quarta-feira, abril 13, 2011

MENTIRAS "DO BEM"




Até o massacre de 12 crianças na escola do Rio de Janeiro, eu achava que era possível defender o desarmamento de boa-fé, com um mínimo de honestidade. O que tenho visto e lido na imprensa desde a última quinta-feira, porém, abalou profundamente essa minha convicção.

Confesso que poucas vezes li e ouvi tanta besteira, tanta mentira travestida de humanismo e de defesa da "paz". Como se defender o direito a escolher ter ou não uma arma de forma legal fosse o mesmo que aplaudir loucos que entram atirando em escolas. Como se Wellington Menezes de Oliveira tivesse adquirido os dois revólveres em alguma loja de caça com CNPJ inscrito na Associação Comercial. Como se ter ou não uma arma registrada tivesse alguma coisa a ver com o ocorrido na escola em Realengo.

É de espantar! O oportunismo e o descaramento dos desarmamentistas parecem não ter limites. Li há pouco uma declaração do presidente do Viva Rio, a ONG queridinha da Rede Globo, em que ele se dizia "feliz" – isso mesmo: feliz! – pelo massacre em Realengo, pois este teria trazido de volta o "debate" sobre o desarmamento... É assim que eles chamam a tentativa descarada de engabelar e manipular a opinião pública: "debate". "Debate" que exclui deliberadamente fatos e números que desmentem a falácia desarmamentista.

Nem vou repetir os números, que citei aqui em outro texto. Basta atentar para o seguinte fato: os desarmamentistas, de boa ou má fé, argumentam que a proibição pura e simples da venda legal de armas teria uma relação direta com os números da violência. Muito bem. A proibição é adotada na Jamaica e no Japão, dois paises com indices de violência muito diferentes entre si. Onde está a tal "relação direta" (ou qualquer relação) entre uma coisa e outra?

Isso para não falar dos EUA, país que muita gente acha, graças aos filmes de Michael Moore, que é uma espécie de território sem lei, onde há um maluco armado até os dentes em cada esquina, pronto para mais um massacre. Faço um convite: comparem os números da violência nos EUA, onde o porte de armas é um direito constitucional, com os do Brasil, onde o cidadão precisa passar por uma verdadeira via-crúcis, que dura meses, para poder botar a mão legalmente num revólver 32. Façam isso, e depois me digam se desarmar a população civil é remédio contra o crime...

Os argumentos acima, claro, são inúteis para demover os devotos do culto desarmamentista de mais essa cruzada. Estes já estão convencidos – ou melhor: se convenceram – de que retirar do cidadão o direito a escolher ter ou não uma arma é o caminho luminoso, a solução mágica que irá abrir as portas de um mundo de paz e harmonia, no qual não haverá violência e todos, bandidos e policiais, criminosos e cidadãos de bem, se darão as mãos e cantarão juntos, fazendo aquele gesto com as mãos imitando as asas de um pássaro...

Em momentos como este, parece que todos, levados por um horror de ocasião, jogam a lógica e o bom senso às favas. Aliás, todos não: somente os que se convenceram que proibir o comércio legal de armas de fogo irá significar uma sociedade mais segura e pacífica. Gente como José Sarney, o ínclito senador do Maranhão, que ameaça convocar novo referendo sobre o assunto (o resultado do primeiro, como não foi o que esperava o Viva Rio e a Rede Globo, não teria expressado o verdadeiro valor da democracia...). Ou, então, a ministra petista dos Direitos Humanos (?), Maria do Rosário, que clama pelo desarmamento mas que, revelou-se agora, recebeu dinheiro da Taurus, fabricante de revólveres e pistolas, durante a campanha eleitoral para deputada federal (em tempo: nada contra políticos receberem contribuições financeiras de fabricantes de armas, apenas contra a hipocrisia). E isso tudo sem abdicar, claro, da segurança que lhes é proporcionada por seus guarda-costas armados, privilégio que a imensa maioria da população, que tem que conviver com a bandidagem, nem sonha em ter. Sarney e Maria do Rosário alegam que as armas legalizadas contribuem para a violência. Pela lógica, eles também contribuem.

Eu também sou a favor de um mundo melhor, sem violência, sem massacres, sem psicopatas à solta. E sem mentira. Principalmente se for uma mentira do "bem". Até porque não existe verdade "do mal", existe?

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