O Brasil é o país da bagunça. É a terra da esculhambação. Até aí, nenhuma novidade. Você, certamente, já ouviu isso antes. Sempre foi assim e, provavelmente, sempre será. É algo de que não podemos fugir: é nosso destino nacional, está no nosso código genético, no nosso DNA.
Sim, mas e daí?, você deve estar se perguntando. Daí que o atual governo brasileiro conseguiu uma proeza quase inacreditável: o lulismo avacalhou o Brasil, esculhambou a própria esculhambação, levando-a a níveis nunca dantes alcançados na terra papagalis. Parafraseando Lula, "nunca antes neste país", roubou-se tanto, tão descaradamente, tão alegremente, tão impunemente.
A cada dia, o Grande Molusco surpreende a todos, superando todos os recordes na área. Sob o lulismo, os índices de deboche e de escracho atingiram um ponto além da imaginação. Antes dele, éramos malandros (ou metidos a malandro), pândegos, esculhambados, corruptos. Com ele, descobrimos que podemos ser muito mais, que não há limites para a embromação humana. Afinal, somos brasileiros e não desistimos nunca, lembram?
A crônica do lulismo pode ser contada em rápidas pinceladas. Primeiro, foi o deslumbramento com a vitória do "presidente-operário", a festa da posse, as multidões extasiadas atirando-se aos pés da Grande Divindade, jogando-se histericamente em direção ao carro presidencial, tal como índios em transe, possuídos de enlevo supersticioso diante de um totem. Depois, os primeiros sinais de desgaste, e então... decepção! Veio Bob Jefferson, das entranhas do governo, e chutou o pau da barraca. Um a um, caiu toda a cúpula petista: Zé Dirceu, Genoíno, Silvinho, Delúbio... Para muitos, foi o fim do petismo, o desmascaramento de um mito, algo comparável apenas ao mar de lama que tomou conta do governo Collor, quinze anos atrás. No entanto...
No entanto – surpresa! –, eis que Lula sobreviveu à crise, livrou-se de seus incômodos aliados esquerdistas, fez novos aliados ("novos" é maneira de falar, se é que se pode dizer que Sarney, Collor e Jader Barbalho são algo "novo" na política brasileira), e – para espanto de muitos, que já o julgavam um lame duck, um pato manco, como se diz nos EUA – conseguiu reeleger-se com grande votação. Mesmo com o barco governista fazendo água, e mais um escândalo – mais um! – estourando às vésperas da eleição, o lulismo levou o bicampeonato. Quanto á corrupção, nem adianta insistir: Lula já disse que isso não tem nada a ver com ele, que não está nem aí – e muita gente, sem querer contrariar o Grande Pai, diz amém.
No entanto – surpresa! –, eis que Lula sobreviveu à crise, livrou-se de seus incômodos aliados esquerdistas, fez novos aliados ("novos" é maneira de falar, se é que se pode dizer que Sarney, Collor e Jader Barbalho são algo "novo" na política brasileira), e – para espanto de muitos, que já o julgavam um lame duck, um pato manco, como se diz nos EUA – conseguiu reeleger-se com grande votação. Mesmo com o barco governista fazendo água, e mais um escândalo – mais um! – estourando às vésperas da eleição, o lulismo levou o bicampeonato. Quanto á corrupção, nem adianta insistir: Lula já disse que isso não tem nada a ver com ele, que não está nem aí – e muita gente, sem querer contrariar o Grande Pai, diz amém.
Confirmado no poder, Lula está se sentindo o tal, com a corda toda. Algum marqueteiro a seu serviço inventou um tal de PAC – do verbo empacar – para tentar vender a idéia, é o que diz o governo, de "destravar" o País em quatro anos (destravar a própria língua, coisa que Lula teve mais de vinte anos para fazer, ele não fez, mas não sejamos preconceituosos...), prometendo, como sempre, mundos e fundos. De tão confiante na amnésia nacional, nosso mandatário supremo já se acha no direito de dar lições até mesmo à Sua Santidade em pessoa. Na campanha, Lula beijou a mão do companheiro Jader Barbalho, mas se recusou, em nome do Estado "laico" – palavrinha cujo significado ele aprendeu recentemente, e que acrescentou às duas dúzias que já domina no idioma português – a beijar a do Papa quando este visitou o Brasil, semanas atrás.
