quinta-feira, outubro 30, 2008

SANTO BARACK INÁCIO OBAMA DA SILVA

"Se Obama não ganhar as eleições, os Estados Unidos vão decair como as torres do 11 de Setembro". A frase, histérica e apocalíptica, é de Arnaldo Jabor, no Jornal da Globo de ontem, dia 29. Eu já me preparava para dormir quando fui surpreendido por essa afirmação retumbante de Jabor, feita em seu costumeiro estilo teatral e histriônico. Sua fala veio logo após uma extensa reportagem sobre Barack Obama, e como os americanos - principalmente os negros - o amam e o veneram. Jabor entrou de cabeça na obamamania. "Obama é o jazz, é o novo, é a inteligência, é o humanismo, é a liberação sexual, é os anos 60", entoava o ex-cineasta de vanguarda, quase em êxtase, contrapondo o democrata ao "obscurantismo" dos republicanos. Uma demonstração de idolatria e de tietagem explícitas. Ave, Obama!

Faltam cinco dias para as eleições presidenciais nos EUA. E, desconfio cada vez mais, os americanos - e o mundo - estão prestes a cair num enorme conto-do-vigário. Não, não me refiro apenas à quantidade de auto-ilusão que costuma acompanhar grande parte do eleitorado, em qualquer eleição, em qualquer país, a que quase sempre se segue uma ressaca cívica monumental. É do jogo. Não importa quem seja vitorioso, a desilusão provavelmente será a mesma. Refiro-me, isso sim, à enormidade do mito criado em torno do personagem Barack Obama, que, ao contrário de McCain, permanece um enigma envolto num mistério. Em minha opinião, se ele, Obama, for eleito, os americanos irão colocar um completo desconhecido na Casa Branca. Vão dar um salto no escuro (sem trocadilho).

Nas últimas semanas, a campanha de John McCain passou a engrossar o discurso contra Obama, apostando no que os marqueteiros chamam de "propaganda negativa" (e os defensores de Obama preferem chamar de "campanha do medo"). Passaram a centrar fogo, principalmente, numa questão que causa arrepios ao cidadão americano médio, branco e protestante: afinal, Obama é muçulmano?
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A meu ver, essa é a menor das dúvidas a respeito do candidato democrata. Como bem disse o ex-secretário de Estado (republicano) Colin Powell, ao anunciar seu apoio a Obama, não há nada de fundamentalmente errado em ser muçulmano. De fato, não há, assim como não há nenhum problema em ser judeu, ou budista, ou ateu, ou crer em gnomos. Há problema, isso sim, em ser mentiroso. E Barack Hussein Obama tem sido tudo menos transparente em relação a um número não desprezível de fatos de sua biografia. A começar por seu verdadeiro local de nascimento. Afinal, ele nasceu no Havaí ou no Quênia? Por que ele se recusa a mostrar sua certidão de nascimento, conforme lhe foi solicitado judicialmente por um advogado, aliás democrata? Ele concorda ou não com Jeremiah Wright? Se não, por que esperou mais de vinte anos para romper com ele, e somente às vésperas das eleições mais importantes de sua vida? Qual é exatamente sua relação com o terrorista William Ayers? E com o vigarista sírio Tony Rezko? Ele deu ou não dinheiro ao genocida queniano Raila Odinga? Se Obama é tão moderado e inofensivo quanto diz e como gostam de pensar seus apoiadores, por que recebe o apoio tão entusiasmado do extremista islamita Louis Farrakhan, e até de Ahmadinejad? Até o momento, há mais perguntas do que respostas, mais dúvidas do que certezas.
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Não são questões sem importância, convenhamos. Vamos supor que Obama seja, realmente, muçulmano, como insinuam muitos que votarão em McCain. Como disse Colin Powell, que problema haveria? Seria mais uma prova de que os EUA são um país tolerante e pluralista - exatamente o oposto do que dizem os antiamericanos, muitos dos quais, aliás, apóiam Obama. O problema é que não se sabe ao certo quem é Obama, que se diz cristão, mas não o diz claramente, e cujo sobrenome do meio, "Hussein", só aumenta as dúvidas. Seria bom se ele viesse a público e esclarecesse essas questões de uma vez por todas. Até mesmo para eliminar certos preconceitos e rumores. Se ele dissesse, com todas as letras, que é um devoto de Maomé e que nasceu na África, poderia até perder as eleições, mas estaria dando uma prova de honestidade - aí sim, histórica. Isso é o mínimo que se espera de alguém que pretende assumir a presidência do maior país do planeta. Sem falar que seu silêncio apenas alimenta as especulações, muitas delas, vá lá, movidas por preconceito. Então, por que ele se cala?

