terça-feira, junho 19, 2007

UM NOVO FEBEAPÁ


É do falecido jornalista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, a autoria de uma das obras mais divertidas das últimas décadas. Seu "Febeapá": Festival de Besteiras Que Assola o País - tão extenso que precisou ser dividido em três partes - continuará a ser lido por gerações como uma pérola do anedotário nacional, demonstrando toda a burrice, a estupidez e a cretinice de sua época. Um verdadeiro retrato de seu tempo, digno de um Balzac e melhor do que muito livro de história ou ensaio sociológico.

Infelizmente, como escrevia em 1966, 67, 68, Stanislaw Ponte Preta limitou-se a elencar as bobagens dos que estavam no poder no Brasil de então, após a "Redentora" de 64, esquecendo-se que, do lado da esquerda, o manancial de besteiras é ilimitado. Se vivesse no Brasil lulista de hoje, o jornalista carioca teria material de sobra para vários outros volumes de sua obra. Desconfio, até, que nem saberia por onde começar.

No Brasil lulista, sob patrocínio oficial, o festival de besteiras bateu todos os recordes, atingiu proporções nunca dantes atingidas, e que dificilmente serão superadas. Sua principal fonte, claro, é o supremo mandatário da nação, o Apedeuta-Mor, aquele cuja mãe nasceu analfabeta - e o qual, orgulhosamente, mantém a tradição familiar, com o aplauso de intelectuais inebriados pelo espetáculo da ignorância popular e voluntária. Mas ele não é a única fonte. Juntamente com o Grande Molusco, veio toda uma plêiade de militantes, ongueiros e tutti quanti que viram em sua ascensão a oportunidade ideal para dar vazão a suas picaretagens politicamente corretas. Parafraseando uma grande filósofa do lulismo, que ocupa uma das Pastas de seu governo, estão relaxando e gozando.

Vou dar alguns exemplos, que considero os mais ilustrativos:

- Na Universidade de Brasília, dois irmãos gêmeos univitelinos candidatam-se pelo sistema de cotas raciais, que reserva 20% das vagas para estudantes que "comprovarem" ser afro-descendentes (negros e pardos). A comissão examinadora da referida universidade, em sua infinita sapiência, aplica um dispositivo previsto na lei aprovada em 2003 por pressão do "movimento negro" e reserva uma vaga a um dos irmãos, decidindo por decreto que se trata inegavelmente de um negro, enquanto o outro é rejeitado, por ser, segundo a comissão, branco como neve. Agora o detalhe surpreendente: a brancura ou negrura dos gêmeos idênticos foi examinada por foto. Em resumo: ser branco ou negro, no Brasil, deixou de ser uma questão genética ou mesmo racial, passando a depender da iluminação do estúdio fotográfico ou da qualidade da impressão. Mais grave ainda, tal sistema de classificação racial, que está sendo adotado em várias outras instituições oficiais do Estado e que institucionaliza o racismo em nome da reparação de supostas injustiças históricas, em um país de população majoritariamente mestiça, é considerado por seus idealizadores um avanço na luta contra o... racismo. Acredite se quiser.
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- Encontra-se em exame, no Congresso Nacional, um projeto de lei (PLC 122/06), que classifica a homofobia, ou seja, o preconceito ou discriminação contra homossexuais, como crime. Alegam os peticionários que tal dispositivo legal seria uma conquista dos direitos humanos, pois constituiria um poderoso instrumento de proteção de uma parcela da população supostamente marginalizada e alvo freqüente, segundo dizem, de atentados e violências de toda espécie. O problema é que, de acordo com o referido projeto de lei, passa a ser ilegal, por exemplo, um padre ou pastor protestante citar a Bíblia para falar mal da opção sexual de alguns, ou mesmo alguém fazer piadas e brincadeiras sobre o assunto. Quem ousar referir-se, de maneira pejorativa ou brincalhona, aos trejeitos afeminados do colega gay ou expressar seu ponto-de-vista contrário a que dois homens ou duas mulheres partilhem a mesma cama, poderá ter a oportunidade de fazê-lo na cadeia, no xilindró. Trocando em miúdos: quase ninguém, ao que parece, percebeu que tal projeto de lei, a pretexto de defender os direitos de uma minoria - gays, lésbicas, travestis, transsexuais etc. -, coibe na prática o direito da maioria de dizer o que pensa ou de praticar livremente sua religião, obrigando todos a assumir uma postura reverente ou a calar-se diante do gosto sexual dessa minoria. Desse modo, assim como no caso das cotas raciais, estabelece-se uma estranha distinção entre duas categorias de cidadãos: os heterossexuais, tidos a priori como tacanhos e preconceituosos, e os homossexuais, titulares de um direito exclusivo e acima do resto da humanidade. Um passo rumo a uma nova forma de governo: a homocracia ou pederocracia.

