sábado, março 19, 2011

CONTRA O RACISMO, LIBERDADE DE EXPRESSÃO E MERCADO NELES (OU: COMO O POLITICAMENTE CORRETO DESTRÓI A DEMOCRACIA)


Cena do filme "The Black Gestapo" (1974)


Há alguns dias li na VEJA uma entrevista que me deu vontade de agradecer aos céus e de aplaudir de pé, tendo chegado mesmo a pensar em fazer milhares de cópias e distribuir pelas ruas. O professor norte-americano de economia Walter Williams deu uma chinelada nos devotos do politicamente correto (o novo nome da velha "linha justa"dos partidos comunistas), que acreditam que as tais cotas raciais são uma solução válida para "integrar" os "excluídos" etc.

De forma clara - didática, lógica, incisiva -, o professor deixou evidente por que todo o palavrório sociologizante a favor de cotas raciais num país como o Brasil é na verdade um despropósito, um despautério que apenas cria um problema onde este é mínimo ou não existe. Também afirmou que, a longo prazo, o governo de Barack Obama, por se afigurar um fracasso (como provavelmente será lembrado), será ruim para os negros americanos. Citou números e estatísticas e arrematou, afirmando o óbvio: só uma educação de qualidade, o livre mercado, o capitalismo e os valores de liberdade individual promovem a inclusão dos negros. Enfim, tudo aquilo que causa espasmos de horror a nossos intelectuais estatizados, que odeiam com a mesma intensidade o liberalismo e seu corolário, a democracia. (Ah, e só por curiosidade: Walter Williams é negro.)

Sempre me chamou a atenção o fato de os militantes negros (ou "afro-americanos", ou "afro-descendentes", ou sei lá como são chamados pela novilíngua politicamente correta) serem quase todos, também, ardentes anticapitalistas. Melhor dizendo: sempre me intrigou que eles, que se dizem paladinos da "igualdade racial" e das oportunidades iguais para todos, não tenham a coragem de defender o capitalismo, o único sistema econômico-social compatível com esses objetivos.

Afinal, o que querem os defensores das cotas racialistas? (O termo adequado é racialista, e não "racial" - racialismo é uma ideologia; "racial" é apenas um adjetivo sem nenhum sentido, até porque quem tem raça é cachorro, gato, cavalo, galinha...) Tudo, menos promover a inclusão dos menos favorecidos. Qualquer outra coisa, menos combater o racismo.

Se os militantes racialistas o quisessem realmente, defenderiam o livre mercado, a única forma de promover a inclusão e a integração social. Como não o fazem, o que buscam, então? Exatamente o contrário: a não-integração, a exclusão, mediante a segregação, a separação das raças. Qual seu objetivo final? A destruição do livre mercado, o dirigismo estatal - enfim, o socialismo.

Na realidade, a chamada "causa negra", assim como a de outras minorias (gays, índios, feministas, ecologistas etc.) não passa de um pretexto para "combater o sistema" (ou seja: o capitalismo). E nada mais do que isso. Os ideólogos e militantes desses movimentos pouco se importam com os problemas, reais ou não, que alegam combater: o importante é culpar o maldito capitalismo por tudo de ruim que existe, e defender sua aniquilação. Nisso, apenas repetem o objetivo dos comunistas de outrora: como aqueles não conseguiram alcançá-lo pela revolução proletária, seus sucessores da Nova Esquerda passaram a defender a "inclusão" no sistema, mediante - aí está o pulo do gato (ou do gatuno) - a separação da sociedade em raças e em outros grupos sociais, a abolição da meritocracia em favor de critérios ideológicos. Mudaram de tática, mas o objetivo último - o fim do capitalismo - continua o mesmo. De certa forma, é a continuação da velha luta de classes, disfarçada sob o rótulo aparentemente anódino de "defesa das minorias". Não mais burgueses versus proletários, capitalistas versus operários ou camponeses, mas "brancos" contra "afro-descendentes", e assim por diante.

Isso fica claro no caso das cotas racialistas (e, na prática, racistas). Sabe-se que o próprio livre mercado - a própria sociedade - se encarrega de minimizar o racismo onde ele existe, promovendo a integração de populações marginalizadas por motivos raciais ou étnicos. O lucro, como sabe qualquer dono de bodega, não distingue cor, raça ou religião. Também não foi necessário nenhum sistema de cotas para que os negros nos EUA ocupassem o lugar dos brancos como os melhores jogadores de basquete, por exemplo. A sociedade (quer dizer: o mercado) se auto-corrige e se auto-regula.

Mas reconhecer isso seria admitir que o capitalismo não é o bicho-papão que todos dizem ser. A solução encontrada, então, foi defender as cotas, que são uma forma de o Estado - o deus pagão dos socialistas - impor sua autoridade, eliminando a meritocracia e substituindo-a por tribunais de pureza racial. A "promoção dos negros" (ou índios, ou pardos, ou amarelos, ou torcedores do Íbis) seria, assim, resultado não da própria dinâmica do mercado, mas da benemerência e boa vontade dos agentes estatais. Seria necessária a presença da "mão visível do Estado", exatamente para impedir que a mão invisível do mercado aja e dê frutos.

