Se tem uma coisa que nunca vai deixar de me surpreender é a cara-de-pau dos petralhas, e quão profundamente o lulopetismo penetrou no imaginário coletivo, anestesiando a todos.
Vejam o mais recente escândalo de corrupção a estarrecer o país, o caso do senador (sem partido, ex-DEM), Demóstenes Torres. Sabendo que os companheiros iriam aproveitar a deixa para fazer a velha demagogia oportunista de sempre e tentar desviar a atenção de suas maracutaias (dito e feito: está em pleno andamento uma operação-abafa do mensalão no STF, com a participação ativa do presidente do PT, Rui Falcão), publiquei aqui uma série de posts mostrando a diferença de tratamento pelos próprios partidos a politicos do DEM apanhados com a boca na botija e a notórios ladravazes petistas, "blindados" pela máquina partidário-estatal. Tentei, com isso, mostrar como os ladrões petistas sempre se dão bem, pois afinal, ao contrário dos demais, eles têm pedigree (além de uma imprensa em geral dócil e muitos, muitos amigos e simpatizantes).
Que ingenuidade a minha! A rede de corrupção montada por Carlinhos Cachoeira, sabe-se com cada vez mais detalhes, era muito maior do que se imaginava. Não se restringia a um senador teoricamente oposicionista (ainda vamos inventar a oposição governista) que, não importa se seja absolvido ou não, já foi expulso da política. Atingia - oh, surpresa! - alguns cardeais do lulopetismo, como o atual governador do DF, Agnelo Queiroz. Cheguei a mostrar uma foto de Demóstenes e uma de Agnelo, já enrolado em outras ladroeiras, como se fizessem parte de esquemas diferentes... (Aliás, foi Cachoeira o pivô do primeiro escândalo da era lulopetista, o caso Valdomiro Diniz, em 2004, lembram?) Como se vê, para apanhar um petralha, nem precisa mirar: atire uma pedra para cima escrito "corrupto" que ela cairá na cabeça de um deles.
Mas não é sobre isso que quero falar. Os fatos estão aí, há farto material para quem quiser se informar e se horrorizar. O que me chama realmente a atenção, nessa pornochanchada sem fim que já virou a política brasileira, é como o discurso dos petralhas se metamorfoseou desde o momento em que a esquerda, no Brasil, deixou de ser pedra para se tornar vidraça. É aqui que a desonestidade desse pessoal se revela em todo seu despudor. Façamos um pequeno exercício de memória.
Acredito que todos que tenham mais de 30 anos lembram bem: de 1980 a 1992, ou seja, da criação do PT até o impeachment de Collor, o discurso da esquerda sobre ética eram um, e, desde então, é outro, completamente diferente. Em um primeiro momento, digamos até 92, a denúncia da corrupção (ou dos "malfeitos", como diria a Poderosa) era desdenhada como "moralismo burguês" - o importante era fazer a "revolução", o "socialismo" etc. A revolução não veio, então trataram de reinventar o discurso. Da queda de Collor em diante, o PT e seus aliados esquerdistas adotaram com gosto o discurso moralista, descobrindo a "ética na política". E não apenas isso: sendo a corrupção "de direita" - ainda hoje há muitos que pensam assim -, o PT e seus aliados não eram somente os paladinos da ética e da virtude, mas os únicos realmente limpos e honestos em meio a um mar de pilantras. Enquanto foi útil, essa teoria foi repetida à exaustão, sendo usada para enganar milhões de otários.
Como se sabe, o governo Lula desmoralizou totalmente essa tese, expondo a falácia da corrupção como apanágio da "direita" - o mensalão, especialmente, revelou-se superior a qualquer coisa que a "direita", seja lá o que isso signifique no Brasil, fez, faz ou fará um dia. Ganhou corpo, então, uma nova metamorfose no discurso lulopetista, agora oficial: em vez do "somos diferentes", entrou em cena o "somos iguais". Ou seja: passou-se, num salto, do autoproclamado monopólio da virtude à banalização da corrupção, com todos os políticos atirados na mesma vala comum. O raciocínio era: "já que fomos desmascarados, vamos jogar lama para todos os lados; assim, enlameados todos, fica impossível distinguir quem é quem". Que melhor jeito de salvar a própria cara do que o vigarista que, apanhado em flagrante, diz cinicamente, "sou, mas quem não é?" Muitos, inclusive varios antipetistas, cairam nessa armadilha, resignando-se diante da impressão de que são todos "farinha do mesmo saco" etc.
