Para muita gente, isso aí em cima é a única "direita" que conhecem
Li que uma estudante de Direito de 22 anos iniciou um movimento no Sul para ressuscitar a ARENA, o partido de sustentação política do regime militar de 1964. Inicialmente achei a idéia curiosa, para dizer o mínimo, ainda mais por surgir de pessoa com tão pouca idade, nascida depois do fim do regime dos generais – o simples fato de alguém tão jovem se interessar por Política com P maiúsculo, nos dias que correm, é uma grata surpresa. Principalmente por se tratar de uma proposta que destoa tão radicalmente do que se tornou habitual ver nas escolas e universidades brasileiras, que já se tornaram verdadeiras madraçais do pensamento único esquerdista, baseado num marxismo pé-de-chinelo que, de tão primário, encheria de vergonha o próprio Marx. Dizer-se de direita ou anticomunista no Brasil ainda é um tabu, um anátema, uma mácula para quem o faz. Por aqui, Stálin e Fidel Castro ainda têm mais admiradores do que Churchill ou Margaret Thatcher.
Pelo que li, acredito que a motivação da moça é boa. Palmas pra ela. Mas bons motivos e coragem para dar a cara à tapa não são garantia de boas idéias. Nesse caso, sinto dizer, a proposta de ressuscitar a ARENA, ainda que seja para provocar um debate, não é nada boa. É péssima.
É tão grande e tão sufocante a hegemonia da ideologia esquerdista no Brasil que qualquer tentativa de romper essa camisa-de-força é bem-vinda. O simples fato de alguém se insurgir contra essa lavagem cerebral coletiva, que já dura décadas, deve ser comemorado. Como já escrevi em varios posts (principalmente aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.gr/2011/04/por-que-nao-existe-direita-no-brasil-e.html), a inexistência no Brasil de um partido de direita, conservador ou liberal, é uma aberração, e constitui certamente o maior problema político do país na atualidade, a explicação para o fato de não termos oposição. A idéia de reconstruir um partido de direita é, assim, uma provocação, no bom sentido da palavra. Mas é preciso ter cuidado. As boas intenções, somadas à falta de conhecimento histórico, costumam gerar resultados contrários ao que se espera. No caso em questão, é quase certo que tal iniciativa vai levar mais água para o moinho da esquerda.
A autora da iniciativa, talvez pela pouca idade, comete uma série de erros. O primeiro e mais óbvio deles é considerar a ARENA um paradigma de política ideológica. Ora, ideologicamente, a ARENA (que virou PDS, PPR, PPB e PP) tinha a firmeza de princípios e a consistência de um pudim, não se distinguia da geléia geral da política brasileira. Criada após a extinção dos partidos políticos pré-64, era formada, principalmente, por áulicos do regime e pelos oportunistas de sempre, que enxergam na política uma profissão. Gente como Paulo Maluf, nomeado prefeito e depois governador de São Paulo pelo partido dos militares e que hoje está na base alugada do lulopetismo, dizendo-se mais comunista do que o Lula. Se é para ressuscitar um partido, que se ressuscite a UDN, que tinha lá seus defeitos (Roberto Campos dizia que era um "partido burro de homens inteligentes"), mas contava em suas fileiras com grandes oradores e polemistas como Carlos Lacerda – cassado pelo regime de 64, que criou a ARENA. A extinção de partidos como a UDN, aliás, foi um dos grandes erros dos militares, servindo apenas para decapitar uma geração inteira de políticos de direita e criar um vazio ideológico que a esquerda apressou-se a preencher depois. Tampouco um autêntico partido de direita, conservador ou liberal, teria espaço para integralistas – até porque havia muito mais em comum entre estes e os comunistas do que os últimos gostariam de admitir. Sem falar que o nacionalismo, pelo menos no Brasil, é uma ideologia mais afeita à esquerda do que à direita.
Além disso, convenhamos: a proposta de ressuscitar um partido, ainda mais um criado para dar apoio à ditadura dos generais, remete ao passado. Reforça, assim, simbolicamente, o estereótipo de direita como coisa ultrapassada e, pior, "reacionária", enquanto a esquerda se apresenta como "progressista". Acaba servindo, portanto, aos atuais donos do poder político e cultural.
Enfim, a idéia da jovem gaúcha é provavelmente bem-intencionada, mas é uma bobagem. Infelizmente. Apenas demonstra aquilo que venho tentando mostrar aqui há anos: que no Brasil ainda se desconhece o que seja direita. Ao tomar a velha ARENA de Maluf como referência, apenas serve aos propósitos mistificadores da esquerda.
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