segunda-feira, junho 11, 2007

O GANDHI DE GARANHUNS


Em viagem à Índia, país que certamente acreditava ser habitado por índios, o Presidente Luiz Inácio, ao deixar flores no mausoléu do principal líder da independência do país, o Mahatma Gandhi, novamente surpreendeu a todos. Perante os jornalistas, fez a seguinte declaração assombrosa: depois de ter lido um livro sobre Gandhi, adotou-o como a grande inspiração de sua vida política.

Imediatamente uma questão veio à mente deste que escreve estas linhas: que livro - sim, Lula confessou ter lido um livro! - nosso Grande Molusco leu sobre o Mahatma? Teria sido a biografia escrita por Arthur Koestler, na qual ele desnuda por completo o mito criado em torno do asceta indiano, que tinha por hábito, entre outras coisas, maltratar a esposa e dormir com suas sobrinhas adolescentes para "resistir à tentação" (na qual ele sempre caía)? Nesse caso, em que aspecto exatamente da vida do Mahatma nosso líder se inspirou mais: nas greves de fome - coisa de que Lula está muito distante de ser um adepto, haja vista sua silhueta -, ou na mania de exigir que todos usassem roupas de linho, mais caras do que os ternos bem cortados que costuma usar?

"Nada disso, seu elitista preconceituoso", certamente diria algum defensor ferrenho de nosso Presidente, que sempre os haverá em grande número, assim como as baratas. O que fez com que Lula dissesse ter em Gandhi uma fonte de inspiração política e intelectual é algo muito mais etéreo e imaterial, algo muito mais, digamos, simbólico do que real.
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Gandhi é quase universalmente louvado como um símbolo da paz, causa a que todos dizem aspirar e da qual Lula, com seus fomes zero e bolsas família, considera-se um paladino. Aliás, ele já teve seu nome indicado pelos companheiros petistas, há alguns anos, para disputar o Prêmio Nobel da Paz. Além disso, a inspiração gandhiana serviria para contrabalançar a admiração - esta sim, muito mais concreta e palpável - de Lula e seus companheiros por figuras não muito pacifistas, como Fidel Castro e Hugo Chávez, aquele que insultou o Congresso brasileiro, que Lula com tanto carinho comprou.
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É preciso reconhecer: Gandhi e Lula formariam um par perfeito. O líder indiano, cuja imagem é tão famosa quanto desconhecidas são suas idéias, seria um parceiro ideal para nosso santo homem, o Gandhi de Garanhuns, com seu discurso messiânico e abilolado. Como a imagem vale mais do que mil palavras - e, no caso de Lula e dos lulistas, palavras não valem muito mesmo -, a associação entre os dois tem fortes raízes na mentalidade popular, o que significa mentalidade mágica, pré-racional, com um toque de religiosidade mística. Lula e Gandhi são, para milhões de pessoas no Brasil e no mundo, o Gordo e o Magro das utopias.
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A imagem de Gandhi - ascética, as canelas finas de anacoreta -, tal qual um Antônio Conselheiro subnutrido, é um dos ícones mais fortes do Século XX. Com sua barba e linguajar de peão, suas metáforas futebolísiticas e culto da ignorância, Lula simboliza, para as elites instruídas, o Brasil real, o outro Brasil, do qual sempre mantiveram distância e com o qual, em suas consciências pesadas de filhos e netos da burguesia, gostariam de se redimir. Em nome desse mito cuidadosamente construído em décadas, estão dispostos mesmo a esquecer ou a fazer vista grossa para alguns deslizes, como o Mensalão e o Valerioduto, nos quais Lula, certamente, estava também sob inspiração divina - nesse caso, de S. Francisco de Assis, aquele do "é dando que se recebe".
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Para quem já se comparou a Tiradentes e a Jesus Cristo, dizer que se inspira em Gandhi é café pequeno. O poder realmente faz coisas incríveis na cabeça dos homens. Não duvidem: logo, logo, nosso Apedeuta vai aparecer com a mão no bolso do paletó, o olho vidrado e um chapeuzinho engraçado, imitando Napoleão. Aquele, que invadiu a China.

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