kassab, terminando com as seguintes perguntas sobre ele: "é casado? tem filhos?" A propaganda levanta subliminarmente uma série de dúvidas sobre a vida pessoal de Kassab. A insinuação de que ele seria homossexual é evidente. Baixaria pura.
Não tenho nenhuma simpatia por Kassab. Se ele é gay ou não, não me interessa. É algo que diz respeito a ele somente, e a mais ninguém. Aliás, é assim que deve ser nesses casos: a preferência sexual é assunto particular, não deveria ser utilizada como bandeira política, nem contra, nem a favor. Justamente por isso, está mais do que óbvio que o candidato do DEM foi vítima de uma das demonstrações mais abjetas de preconceito que se viu nas eleições nos últimos anos no Brasil. E logo da parte de Marta Suplicy, que se lançou na política como defensora dos direitos das mulheres e dos homossexuais. Uma mulher de "vanguarda", psicóloga e sexóloga, sem medo de enfrentar tabus e preconceitos... Estes seriam representados pela "direita", pelos Malufs e Pittas da vida, jamais pelo PT, esse partido, como se sabe, de gente linda e maravilhosa, avançada e de cabeça aberta... Tudo conversa mole, como se vê agora.
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Confrontada com o que passou no rádio e na TV, Marta agiu como uma legítima petista, dizendo que "não sabia" da campanha (lembra alguém?), mas a aprovava assim mesmo. Ela afirma que o eleitorado tem o direito de saber sobre a vida política do candidato adversário, inclusive de sua vida pessoal. Quando indagada, porém, sobre seu casamento com o argentino Belisario Wermus, vulgo Luís Favre, ela se mostra indignadíssima. E olhem que nada do que se disse na imprensa sobre sua ultra-badalada separação e casamento chegou perto, em vulgaridade e preconceito, das insinuações sobre a vida privada de Kassab. Nada mesmo.
Assim é essa gente: durante décadas, proclamaram-se os donos do monopólio da ética e da virtude, os bambambãs, os gostosões, verdadeiros santos, moralmente superiores até ao Papa. Agora, reivindicam para si também o monopólio do insulto e da baixaria, e até do direito a sentir-se ofendido. É o vale-tudo em sua forma mais descarada. Nada mais típico do modo petista de ser e de agir.
Ao questionar a vida privada de Kassab, levantando dúvidas sobre sua sexualidade, a petista Marta Suplicy caiu na armadilha que ela mesma criou: se Kassab não for gay, estarão caracterizadas a calúnia e a difamação, crimes tipificados no Código Penal brasileiro; se for, pior ainda - Marta será desmascarada como uma homofóbica e uma farsante. O que os gays que apóiam Marta e o PT dirão de uma coisa dessas?
Com a campanha de Marta Suplicy em São Paulo contra Kassab, o PT se iguala a Fernando Collor que, em 1989, em um golpe baixíssimo, usou uma ex-namorada do então candidato - do PT - Luiz Inácio Lula da Silva para tentar atingi-lo em sua vida pessoal. Até hoje, os petistas e seus simpatizantes lembram o caso com asco e nojo, como exemplo de quão baixo pode chegar um candidato sem escrúpulos para ganhar eleições. Ouso dizer, porém, que o caso de Marta em São Paulo é pior. Collor, com todos os seus defeitos, jamais posou de bom-moço defensor de causas das minorias, inclusive dos homossexuais, para, diante da possibilidade de perder as eleições, apelar para o mesmo preconceito vulgar que sempre disse combater. Marta usou os gays para projetar-se na política; agora, para cortejar o voto dos evangélicos, apela para a mais rasteira homofobia. Caiu mais uma máscara dos petistas (a propósito: Collor, hoje senador, é aliado de Lula).
A hipocrisia dos petralhas realmente não tem limites. Corre atualmente no Congresso um projeto de lei que criminaliza a "homofobia". É uma lei idiota, que é apresentada por seus defensores como um "avanço dos direitos humanos", mas visa unicamente a criminalizar a liberdade de expressão e de pensamento, tornando ilegal até uma piada de bar. Pois bem. Adivinhem quem é a autora do projeto: uma deputada petista. Para esse pessoal, os gays, ou qualquer outra minoria - negros, índios, nordestinos etc. - só existem como massa de manobra, nunca como indivíduos. E o preconceito é uma arma que utilizam, sempre que lhes for conveniente, para achincalhar reputações alheias. Os petistas sempre podem descer mais um degrau em safadeza.
A baixaria da campanha petista em São Paulo revelou a hipocrisia e o duplo padrão moral do partido de Lula. O PT chegou ao fundo do poço. E ameaça arrastarnos todos junto com ele.
Simplesmente nojento.
Um comentário:
Gustavo, vim aqui após ler seu comentário no site do Pablo Capistrano. Acabei de ler seu post sobre a campanha que a candidata Marta tem feito em São Paulo usando de meios repudiosos a suposta orientação sexual gay do outro candidato como forma de atingir sua imagem, logo ela que lutava na Câmara dos deputados por uma legislação que atendesse os direitos da comunidade GLBTT, mas enfim, como o Pablo mesmo se referiu não é de hoje que existe dissimulação na politica. A questão que me trouxe aqui, foi especificamente em relação à seu comentário, sobre a postura da propaganda de Micarla contra a deputada Fátima Bezerra. Como vc mesmo falou , não acompanhou a campanha, e deve desconhecer a Deputada Fátima para tal perspectiva. Fátima é homossexual, lésbica assumida, uma das líderes da bancada da câmara pelos direitos GLBTT. Nunca casou-se com homem, nem tem filhos. Então o problema do discurso de Micarla, não se deu porque Micarla é de direita e Fátima de esquerda, até porque a oposição nessa campanha era de Micarla , pois Fátima detinha o apoio do atual prefeito, da governadora e do presidente da república. O real absurdo foi exatamente pela tentativa de desvalorização da capacidade e do carater de Fátima mediante o fato dela ser lésbica. Num discurso moralista e preconceituoso em que sem muitas subliminaridade Micarla palestrava: " Sou mãe, sou mulher" (e só uma mãe pode entender o que é melhor para seus filhos...)
o "sou mãe, sou mulher" era um claro : Sou hétero, sou hétero.
bem, espero ter esclarecido um pouco essa questão. Um abraço
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