Tanto um discurso quanto o outro são, obviamente, grossas empulhações, verdadeiros engana-trouxas. Enquanto se apresentava como o supra-sumo da ética e da honestidade, sabe-se hoje, o PT preparava na surdina o maior esquema de corrupção da História do Brasil. Agora, com a tese oposta do "são todos iguais", o que pretende, na verdade, é desviar a atenção de sua excepcionalidade política, assim como salvar o discurso esquerdista sobre corrupção. Aqui e ali vejo alguém que se diz desencantado com o lulopetismo - quase sempre, um ex-petista envergonhado - dizer, num sociologuês de pé-sujo, que o buraco é mais embaixo porque - afirma com ares de grande contrição - a raiz da roubalheira não deve ser buscada nesse ou naquele partido, mas no "sistema", ou melhor, no "capitalismo" etc. Não seriam os partidos, nem os programas, nem mesmo os homens, mas ele, o terrível, o inefável "sistema", o responsável por tentar a humanidade e desviá-la do mau caminho. Contra esse monstro implacável, esse Leviatã, é inútil tentar resistir etc. etc.
Não é preciso muito tutano para perceber que isso é mais uma mentira, uma tentativa tosca e cínica de diluir responsabilidades e salvar a face da esquerda depois que esta perdeu o monopólio da verdade e da virtude.
Trata-se de uma mentira, em primeiro lugar, pois se existe algo incompatível com a corrupção é o... capitalismo. Não o capitalismo dos companheiros, o capitalismo de Estado dos eikes batistas e dos fundos de pensão inaugurado por Lula et caterva - e que muitos economistas acham uma maravilha -, mas o capitalismo de verdade, o qual, para funcionar, exige regras claras e precisas, separação das esferas pública e privada - e rigidez moral. Fico pensando o que aconteceria se fosse descoberto em Washington um esquema de compra de votos de parlamentares pela Casa Branca. O governo cairia, com certeza. Nixon caiu por muito menos. (Já nos países socialistas esse problema nunca existiu, claro: a imprensa censurada dava um jeito de não mostrar o que acontecia...)
Toda a lengalenga sobre a corrupção ser "de direita" ou "inerente ao capitallsmo" (o que na prática é o mesmo discurso vigarista) serve apenas para esconder o fato inegável: sob a hegemonia petista, a corrupção, que sempre existiu no Brasil, tornou-se um sistema de poder, a forma mesma de exercer a autoridade estatal. Aqui, sim, pode-se falar de um "sistema", no pior sentido da palavra.
Não sei se a corrupção é uma patologia moral, ou se é algo inerente à natureza humana, como dizem os psicólogos. Sei apenas que roubar por roubar, para satisfazer um instinto egóico ou pela pura e simples sede de lucro, é uma coisa; roubar como um sistema de poder - e o que os lulopetistas criaram nos últimos dez anos é um sistema de poder baseado no loteamento do Estado, não há dúvida - é outra, infinitamente pior.
Já escrevi aqui e repito: não, os petralhas não são iguais aos outros políticos; são piores! Uma coisa é o batedor de carteira ou vigarista individual que vive de aplicar golpes; outra é a construção de uma máquina política que se alimenta do aparelhamento estatal e do fisiologismo para sobreviver e se expandir, apelando, enquanto saqueia o erário, para objetivos pretensamente elevados e altruístas. Em um caso, basta chamar a polícia; em outro, é preciso uma verdadeira reprogramação neurolinguística. Comparar os dois é como comparar uma pulga e um elefante.
A perplexidade de grande parte da intelectualidade diante de fenômenos como a corrupção lulopetista ou de casos como o do senador Demóstenes Torres (que também é parte dela) não passa de teatralidade e de farisaísmo de quem sempre concordou, no fundo, com a tese da corrupção "de direita" e que hoje, na impossibilidade prática de sustentar tamanha falsidade, busca desesperadamente no "sistema" um bode expiatório. Trata-se tão-somente de mais um embuste, mais um engodo destinado a enganar os incautos e colocar a culpa num ente coletivo abstrato - o capitalismo, o "individualismo", o "consumismo" etc. O que se pretende, com isso, é negar a responsabilidade individual e atacar a democracia - vista sempre como "liberal" ou "burguesa". Enfim, a mesma velha cantilena marxistóide e anticapitalista de sempre, agora requentada e apresentada com outro rótulo. Antigamente, chamava-se a isso de dialética. Mas podem chamar de pilantragem, mesmo.
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