sábado, maio 05, 2007

MANGABEIRA UNGER, O PROFESSOR ALOPRADO*


Ex-brizolista, ex-mentor de Ciro Gomes e professor de Direito na Universidade Harvard, Roberto Mangabeira Unger é um dos intelectuais mais esquisitos que já apareceram debaixo do Equador. Com cara enfezada de poucos amigos, discurso pernóstico e um estranhíssimo sotaque gringo (embora seja brasileiro), ele era até há pouco tempo um dos críticos mais ferozes do governo petista. Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 15/11/2005, sob o título "Pôr fim ao governo Lula", o professor Mangabeira Unger escreveu o seguinte:

"AFIRMO que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos.

Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. (...) Desde o primeiro dia de seu mandato o presidente desrespeitou as instituições republicanas.(...)

Afirmo que o presidente, avesso ao trabalho e ao estudo, desatento aos negócios do Estado, fugidio de tudo o que lhe traga dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria ignorância, mostrou-se inapto para o cargo sagrado que o povo brasileiro lhe confiou. (...)"

Poucos dias atrás, o autor das linhas reproduzidas acima, o mesmo Roberto Mangabeira Unger que queria o impedimento de Lula, recebeu um convite para integrar o governo, como titular da recém-criada "Secretaria Especial de Ações a Longo Prazo" – já jocosamente apelidada de SEALOPRA –, com status de Ministro de Estado. Mangabeira Unger aceitou o convite na hora. Pouco depois, como que por encanto, seu artigo desapareceu de sua página de internet.

Qual a causa de tão súbita e radical transformação, verdadeiro giro de 180 graus? A resposta última para essa pergunta, claro, só pode ser encontrada na mente misteriosa desse estranho personagem. Uma coisa, porém, é certa: ao se lançar tão açodadamente para apanhar o rosbife atirado pelo governo que antes execrava com tanto furor, Mangabeira Unger provou pelo próprio exemplo pessoal aquilo que denunciava tão ferozmente em seu artigo de 2005: que o governo Lula é, de fato, o mais corrupto da história nacional, integrado por oportunistas e desonestos de todo tipo. Por isso, resolvi escrever o texto a seguir em sua homenagem:

AFIRMO que Mangabeira Unger aderiu ao governo mais corrupto de nossa história nacional. Adesão tanto mais nefasta por demonstrar a falta de honestidade, o oportunismo e a avacalhação de um intelectual que se pretendia sério e respeitado, mas que, no final, mostrou sua verdadeira face, abraçando aquilo que antes esconjurava em troca de uma parcela de poder.

Afirmo que, no artigo que publicou em 15/11/2005, no qual defendia o
impeachment de Lula, Mangabeira Unger não estava sendo sincero e que ele jogou no lixo todos seus anos de ensino e todos os livros que escreveu. De agora em diante, tudo que ele vier a dizer ou escrever não merece ser levado a sério.

Afirmo que Mangabeira Unger é um dos intelectuais mais desonestos que já apareceram no Brasil, o que não é coisa fácil, sendo capaz de sacrificar a própria reputação para usufruir as vantagens e benesses do poder.

Afirmo que Mangabeira Unger, ao deixar-se cooptar pelo lulismo, comprometeu-se para sempre com um presidente que, como ele mesmo afirmou, desde o primeiro dia de seu mandato desrespeitou as instituições republicanas.

Afirmo que Mangabeira Unger e seu partido, o PRB, não passam de instrumentos da avacalhação geral que tomou conta do país desde que o lulismo chegou ao poder.

Afirmo que, ao rejeitar tão descaradamente o que escreveu, Mangabeira Unger revelou-se não apenas desonesto e oportunista, mas leviano. Ele se mostrou o maior dos lulistas, pois segue à risca os ensinamentos do apedeuta, que confessou ter vivido de bravatas até sua chegada ao poder.

Afirmo que Mangabeira Unger deve desculpas não a Lula, por tê-lo definido, corretamente aliás, como um governante omisso e preguiçoso, mas ao povo brasileiro, que ele, Mangabeira Unger, tão desavergonhadamente enganou.

Afirmo que Mangabeira Unger, ao retirar seu artigo com ataques a Lula de sua página na internet, revelou não apenas oportunismo, mas covardia intelectual, repetindo o método stalinista de tentar "reescrever" a história, simplesmente fazendo desaparecer dos registros oficiais imagens ou textos considerados inconvenientes (infelizmente para ele, hoje existe a internet).

Afirmo que a repetição perseverante dessas verdades em todo o país acabará por acender, no coração dos brasileiros, uma chama que reduzirá a cinzas um sistema que hoje se julga intocável e perpétuo - e do qual Mangabeira Unger aceitou fazer parte, como mais um de seus aloprados.

Afirmo que, menos de dois anos depois de seu artigo na
Folha de S. Paulo, o dever de todos os cidadãos é negar o direito de Mangabeira Unger de querer engabelar a todos novamente, tentando justificar sua adesão aos que corromperam e esvaziaram as instituições republicanas, apelando para lugares-comuns como "a situação mudou" e "Lula não teve nada a ver com a crise". Tais alegações são um insulto à inteligência, um atentado contra a razão.

É coisa, enfim, de um verdadeiro aloprado.


P.S.: Se quiserem ler a íntegra do artigo de 15/11/2005 de Mangabeira Unger, acessem o site http://www.estadaocom.br/ultimas/nacional/noticias/2007/abr/24/347.htm.



* Texto publicado neste blog originalmente em 27/04/2007, e republicado por motivos de melhor editoração.

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