A quantidade de perguntas sem resposta - e de perguntas que simplesmente não são feitas - sobre quem é e o que realmente quer Obama, além do endeusamento de sua figura, lembram inevitavelmente um filme - e um protagonista - que nós, brasileiros, já conhecemos. Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva elegeu-se presidente da República com base em um discurso "Lulinha Paz e Amor", reelegendo-se em 2006, embalado por um culto de sua personalidade jamais visto na história do Brasil. Na ocasião, o Foro de São Paulo, criado por Lula e Fidel Castro, já existia há mais de uma década, com o PT e as FARC convivendo harmoniosamente nas reuniões do foro. No entanto, o assunto foi completamente ignorado pelos meios de comunicação durante a campanha, inclusive pelos demais candidatos. Como ignoradas foram também as denúncias de corrupção nas cidades administradas pelo PT, que remontavam a 1996, e o caso Celso Daniel. Nos dois casos - Lula e Obama -, a chantagem mental era e é óbvia: quem ousasse tocar nesses assuntos seria imediatamente tachado de paranóico e reacionário, assim como quem ousar fazer as perguntas elencadas acima sobre Obama será automaticamente chamado de racista e nazista. Tivesse a imprensa brasileira feito seu dever de casa, cumprindo a função básica de informar, ao invés de cantar loas ao "presidente-operário", muito do que se viu depois teria sido evitado. Certamente, não teria havido Zé Dirceu, nem mensalão, nem aloprados, nem Palocci, nem a "república de Ribeirão Preto", só para citar os escândalos mais conhecidos. Mas aqui, como lá, pouca gente parece estar interessada na verdade.

Assim como Lula nas duas vezes em que foi eleito, Obama já está eleito de antemão, não pelo que ele é ou defende, mas pelo que se espera que ele seja - o anti-Bush, o anti-republicano por excelência. Nunca na história dos EUA, como nunca na história deztepaís, alguém foi brindado com um apoio tão explícito dos meios de imprensa, nunca se depositou tanta esperança em um candidato com slogans tão vagos. Obama tem baseado sua campanha numa única palavra: change ("mudança"). O.k., mas que mudança? Hitler e Stálin também falavam em mudança. Lula e Fidel Castro também.

Na semana passada, foi descoberto um plano neonazista para assassinar Obama. Dois debilóides queriam causar um banho de sangue, matando o candidato democrata e uma porção de negros. Como não poderia deixar de ser, muitos viram nisso mais uma prova da intolerância reinante nos EUA, a pátria do racismo, omitindo, propositalmente ou não, que o plano só foi descoberto e presos seus autores devido à pronta ação dos agentes secretos do governo Bush, esse facínora racista. Mas nada disso importa. O fato é que esse é mais um ponto a favor do mito Obama, que não raro é comparado a Martin Luther King, o líder negro assassinado em 1968. Eu prefiro compará-lo a Lula, ou a Santo Luiz Inácio, para quem já começaram a acender velas e a fazer promessas no interior do Nordeste.

O mais curioso é que todo esse culto messiânico de Obama, ouso dizer, irá desaparecer tão rápido quanto surgiu. Como todo ídolo fabricado pela mídia, Obama tem pés de barro. E se ele vencer as eleições? O que dirão os antiamericanos de plantão? Continuarão a gritar que os EUA são a pátria do racismo, do preconceito, do imperialismo? Certamente que sim. Os EUA são, para essa gente, a pátria do racismo, do preconceito e do imperialismo independentemente de quem esteja na Casa Branca. Passado algum tempo de namoro e embevecimento com "o primeiro presidente negro", cujos discursos já nascem "históricos", virá o cansaço e, com ele, a desilusão. Os terroristas islamitas continuarão a se explodir em atentados contra o "Satã imperialista ocidental"; demagogos como Hugo Chávez continuarão a ver conspirações da CIA para matá-lo; militantes de esquerda seguirão culpando o "neoliberalismo" e a "globalização" por todos os males do mundo etc. etc. No final, tudo será como dantes no quartel de Abrantes. A diferença é que todos esses inimigos do progresso e da civilização terão diante de si um governo bem mais vacilante e menos resoluto na hora de usar a força, muito mais interessado em relações públicas e em não ferir suscetibilidades politicamente corretas do que em agir efetivamente contra quem deseja a destruição da liberdade e da democracia. Uma fórmula para o suicídio.

Os EUA já têm seu santo eleito previamente para a presidência. O Brasil também tem o seu. Deu no que deu. Mundus vult decipi. O mundo quer ser enganado.

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