Agora, um novo escândalo – mais um! – explode sobre o Palácio do Planalto, e lá se vai mais um ministro, cujo nome em breve esqueceremos, apanhado na roubalheira, e nem nos importamos mais. Enquanto isso, surgem sinais de que a Polícia Federal – subordinada ao comissário Tarso Genro, o pai daquela louquinha de voz infantil e cabelo encaracolado – anda se comportando como uma NKVD tropical, vazando de propósito informações para prejudicar quem não dança de acordo com o governo. Estamos todos como que submetidos a algum estranho encanto, a algum sortilégio misterioso, capaz de anestesiar as mentes e embotar a razão. Desde a ascensão do lulismo ao poder, o País entrou em estado de letargia, de hipnose coletiva, como se a perplexidade e a falta de senso crítico – ou de vergonha na cara – tivesse tomado conta de tudo e de todos. A maioria dos brasileiros, diante da corrupção lulista, comporta-se como o marido traído que, tendo pego a esposa em flagrante de adultério, recusa-se a acreditar nos próprios olhos. A verdade é simplesmente dura demais, feia demais, para que a encaremos sem cair das nuvens, sem acordar de nossos sonhos cor-de-rosa.
Agora, um novo escândalo – mais um! – explode sobre o Palácio do Planalto, e lá se vai mais um ministro, cujo nome em breve esqueceremos, apanhado na roubalheira, e nem nos importamos mais. Enquanto isso, surgem sinais de que a Polícia Federal – subordinada ao comissário Tarso Genro, o pai daquela louquinha de voz infantil e cabelo encaracolado – anda se comportando como uma NKVD tropical, vazando de propósito informações para prejudicar quem não dança de acordo com o governo. Estamos todos como que submetidos a algum estranho encanto, a algum sortilégio misterioso, capaz de anestesiar as mentes e embotar a razão. Desde a ascensão do lulismo ao poder, o País entrou em estado de letargia, de hipnose coletiva, como se a perplexidade e a falta de senso crítico – ou de vergonha na cara – tivesse tomado conta de tudo e de todos. A maioria dos brasileiros, diante da corrupção lulista, comporta-se como o marido traído que, tendo pego a esposa em flagrante de adultério, recusa-se a acreditar nos próprios olhos. A verdade é simplesmente dura demais, feia demais, para que a encaremos sem cair das nuvens, sem acordar de nossos sonhos cor-de-rosa.
Mas o que é o lulismo?
O lulismo não é uma ideologia, nem uma teoria, nem mesmo uma corrente política, como o foram, em sua época, outros ismos semelhantes: o marxismo, o fascismo, o lacerdismo, o janismo, o ademarismo, o malufismo. Não. O lulismo é algo mais, uma força muito mais profunda e sinistra, algo muito mais entranhado na psique coletiva nacional. O lulismo é a avacalhação do Brasil porque eleva à máxima potência e leva às últimas conseqüências do caradurismo (outro ismo!) aquilo que há de pior no Brasil e nos brasileiros: a ambigüidade moral, a desonestidade, a malandragem, o – olha os ismos aí de novo – clientelismo, o fisiologismo, o compadrismo, o puxa-saquismo, o patrimonialismo. Em bom português: o levar vantagem, a cafajestice, a indolência, a sem-vergonhice, a safadeza.
Um exemplo: a economia vai bem, mas isso não é obra dos lulistas. Pelo contrário: estes já pegaram o bonde andando, tendo-se beneficiado de reformas – incompletas, aliás – iniciadas no governo anterior, contra as quais se opuseram, à época, com todas as forças, assim como do bom momento por que passa a economia mundial – a famigerada globalização contra a qual berram sem parar muitos lulistas. Mesmo sendo contra, os lulistas se apropriaram dos frutos dessas reformas e dessa mesma globalização, sem qualquer pudor ou arrependimento – afinal, se você não tem uma idéia melhor que a de seu adversário, por que não roubá-la? O importante, no final das contas, é o "poder" – e, para conservá-lo, vale de tudo, até copiar e aproveitar-se do que sempre se criticou. Confissão? Arrependimento? Honestidade? Para quê?