- A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça acaba de conceder ao falecido ex-capitão do Exército Carlos Lamarca a patente de coronel. Com isso, sua viúva passa a ter direito de receber pensão equivalente a de general e seus filhos, que, por força da opção revolucionária do pai, tiveram de sair do país, vão receber uma indenização do Estado no valor de R$ 100 mil, o que comprova a afirmação de Millôr Fernandes, de que os terroristas (ou guerrilheiros, como prefere a esquerda) estavam, na verdade, investindo em seu patrimônio. Lamarca desertou do quartel em que servia em 1969, levando armas e munição, para se juntar à luta armada contra o regime militar. Praticou assaltos e seqüestros, tendo sido responsável pelo assassinato de vigilantes de banco e de seguranças de embaixadores estrangeiros, além de ter ordenado a execução, a coronhadas, de um tenente da Polícia Militar que se encontrava dominado e amarrado, em 1970. Lamarca foi morto em 1971, no sertão da Bahia, pelas forças de segurança da ditadura. Em 1996, sua família recebeu uma indenização do Estado, que concluiu que ele foi executado, sem chance de defesa. Lamarca foi vítima da ditadura. Mas, ao abandonar o Exército, tornou-se um desertor e, como tal, não poderia ter direito a promoção póstuma, o que constitui, inegavelmente, uma afronta às Forças Armadas. Nem tampouco ser enaltecido como um lutador pela liberdade e democracia, já que seu objetivo era instalar, em terras brasileiras, uma ditadura comunista, nos moldes da vigente em Cuba. Onde, aliás, os dissidentes não têm qualquer direito, mesmo póstumo.

- Em outubro de 2005, realizou-se um referendo para decidir sobre o desarmamento da população. Na propaganda a favor da iniciativa, que partiu de ONGs e movimentos "pela paz", alegava-se que a medida - a proibição, pura e simples, da compra e venda de armas - teria como resultado a diminuição dos assustadores índices de violência no País. Esqueceu-se de dizer, porém, que tal medida já é adotada em países como a Jamaica, que tem um nível altíssimo de criminalidade e mortes por armas de fogo, enquanto a Suiça, por exemplo, convive com uma legislação que dá ao cidadão o direito de dormir com um fuzil do exército debaixo da cama, sem que haja, por causa disso, assassinatos em escala industrial. Mais que isso: países como os EUA, em geral mencionados como exemplos de falta de controle estatal sobre a circulação de armas, possuem um nível de assassinatos muito inferior ao do Brasil, com todas as restrições legais à posse e porte legal de arma. Esqueceu-se, aliás, que a legislação brasileira sobre armas, principalmente após a aprovação do Estatuto do Desarmamento, em 2003, é uma das mais restritivas do mundo para o cidadão comum que quiser adquirir um revólver calibre 38, mas não chega a impedir o comércio clandestino de armamento de guerra para os bandidos. Enfim, tentou-se vender a idéia de que o crime é resultado da própria existência de armas de fogo, como se estas disparassem sozinhas. Pelo mesmo critério, dever-se-ia proibir as cozinheiras de usarem facas ou os barbeiros de portarem navalhas.

A maioria da população, cerca de 64% dos votantes, rejeitou a proposta de desarmamento, mais por medo da bandidagem do que pela defesa da liberdade de escolha. Mas se tal medida fosse aplicada, teríamos hoje uma população ainda mais amedrontada diante da impossibilidade legal de escolher defender-se ou não diante da criminalidade bem-armada. Esta, provavelmente, torceu para que o "sim" vencesse no tal referendo.

Ilustrativos como são, esses são apenas alguns exemplos do festival de bobagens que vem tomando conta do Brasil desde que o lulismo chegou ao poder. Outros exemplos virão. Perto da avalanche de estultices produzida diariamente pelos lulistas, o Febeapá de Sérgio Porto chega a ser uma coletânea ingênua de bobagens inofensivas. É triste constatar, mas, sob a égide do lulismo, o Brasil ficou mais burro. Pelo andar da carruagem, estamos caminhando a passos largos para virarmos uma idiocracia.

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