Na virada do ano, o mundo assistiu, nas selvas da Colômbia, ao desenrolar de um dos espetáculos mais bizarros e farsescos dos últimos tempos. O enredo do show, se é que se pode resumí-lo, é mais ou menos o seguinte: um ditador constitucional, o coronel Hugo Chávez, ansioso por mudar sua imagem internacional meio arranhada após a derrota no plebiscito de 2 de dezembro passado, em que a maioria da população venezuelana rejeitou seu projeto de eternizar-se "legalmente" no poder, chamou as câmeras de TV do mundo todo para anunciar, com grande estardalhaço, a libertação de três reféns mantidos cativos há anos pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as FARC. Após várias marchas e contramarchas, que incluíram trocas de acusações entre Chávez e seu desafeto, o presidente colombiano Álvaro Uribe, descobre-se que um dos reféns, uma criança de seis anos de idade, filho de uma relação - consentida ou não, ainda não se sabe - entre uma refém e um dos seqüestradores, na verdade já estava há tempos em mãos do governo da Colômbia, o que deixou o principal "mediador" da "operação humanitária", Hugo Chávez, com cara de tacho, desacreditado perante a opinião pública mundial que pretendia engabelar. Para salvarem a operação do fracasso e não deixarem o companheiro venezuelano na mão e sem um troféu a oferecer à mídia internacional, os "guerrilheiros" das FARC apressaram-se a entregar à Venezuela, no meio do mato, as duas reféns prometidas, como "um gesto de boa vontade". No final, Chávez deu a volta por cima e, posando de humanitário, conseguiu capitalizar o episódio, não sem antes declarar solenemente, e com a cara mais lavada do mundo, que as FARC e o Exército de Libertação Nacional (ELN), outro grupo armado de esquerda que há décadas luta contra o governo de Bogotá, não são, ao contrário do que dizem seus métodos e os EUA e a União Européia, vejam só, terroristas... Nesse mister, ele conta com o apoio mais ou menos discreto de governos como o de Madame Kirchner na Argentina e de inocentes úteis como o cineasta norte-americano Oliver Stone, além, claro, do sempre prestativo governo do companheiro de todas as horas, Luiz Inácio Lula da Silva, por meio do sempre alerta companheiro e ghost-chancellor Marco Aurélio ("Top, Top, Top") Garcia, um notório simpatizante das FARC alçado à posição de assessor especial da Presidência da República para relações internacionais.
Não vou aqui lembrar algumas verdades mais que evidentes, de caráter quase acaciano em sua obviedade - que, de humanitária, a operação articulada por Chávez e pelas FARC não teve nada, sendo antes uma operação tipicamente propagandística; que as FARC são um dos grupos terroristas mais cruéis e assassinos do mundo, que vive às custas do narcotráfico, do seqüestro e da extorsão; que, além das duas reféns libertadas, mantém atualmente 780 pessoas seqüestradas, em condições subumanas em campos de concentração espalhados na selva colombiana etc. Tudo isso já foi mais ou menos perscrutado pela grande imprensa. Vou me concentrar apenas no que NINGUÉM falou, ao longo de todo o imbróglio, e que, justamente por ter sido omitido sistematicamente pelos meios de comunicação, é o mais importante: a relação ideológica, íntima, fraternal, entre os atores principais da gigantesca farsa que acabou de ser encenada nas matas da Colômbia - as FARC, Hugo Chávez e o governo de Lula da Silva, todos os três reunidos, sob os auspícios da ditadura comunista de Fidel e Raúl Castro em Cuba, no - anotem aí para não esquecerem - Foro de São Paulo.
Mas o que raios vem a ser esse tal Foro de São Paulo, sobre o qual eu, assim como meia dúzia de paranóicos de direita, insisto tanto em escrever? E o que ele tem a ver com o caso das reféns colombianas das FARC? Prestem atenção, eu vou explicar. O tal Foro foi criado em 1990, por iniciativa de Fidel Castro e do então candidato presidencial recém-derrotado Lula, como um "espaço de articulação estratégica" dos partidos e movimentos de esquerda na América Latina. Seu objetivo, exposto em vários documentos, não é outro senão restabelecer, no continente, o que então estava desmoronando no Leste Europeu - o comunismo. O mesmo objetivo, diga-se de passagem, das FARC na Colômbia. Desde então reúne-se de tempos em tempos, sempre em uma cidade diferente do continente. Seria assim uma espécie de sucessor da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), criada pelo regime de Cuba para fomentar guerrilhas comunistas na América Latina nos anos 60, assim como, em escala continental, da Internacional Comunista (Comintern), órgão encarregado, nas décadas de 20 a 40, de coordenar a revolução comunista internacional a partir da ex-URSS.
O.k., mas e daí?, vocês podem estar se perguntando. Vamos ligar os pontos: Lula é membro fundador do Foro de São Paulo, assim como Fidel Castro. Hugo Chávez também aderiu à organização. Sabem quem também faz parte do dito Foro? Elas mesmas, as FARC. Agora, advinhem quem comandou o Foro de São Paulo até 2001: ninguém mais, ninguém menos do que... estão preparados? Marco Aurélio Garcia. Surpresos?
