Durante anos, alimentei a esperança de que era possível debater racionalmente com gente da esquerda. Acreditava, então, que era factível sentar para conversar e trocar idéias com quem segue os ensinamentos de Marx e Lênin, como pessoas civilizadas. Vã ilusão. Depois de várias tentativas, percebi finalmente que aquela era uma busca ingênua, que eu estava à procura do inalcançável.
Já me resignei diante do fato de que jamais verei um Noam Chomsky debatendo, por exemplo, com um Roger Scruton, ou um Emir Sader fazendo o mesmo com um Olavo de Carvalho. Sempre que eu tentava chamar algum esquerdista para o debate, para o confronto de idéias, encontrava apenas evasivas ou era coberto de insultos. Quando eu abordava algum deles e questionava sobre a contradição entre se dizer a favor da democracia e gritar vivas, ao mesmo tempo, à ditadura comunista de Cuba, eu era brindado, em vez de respostas, com frases como “não vou discutir com um burguês como você”. O mesmo neste blog: vez ou outra, alguém me cobre de ofensas, inclusive pessoais, mas nunca – nunca, jamais – alguém da sinistra me escreveu para debater qualquer assunto.
É impossível debater com a esquerda, porque ela não quer. Um debate é um momento em que duas ou mais pessoas racionais, num exercício de humildade intelectual, colocam suas teses e crenças à prova, testando-as sob o escrutínio de argumentos contrários e buscando encontrar a verdade. Para tanto, é necessário um mínimo de honestidade e de boa-fé. Não é o que ocorre com os militantes da esquerda. Não se pode debater com eles, pois não há debate possível com quem está plenamente convencido que encontrou a verdade. Afinal, se eu sou o futuro, o outro lado só pode ser o passado; se eu represento o bom, o belo e o justo, meus adversarios só podem representar o mau, o feio e o injusto. Então, para quê debater?
Não há debate quando um dos lados está convicto de que sua crença é a verdade revelada. Nessas condições, o debate vira monólogo, oportunidade de gritar slogans e mero exercício de propaganda ideológica. Nada de revisar o dogma e de contrapor-lhe novos fatos e evidências, mas de reafirmá-lo, de repisá-lo, pois não há nada de novo que possa ser acrescentado; trata-se apenas de repetir o que já está escrito, como faziam os monges da Idade Média. O lado adversário, por sua vez, passa a ser visto apenas como o “inimigo”, um “reacionário”. Diante de um sujeito assim tão incômodo, os esquerdistas fingem um ar estudado de superioridade afetada ou, no caso dos mais idiotas, tascam-lhe logo um “fascista” – epíteto usado para desqualificar todos aqueles que pensam diferente deles próprios, esquecendo-se que essa tática de fugir ao debate e desqualificar o adversário é típica dos… fascistas (eu mesmo, há alguns meses, tive meu discurso tachado de "proto-fascista" por um membro da ala "moderada" do esquerdismo aguado travestido de alto pensamento filosófico).
É impossível discutir racionalmente com alguém que está imbuído de uma “missão” histórica redentora da humanidade, e que tem a necessidade psicológica, exatamente por isso, de reafirmar e reconfirmar o tempo todo essa crença messiânica (tanto para os outros quanto para si mesmo). Qualquer coisa diferente disso – o confronto com opiniões discordantes, por exemplo – não passa, na cabeça dessas pessoas, de um desvio, de uma forma de afastá-las da “luta”. Não se vai para a guerra para debater com o inimigo, mas para eliminá-lo.
A idéia de um debate franco e honesto com um esquerdista, seja radical ou “moderado”, é tão absurda quanto esperar pluralidade de idéias em um partido de esquerda. O conceito de debate, para os esquerdistas, é inseparável da propaganda, está baseado no que Lênin chamava de “centralismo democrático” – o debate é permitido, desde que seja a favor do socialismo… Ou seja: é livre a manifestação do pensamento, mas apenas se o pensamento em questão estiver de acordo com os objetivos da revolução proletária. É exatamente essa reafirmação, intra muros, do dogma que os esquerdistas chamam de “debate”. Qualquer coisa diferente disso – ou seja: qualquer coisa além da própria grei – deve ser evitada e suprimida. Daí que todos aqueles que destoam do coro geral, ou seja, todos os que não são esquerdistas, devem ser reduzidos ao mais absoluto silêncio: transformados em párias, cercados por uma cortina de ferro pelos que controlam os meios de informação (quase todos, hegemonizados pelo unanimismo esquerdista), não se deve sequer mencioná-los.
Mas, se não é possível debater com esquerdistas, o que resta fazer? Resta denunciar suas imposturas, desmascará-los como os charlatães que são, expor suas óbvias inclinações totalitárias. Acima de tudo, pode-se e deve-se retirar o véu que impede que muitos vejam o que tanto se esforçam em esconder: que suas posições são incompatíveis com a democracia. A fuga do debate é uma prova disso.
É claro que o que falei acima vale também para extremistas de outras ideologias. A esquerda, como se sabe, não tem o monopólio da intolerância. Mas jamais vi, pelo menos no Brasil, um professor de Filosofia ou de Sociologia abertamente de direita e que se arrogasse, ainda por cima, a exclusividade do “debate". Jamais vi alguém assim posando de único e legítimo defensor da liberdade contra a censura. Esse papel tem sido exercido, há décadas, pelos esquerdistas, levando ao esquecimento do fato de que, quando se opunham à censura (na época do regime militar, por exemplo) estavam reivindicando a liberdade de expressão e de opinião não para todos, mas somente para eles próprios. A liberdade, enfim, de negar a liberdade para todos os que os questionem. O unico debate admitido pelos esquerdistas é entre eles mesmos. Foi assim ontem, é assim hoje.
3 comentários:
PROF GUSTAVO- DE UMA OLHADA NESTE SITE
http://www.observadorpolitico.org.br/
CADASTRE-SE NELE
É DO PSDB - OU O QUE SOBROU DO PSDB- HA MUITOS PETISTAS TAMBÉM, MUITOS TB DA DIREITA
VENHA NOS AJUDAR
Roger Scruton não é aquele que recebia dinheiro da indústria de cigarros para fazer propaganda a favor do produto? Bom, se esse cara é um ícone, a direita não está tão bem assim. E, antes de dizer que isso não desqualifica o cara, me responda: se Chomsky recebesse dinheiro da Rússia para falar mal dos EUA, você diria também que isso não desqualifica Chomsky?
Caro Anônimo,
Não sei se Roger Scruton recebia dinheiro da indústria de cigarros etc. Se for verdade, é mais um motivo para admirá-lo: adoro fumar um bom Marlboro para relaxar enquanto leio seus livros (ótimos, por sinal)...
Quanto a Chomsky, não é quem o financia o que o desqualifica, mas seu antiamericanismo patológico e delinquente. E também sua hipocrisia, claro: é o Departamento de Defesa dos EUA que financia seus estudos no MIT...
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