O mesmo raciocínio tortuoso, e o mesmo objetivo totalitário, se aplicam às demais "causas" caras aos militantes do "politicamente correto". Aqui, o que importa não é o combate ao racismo ou a qualquer outra forma de discriminação, mas aumentar o alcance da intervenção do Estado, que passa a ser um juiz supremo e definidor da raça e da sexualidade das pessoas, separando-as pela cor da pele ou pela opção sexual. A mesma lógica - ou falta de lógica - encontra-se nos programas assistencialistas do governo lulo-petista, como o Bolsa-Cabresto (oficialmente conhecido como Bolsa-Família): o aumento da dependência estatal, a criação de uma multidão de estadodependentes. Não é por acaso que a maioria dos militantes politicamente corretos esteja no PT e nos demais partidos de esquerda.

E isso a despeito da própria realidade nacional, por mais diferente que ela seja do que querem os militantes racialistas ou gayzistas. Na verdade, quanto mais diferente ela for do que apregoam seus slogans, mais eles intensificam sua militância, mais forte se faz a ação estatal. É difícil dizer, devido à intensa miscigenação, quem é e quem não é negro no Brasil? Não tem problema: o governo, por meio das cotas, diz quem é, instituindo a auto-declaração como critério científico e irretorquível ("Sou negro porque 'acho' ou me 'sinto' negro" etc.). E vai além: concede direitos especiais - privilégios, em bom Português - àqueles que assim se declararem. Estes gozarão, portanto, de tratamento diferenciado em vestibulares e em concursos públicos, largando na frente da maioria que não teve a sorte de ser considerada afro-descendente pelo Estado, e que terá, portanto, que estudar.

Do mesmo modo: o País é um dos mais tolerantes do mundo quanto à opção sexual dos indivíduos, possuindo a maior "parada do orgulho gay" do planeta? Também não há problema algum: pinça-se aqui e ali um caso isolado de preconceito, supervaloriza-se um xingamento, e pronto! - está cientificamente provado que o Brasil é um paraíso da homofobia. O passo seguinte é inventar uma lei para criminalizar expressões como "viado" e "boiola" e piadas de bichinha. Isso, evidentemente, depois de alguma ONG gayzista, com o apoio das novelas e do noticiário da Rede Globo, tentar manipular dados e estatísticas para "provar" que o País é um campo de extermínio de homossexuais, em que todos os dias um número "x" de gays, lésbicas e travestis é abatido como moscas em cada quarteirão e em cada rua das grandes, pequenas e médias cidades.

(Claro que, se desse número, a maioria dos agredidos o tiver sido por parceiros homossexuais - como ocorre em CEM POR CENTO dos estupros nas cadeias, por exemplo -, esse fato não será computado. Assim como não o serão os casos de serial killers que matam gays após transarem com eles - o que os torna, automaticamente, gays também. Nada disso será levado em conta, cabendo todas as agressões e assassinatos cometidos desse modo e nessas circunstâncias na mesma rubrica de crimes de "homofobia"...)

Desnecessário dizer, mas uma lei que pune com pena de prisão ou multa qualquer um que tiver a ousadia de contar uma piada do Costinha ou imitar os trejeitos do colega desmunhecado não estará completa se não atingir diretamente a maior fonte de homofobia que existe: a religião. Em particular, a Bíblia, que terá de ser proibida ou totalmente reescrita para adaptar-se a esses novos e brilhantes tempos de liberdade. (O Islã, que pune tais comportamentos com a morte ou o açoitamento, ficará de fora dessa interdição, pois se trata de religião exótica, não fazendo parte da civilização branca-européia-ocidental e gozando, portanto, de status diferenciado perante os multiculturalistas.)

Também não é preciso lembrar que o padre católico ou o pastor protestante que tiver o atrevimento de expulsar da igreja ou do templo o casalzinho gay que estiver dando uns amassos em frente ao altar durante a missa/culto será condenado a vários anos de cadeia pelo crime nefando de não permitir que eles transformem o local em motel. Afinal, quem liga para coisas sem importância como liberdade de culto e de expressão religiosa, não é mesmo?

O importante é que os gays, essas criaturas maravilhosas e ultra-sensíveis, possam ter a liberdade de expressar livremente e sem preconceitos sua sexualidade, beijando-se e acariciando-se em qualquer lugar, em qualquer momento, diante de qualquer platéia. Se podem fazê-lo durante um culto religioso, por que não numa creche, por exemplo, em frente a criancinhas de 2 anos de idade? E por que não com as próprias? Seria uma forma excelente de ensinar-lhes, na prática, o significado de "tolerância" e "respeito à diversidade". Uma lição de cidadania, sem dúvida...

E como fica, no final disso tudo, a liberdade de expressão e a igualdade de todos perante a Lei, cláusula primeira e fundamental da democracia? A essa altura, quando alguém se lembrar de fazer essa pergunta, todos já terão se esquecido desse detalhe há muito tempo.

E assim os militantes do politicamente correto - racialistas, gayzistas, feministas etc. - vão, a cada dia mais, minando as bases da democracia e do Estado de Direito. Em lugar deste, surgirá um mundo em que a discriminação por raça, sexo ou ideologia será institucionalizada, tornando-se de fato a única lei. Pelo menos enquanto não surgir uma forte corrente de opinião contrária a essa monstruosa impostura.

Um velho provérbio diz que o caminho do inferno é pavimentado por boas intenções. Tenho minhas dúvidas quanto às boas intenções. Mas, no tocante ao resultado final, não tenho dúvida alguma.

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