por Marco Antonio Villa
Estado de S. Paulo, 12/03/2012
O rei está nu. Na verdade, é a rainha que está nua. Ninguém, em sã consciência, pode dizer que o governo Dilma Rousseff vai bem. A divulgação da taxa de crescimento do País no ano passado ─ 2,7% ─ foi uma espécie de pá de cal. O resultado foi péssimo, basta comparar com os países da América Latina. Nem se fala se confrontarmos com a China ou a Índia. Mas a política de comunicação do governo é tão eficaz (além da abulia oposicionista) que a taxa foi recebida com absoluta naturalidade, como se fosse um excelente resultado, algo digno de fazer parte dos manuais de desenvolvimento econômico. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sempre esforçado, desta vez passou ao largo de tentar dar alguma explicação. Preferiu ignorar o fracasso, mesmo tendo, durante todo o ano de 2011, dito e redito que o Brasil cresceria 4%.
A presidente esgotou a troca de figurinos. Como uma atriz que tem de
representar vários papéis, não tem mais o que vestir de novo. Agora optou pelo
monólogo. Fala, fala e nada acontece. Padece do vício petista de que a palavra
substitui a ação. Imputa sua incompetência aos outros, desde ministros até as
empresas contratadas para as obras do governo. Como uma atriz iniciante após um
breve curso no Actors Studio, busca vivenciar o sofrimento de um governo inepto,
marcado pelo fisiologismo.
Seu Ministério lembra, em alguns bons momentos, uma trupe de comediantes. O
sempre presente Celso Amorim ─ que ignorou as péssimas condições de trabalho dos
cientistas na Antártida, numa estação científica sucateada ─ declarou
enfaticamente que a perda de anos de trabalho científico deve ser relativizada.
De acordo com o atual titular da Defesa, os cientistas mantêm na memória as
pesquisas que foram destruídas no incêndio (o que diria o Barão se ouvisse
isso?).
Como numa olimpíada do nonsense, Aloizio Mercadante, do Ministério da
Educação (MEC), dias atrás reclamou que o Brasil é muito grande. Será que não
sabe ─ quem foi seu professor de Geografia? ─ que o nosso país tem alguns
milhões de quilômetros quadrados? Como o governo petista tem a mania de criar
ministérios, na hora pensei que estava propondo criar um MEC para cada região do
País. Será? Ao menos poderia ampliar ainda mais a base no Congresso
Nacional.
Mas o triste espetáculo, infelizmente, não parou.
A ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, resolveu dissertar sobre
política externa. Disse como o Brasil deveria agir no Oriente Médio, comentou a
ação da ONU, esquecendo-se de que não é a responsável pela pasta das Relações
Exteriores.
O repertório ministerial é muito variado. Até parece que cada ministro deseja
ardentemente superar seus colegas. A última (daquela mesma semana, é claro) foi
a substituição do ministro da Pesca. A existência do ministério já é uma piada.
Todos se devem lembrar do momento da transmissão do cargo, em junho do ano
passado, quando a então ministra Ideli Salvatti pediu ao seu sucessor na Pesca,
Luiz Sérgio, que “cuidasse muito bem” dos seus “peixinhos”, como se fosse uma
questão de aquário. Pobre Luiz Sérgio. Mas, como tudo tem seu lado positivo, ele
já faz parte da história política do Brasil, o que não é pouco. Conseguiu um
feito raro, na verdade, único em mais de 120 anos de República: foi demitido de
dois cargos ministeriais, do mesmo governo, e em apenas oito meses. Já Marcelo
Crivella, o novo titular, declarou que não entende nada de pesca. Foi sincero.
Mas Edison Lobão entende alguma coisa de minas e energia? E Míriam Belchior tem
alguma leve ideia do que seja planejamento?
Como numa chanchada da Atlântida, seguem as obras da Copa do Mundo de 2014.
Todas estão atrasadas. As referentes à infraestrutura nem sequer foram
licitadas. Dá até a impressão de que o evento só vai ser realizado em 2018. A
tranquilidade governamental inquieta. É só incompetência? Ou é também uma
estratégia para, na última hora, facilitar os sobrepreços, numa espécie de
corrupção patriótica? Recordando que em 2014 teremos eleições e as “doações” são
sempre bem-vindas…
Não há setor do governo que seja possível dizer, com honestidade, que vai
bem. A gestão é marcada pelo improviso, pela falta de planejamento. Inexiste um
fio condutor, um projeto econômico. Tudo é feito meio a esmo, como o orçamento
nacional, que foi revisto um mês após ter sido posto em vigência. Inacreditável!
É muito difícil encontrar um país com um produto interno bruto (PIB) como o do
Brasil e que tenha um orçamento de fantasia, que só vale em janeiro.
Como sempre, o privilégio é dado à política ─ e política no pior sentido do
termo. Basta citar a substituição do ministro da Pesca. Foi feita alguma
avaliação da administração do ministro que foi defenestrado? Evidente que não. A
troca teve motivo comezinho: a necessidade que o candidato do PT tem de ampliar
apoio para a eleição paulistana, tendo em vista a alteração do panorama político
com a entrada de José Serra (PSDB) na disputa municipal. E, registre-se, não
deve ser a única mudança com esse mesmo objetivo. Ou seja, o governo nada mais é
do que a correia de transmissão do partido, seguindo a velha cartilha leninista.
Pouco importam bons resultados administrativos, uma equipe ministerial
entrosada. Bobagem. Tudo está sempre dependente das necessidades políticas do
PT.
A anarquia administrativa chegou aos bancos e às empresas estatais. É como se
o patrimônio público fosse apenas instrumento para o PT saquear o Estado e se
perpetuar no poder. O que vem acontecendo no Banco do Brasil seria, num país
sério, caso de comissão parlamentar de inquérito (CPI). Aqui é visto como uma
disputa de espaço no governo, considerado natural.
Mas até os partidos da base estão insatisfeitos. No horizonte a crise se
avizinha. A economia não está mais sustentando o presidencialismo de transação.
Dá sinais de esgotamento. E a rainha foi, desesperada, em busca dos conselhos do
rei. Será que o encanto terminou?
Um comentário:
Acabei de colocar um comentário pedindo um post seu sobre a " lei de reciprocidade", mas este comentário aqui é para dizer que teu texto infelizmente é o retrato do Brasil, realista, lúcido e verdadeiro.
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