Engana-se quem acha que o lulismo é um fenômeno de esquerda, ou que se circunscreve ao PT e seus simpatizantes. Há lulistas em todos os partidos, em todas as tendências políticas. Há lulistas no PT, no PMDB, no PSDB, no ex-PFL (agora DEM), em partido nenhum. Lulistas católicos, evangélicos, espíritas, budistas, ateus. Lulistas governistas e de oposição. Do contra e do a favor. Lulistas pró-Lula e até mesmo contra Lula. Há lulistas de esquerda, mas também de centro e de direita, sem falar, claro, do principal exemplar da política nacional – o político sem cor política, sem ideologia, sem caráter e sem-vergonha, faminto por verbas e interessado apenas em "se dar bem", seja de que lado for (de preferência no lado do governo, pois é sempre melhor ficar do lado de quem tem as chaves do cofre).
Engana-se quem acha que o lulismo é um fenômeno de esquerda, ou que se circunscreve ao PT e seus simpatizantes. Há lulistas em todos os partidos, em todas as tendências políticas. Há lulistas no PT, no PMDB, no PSDB, no ex-PFL (agora DEM), em partido nenhum. Lulistas católicos, evangélicos, espíritas, budistas, ateus. Lulistas governistas e de oposição. Do contra e do a favor. Lulistas pró-Lula e até mesmo contra Lula. Há lulistas de esquerda, mas também de centro e de direita, sem falar, claro, do principal exemplar da política nacional – o político sem cor política, sem ideologia, sem caráter e sem-vergonha, faminto por verbas e interessado apenas em "se dar bem", seja de que lado for (de preferência no lado do governo, pois é sempre melhor ficar do lado de quem tem as chaves do cofre).
Assim como extravasa o PT, o lulismo vai além do próprio Lula, impregnando tudo, contaminando qualquer coisa que estiver a seu alcance, cada porção da sociedade, como uma bolha assassina. Não importa o que se faça, é impossível ficar imune a ele. O lulismo entrou em cada casa, em cada sala, contagiando a todos, deixando sua marca, como o mosquito da malária ou uma febre tropical. Faça um teste e veja se você se enquadra no figurino:
Você está indignado com a corrupção do governo Lula, mas no final dá de ombros, pois "todos fazem igual"? Então você é lulista.
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Você crê que Lula é um governante corrupto e incapaz, além de incompetente e ignorante, mas acha que, no fundo, ele tem boas intenções e está fazendo um governo voltado para os mais pobres e para corrigir as injustiças sociais? Você é lulista, com certeza.
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Você indignou-se com a sucessão de escândalos, como o caso Waldomiro, Zé Dirceu, os dólares na cueca, Genoíno, o dossiêgate etc., e, como o professor Mangabeira Unger, até defendeu o impeachment de Lula em 2005, mas hoje pensa que a hora de tirá-lo do poder passou, e que no final o tempo tratará de apagar tudo da memória? Você é lulista, pode apostar.
Você esfregou as mãos com os escândalos, vendo neles uma oportunidade de "deixar Lula sangrar" nas eleições de 2006, para que outro candidato pudesse vencer nas urnas, reduzindo a corrupção a uma mera questão eleitoral, e não penal? Você é lulista também.
Você considera Lula um "traidor do povo e do PT" e um corrupto por ter adotado as mesmas políticas "neoliberais" de FHC, e votou em Heloísa Helena ou em outro maluco de extrema esquerda? Não tenha dúvidas: ainda que ache que não, você é o maior dos lulistas.
Você prefere ver Lula no poder, embora mal o suporte, porque afinal você prefere um governo "popular" a um "de direita"? Você é um lulista de primeira hora.
Você discorda de tudo no governo, acha-o um desastre, mas aplaude sua política externa "altiva" e "independente"? Você é lulista, sim senhor.
Você torce o nariz para Lula e seus ministros, mas ainda assim o considera um antídoto contra a atual onda de populismo na América Latina? Acredite, você é um lulista de carteirinha.
Atualmente, uma exposição fotográfica no Conjunto Nacional, o shopping center mais popular de Brasília, dedica-se a louvar a figura de Lula, mostrando-o em poses ao lado de seus eleitores, segurando criancinhas etc. O título da exposição: "Somos milhões de Lulas". E somos mesmo. O lulismo não só vai além de Lula, como é anterior a ele. É, aliás, anterior ao próprio PT, á própria esquerda. Ele estava representado no Grito do Ipiranga, na Primeira Missa, nas Caravelas de Cabral. Em tudo que de pior Portugal trouxe para o Brasil. Em tudo que somos e não queremos admitir. É a quintessência do Brasil.
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