O ano está chegando ao fim. Como sucede a cada giro de 365 dias, as pessoas costumam tirar alguns dias de folga e enviar mensagens a seus amigos e familiares com os melhores votos de paz, felicidade, saúde - e dinheiro também, claro, pois ninguém é de ferro. Fiel a essa tradição, também estou saindo de férias, motivo pelo qual deixarei de colocar aqui textos novos por algumas semanas. Também pensei em escrever algo, digamos, edificante, bem de acordo com o espírito natalino, para deixar todos felizes, enquanto trocam presentes e comem panetone na ceia de Natal, ou estouram seus espumantes e jogam flores para Iemanjá na noite do reveillón, desejando boas festas.
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Mas confesso. Não sou bom nisso. Nunca fui e, desconfio, jamais serei. O fim do ano é uma época que provoca, em mim, sentimentos contraditórios. Por um lado, fico feliz porque o ano finalmente está acabando e poderei, após meses intensos de trabalho estafante, descansar alguns dias e rever a família (este ano, inclusive, terei a oportunidade de renovar a fidelidade à tribo, pois, apesar de ser a pessoa mais improvável para tal função, fui escolhido como padrinho no batismo de minha sobrinha...). Por outro lado, a proximidade de outro ano me enche de uma sensação de tédio quase insuportável, intensificado pelas costumeiras e previsíveis mensagens de esperança para o ano que se inicia, e pela circunstância de que o período de Natal coincide com meu aniversário - 33 anos, a idade do crucificado -, o que, não é difícil imaginar, causava-me bastante frustração quando criança (em vez de dois, ganhava sempre apenas um presente, "para as duas datas", me diziam com um sorriso meio amarelo...). O tédio que neste período costuma se apossar de mim reforça-se ainda mais diante da perspectiva, quase sempre certeira, de que, em vez de renovação, no próximo ano assistiremos a um pouco mais do mesmo, à repetição de velhos erros e ilusões, que insistem em desafiar qualquer experiência e qualquer ensinamento. Pois assim é a natureza humana: passam-se os anos, as décadas, os séculos, os milênios, e a humanidade continua a mesma, está sempre correndo atrás do próprio rabo, como cachorro louco, em busca de sonhos de grandeza e de redenção da espécie que, em vez de resolver, apenas agravam nossas falhas.
Por esse motivo, não vou desejar nada para 2008. Espero apenas que o ano que se inicia traga, mais do que paz, saúde, grana e felicidade, menos assuntos sobre os quais escrever neste blog do que 2007, que foi realmente um ano cheio. Que haja menos demagogia, menos criminalidade, menos ingenuidade, menos banditismo travestido de bom-mocismo. E que haja um pouco mais de senso crítico, tolerância verdadeira (e não afetações relativistas), inteligência e, acima de tudo, lucidez. Sei que isso é quase uma utopia, talvez um sonho impossível. Mas, se há algo que eu gostaria de pedir a Papai Noel, seria isso: que em 2008, eu tenha muito mais tempo para cultivar meu jardim, e muito menos razão para incomodar dizendo o que penso - e não só o que a maioria gosta de ler - na tela do computador.
Até mais. Vejo vocês em 2008 (com menos textos, espero).
4 comentários:
Gostei muito desse post e seu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre =) Depois dá uma passada lá no meu site, que é sobre o CresceNet, espero que goste. O endereço dele é http://www.provedorcrescenet.com . Um abraço.
nooooooooooooossa!!! a busca histérica por alguma coisa da qual nem lembro mais, me fez comentar num post de 2006. acho que é a síndrome do ano arrastado, que anda tomando conta de todos nós por causa da rapidez com que os dias estão passando, bem aqui, debaixo dos nossos olhos sem que a gente perceba.
ainda bem que resolvi fuçar, e encontrei 2007, aliás, o final dele.
num dianta ... sai ano entra ano, ou melhor, entra ano sai ano, vc vai melhorando ... finquei o pé!
agora vou dormir. beijo.
Achei seu blog sem querer. E achei ótimo! Meus parabéns! Você escreve muito bem, seus textos são fluídos e
fáceis de seguir. Professor de História, claro, só poderia ser.
Mas, meu caro amigo, o post que me chamou mais a atenção foi sobre os homofóbicos. Sou gay e acredite, concordo com tudo o que você disse
a respeito da tal absurda lei que me parece mais uma "censura" às avessas, mas deixa pra lá.
O que eu queria mesmo é lhe dizer que respeito seus pontos de vista e suas ponderações, mas, vou lhe dizer uma coisa que você certamente não entende. Não pense que todos os "gays" são "boiolas", ou efeminados ou isso ou aquilo. Não pense que todos tem esse gosto "exótico" porque querem. Há existências diferentes da sua, simples assim.
Nem todo "homossexual" é sacana,
lascivo ou "alegre". Há gradações na raça humana em todos os níveis e
em todas os seguimentos sociais. Os estereótipos são apenas estereótipos, não representam a maioria.
Abração,
felipx
Obrigado a todos pelos comentários. Especialmente ao Felipx. Achei seu comentário muito interessante. De fato, concordo com sua visão de que nem todos os gays são iguais e que não devemos nos deixar levar por estereótipos de qualquer tipo. Não existem duas pessoas iguais, assim como não há duas folhas idênticas.
É exatamente por isso que a tal lei "anti-homofobia" que querem aprovar é uma idiotice: porque se baseia num dos maiores estereótipos que existem, o de que os homossexuais, por serem homossexuais, são sempre "vítimas" e, portanto, merecem tratamento especial, como se fossem seres acima do restante da humanidade. É essa mentalidade vitimista que está por trás da PEC 122/06, e é por isso que considero essa lei um absurdo, e não por qualquer aversão pessoal ou "estereótipo" que eu possa ter em relação a homossexuais.
Enfim, vivam a vida, curtam bastante e nada de bancar os coitadinhos. O bom senso agradece. É isso.
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