Entenderam por que Chávez quer que os EUA e a União Européia retirem as FARC e o ELN da lista de organizações terroristas? Entenderam porque Lula e seu assessor especial para assuntos internacionais recusam-se a reconhecê-los também como terroristas, insistindo que o governo colombiano negocie com eles, em vez de tratá-los como os bandidos e criminosos que de fato são? E porque o representante das FARC no Brasil, Olivério Medina, circula com tanta desenvoltura entre os círculos petistas, tendo sido inclusive o intermediário da ajuda financeira dos naroterroristas colombianos à campanha de Lula em 2002, conforme foi denunciado pela Veja alguns anos atrás? E porque nenhum grande narcotraficante ligado às FARC já foi preso no Brasil? Não? Será preciso explicar de novo?
O silêncio total dos meios de comunicação em relação às maquinações do Foro de São Paulo, mais uma vez evidenciado no episódio das reféns das FARC, só se explica por um misto de inconsciência auto-induzida e otimismo triunfalista. Depois da queda do Muro de Berlim e do fim da URSS, em 1991, tornou-se comum dizer que o comunismo morreu, e que a democracia e a economia de mercado triunfaram. Chegou-se mesmo a falar, num arroubo de triunfalismo, em "fim da História". Trata-se de um erro de interpretação histórica, fruto de auto-engano. De fato, o antigo bloco comunista, com exceção de alguns sobreviventes renitentes como China, Cuba, Vietnã e Coréia do Norte, desmoronou como um castelo de areia, devido, como não poderia deixar de ser, à própria ineficiência crônica e às contradições inerentes ao regime de partido único e economia planificada, e é inegável que isto teve um impacto fulminante sobre muitos partidos comunistas e de esquerda em geral. Mas o movimento revolucionário socialista internacional, que é anterior à Revolução de 1917, continua firme e forte, e até tomou novo impulso, adquirindo nova roupagem e novos slogans, como a luta antiglobalização e ambientalista, mas sem ter abdicado de seus propósitos totalitários e anticapitalistas. O fato de a URSS ter sucumbido, nesse sentido, é de somenos importância; afinal, o comunismo não foi criado para dar certo em lugar nenhum do planeta, mas para destruir a civilização ocidental tal como a conhecemos. Como demonstra o altíssimo preço em vidas humanas consumidas em fracassados e megalomaníacos planos qüinqüenais e grandes saltos adiante, o objetivo do comunismo não é o estabelecimento de padrões mais racionais de administração econômica ou a democratização das relações sociais, mas tão-somente o aniquilamento da democracia, a destruição total e irrevogável da liberdade individual, o que equivale ao esmagamento do gênero humano. Daí a criação do Foro de São Paulo, para manter viva a chama da luta revolucionária anticapitalista na América Latina, escolhida como o palco ideal para o florescimento de governos populistas e movimentos terroristas como as FARC, dedicados integralmente a restaurar por estas bandas o que se perdeu na ex-URSS. Assim como Chávez e o PT, as FARC nada mais são do que uma parte desse plano estratégico de subversão continental. Querem saber qual o ideal de futuro almejado pelos participantes do Foro de São Paulo? Basta dar uma olhada nas imagens dos reféns das FARC, subnutridos e acorrentados, submetidos a todo tipo de tortura e maus-tratos na selva.
As mentiras e maquinações propagandísticas do conflito colombiano por Hugo Chávez - que quis usar o episódio mais ou menos como o ex-ditador de Uganda Idi Amin tentou usar o seqüestro de um avião cheio de civis israelenes em 1976, o qual esperava fosse um trampolim para seu sonho megalomaníaco de vir a ganhar o Prêmio Nobel da Paz -, assim como a postura caudatária e cúmplice do governo brasileiro em relação ao caudilho venezuelano e às FARC, não deveriam surpreender ninguém. Afinal, os laços de amizade e cooperação entre os três são bastante conhecidos para ser ignorados, como demonstra sua participação conjunta no Foro de São Paulo. Que a totalidade dos órgãos de imprensa no Brasil, mesmo os que se dizem críticos de Chávez e Lula, mantenham um silêncio sepulcral a respeito de fato de tamanha gravidade e significação para o futuro da América Latina, é algo que desafia a compreensão humana.
P.S.: Logo após ter dado sua colaboração à monumental farsa chavista-narcoterrorista, o Apedeuta viajou a Cuba, onde anunciou investimentos da ordem de US$ 1 bilhão para ajudar a salvar a economia da ilha-prisão, e aproveitou para prestar reverência a seu ídolo e companheiro de longa data, Fidel Castro. Na ocasião, em mais uma demonstração inequívoca de sonsice e caradurismo sem limites, nosso Grande Timoneiro disse aos jornalistas em Havana que condena o seqüestro como arma política. Tudo fingimento. Se Lula realmente condena os seqüestros das FARC, o que fazia ele prestigiando a quase cinqüentenária ditadura castrista, que apóia as FARC e que tem há anos sob seu poder dezenos de presos políticos, oficialmente seqüestrados pelas autoridades cubanas pelo terrível crime de pensarem diferente e pedirem liberdade para a ilha? Além do mais, se é de seqüestro que se está falando, o regime cubano é campeão mundial na matéria, pois mantém em cativeiro, literalmente seqüestrada, a totalidade de sua população, mais de 11 milhões de pessoas, que não vêem outra esperança de uma vida melhor senão atirar-se ao mar e fugir para Miami. Destino que será certamente também de milhões de colombianos e venezuelanos, caso as FARC se apossem do poder um dia e Hugo Chávez transforme em realidade seu projeto de ditadura perpétua. E também de boa parte da população brasileira, se tantos parvos continuarem dando crédito ao que diz o Grande Embromador.
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