segunda-feira, dezembro 12, 2011

A FOTO E A FARSA (OU: POR QUE NÃO SOU CONSPIRACIONISTA)

Vai um pouco de fogo amigo aí?

A foto divulgada alguns dias atrás pela revista Época, mostrando a jovem Dilma Vana Rousseff depondo perante um tribunal militar aos 22 anos de idade, em 1970, está dando o que falar. Dediquei meu último texto ao assunto, tentando deixar claro que se trata de mais uma formidável empulhação esquerdista para alimentar o mito da "guerrilheira heróica" – uma mentira que a própria Dilma faz questão de alimentar, recusando-se a dizer exatamente o que fez nessa época (é o único caso na História, repito, em que alguém se orgulha de um passado que tenta esconder). Não me refiro à foto em si, que – faço questão de frisar – considero verdadeira (pelo menos assim parece), mas ao embuste histórico que os esquerdistas querem vender junto com a mesma.

Pois bem. Já chego lá. Antes, porém, quero lembrar um fato.

Dois anos atrás, surgiu na internet o boato de que a blogueira cubana Yoani Sánchez, uma das maiores vozes de oposição à ditadura dos irmãos Castro em Cuba, seria agente do próprio regime (ou coisa que o valha). O rumor partiu de um grupo de exilados cubanos de Miami, anticastristas ferrenhos. Por algum motivo, eles não gostam de Yoani, ou a consideram uma concorrente, ou não a acham anticastrista o suficiente, sei lá eu. Alguns blogueiros no Brasil, por ingenuidade ou não, compraram a idéia, e passaram a divulgá-la. Muito bem. Que prova havia para balizar essa afirmação? Nenhuma. Nenhuma? Nenhuma mesmo. Nada? Nadica de nada. Enquanto isso, Raúl e Fidel Castro devem ter dado boas gargalhadas com a coisa toda, vendo seus opositores se digladiando sobre essa questão. Escrevi sobre o assunto, sobre o qual fiz até um desafio, que permanece, aliás, sem resposta: (http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2009/11/ainda-yoani-sanchez-ou-irracionalidade.html).

Citei o exemplo acima porque vejo algo parecido repetir-se agora, guardadas as devidas proporções, no caso da "foto da Dilma". Aqui e ali, vejo alguém levantar a hipótese de que a foto seja uma montagem. Levantar a hipótese, não: afirmar, taxativamente e sem sombra de dúvida, que a imagem é uma grosseira falsificação. Alguém teria retocado a foto, do mesmo modo que Stálin costumava mexer em antigas fotografias, delas apagando seus desafetos depois de mandar fuzilá-los.

É uma grande bobagem. Os "argumentos" apresentados pelos que dizem que a foto é falsa são de uma fragilidade constrangedora. Um deles seria o de que não haveria motivo para os militares na foto estarem cobrindo os rostos. De fato, motivo não há, assim como não havia motivo algum para posarem para a fotografia. É provavel que eles estivessem ocupados lendo o processo à sua frente, ou simplesmente cansados. É provavel que o momento e o ângulo da fotografia não os tenham favorecido. Já vi fotos minhas em que apareço com cara de raiva, quando estava rindo, e vice-versa. Enfim, há várias probabilidades.

Outro "indício" de que a imagem teria sido manipulada: tais fotos não eram tiradas durante esse tipo de interrogatório judicial, afirma-se. Aqui, nem preciso dizer nada. Basta mostrar:



A foto acima mostra o jovem Fernando Gabeira, de bigode e então militante do MR-8, sendo julgado por sua participação no sequestro do embaixador dos EUA, Charles B. Elbrick, ocorrido em 1969. A foto é mais ou menos da mesma época da foto em que Dilma estava sendo interrogada pelos militares. Nem precisa dizer, mas cada um nela vê o que quer. (A propósito: Gabeira fez a autocrítica dos anos de luta armada, ao contrário de Dilma.)


Eu não sei se a foto de Dilma depondo na Justiça Militar é autêntica ou não. Faltam-me os instrumentos técnicos necessários para fazer qualquer afirmação a respeito. Pessoalmente, acredito que sim, pois não vejo motivos para que seja falsa, embora esta seja uma opinião minha, pessoal, que pode ou não ser confirmada. Uma coisa, porém, não posso, nem devo, fazer: sair por aí gritando que a foto foi manipulada. Simplesmente digo que não sei, e pronto. Afinal, não sou especialista em fotografia.


Além do mais, se a foto é verdadeira ou retocada, é algo que não tem a menor importância. A mistificação não está na foto em si, mas na história (ou melhor: estória) que estão querendo colar nela. O photoshop não está na foto, mas no mito que estão tentando criar.


Para ficar mais claro: ainda que mostrem uma foto de Dilma sendo pendurada no pau-de-arara, ou recebendo choques elétricos na cadeira do dragão, a versão de que ela foi presa e torturada porque era uma lutadora pela democracia continuará sendo mentirosa, uma verdadeira afronta à verdade histórica. Isso porque democracia jamais esteve nos planos da luta armada.


Não é preciso exagerar os fatos para mostrar que os esquerdopatas desvirtuam a História para que se encaixe em seus próprios interesses. Do mesmo modo que não é preciso bater palmas para a repressão policial-militar, ou justificar a tortura, para condenar o que a esquerda armada fez como terrorismo. Os fatos bastam. E os fatos são os seguintes: a luta armada de esquerda, da qual a jovem Dilma fez parte, não queria democracia. Assim como os militares que a combateram, diga-se. Ambos os lados – terroristas e torturadores – eram inimigos entre si, mas partilhavam o mesmo ódio e o mesmo desprezo pela liberdade. E mataram pessoas. Os que foram mortos pela repressão são hoje homenageados e suas famílias recebem indenizações do Estado. Os que morreram sob os tiros e bombas da esquerda não são sequer lembrados.


É uma atitude saudável manter-se cético em relação ao que a esquerda diz a respeito de si mesma, ainda mais quando se trata de História. É preciso desconfiar, sempre. Mas uma coisa é um ceticismo racional, baseado em provas; outra coisa, totalmente diferente, é a negação pela negação, baseada tão-só na antipatia ideológica. Não raro, esse tipo de atitude irracional e ideológica (no pior sentido) acaba servindo aos propósitos de quem visa combater. O maior aliado da esquerda mitômana é uma direita burra e despreparada. O exemplo acima mostra por quê.


Tudo que a esquerda mais quer é um pretexto para desqualificar seus adversários como um bando de malucos e conspiracionistas. Com isso, espera alimentar os próprios mitos e deturpar a verdade histórica, apresentando-se como um paradigma de equilíbrio e racionalidade (ou, no caso em questão, como heróicos lutadores pela liberdade e pela democracia, o que é uma ofensa à inteligência). É uma pena que alguns, movidos por justa indignação pelas lorotas dos esquerdistas, acabem caindo no jogo deles.

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