sábado, abril 02, 2011

O DIREITO DE DIZER BESTEIRA



O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) é uma bênção para a esquerda brasileira. De tempos em tempos, ele protagoniza alguma "polêmica" com algum parlamentar ou artista esquerdista, para a alegria dos que o têm como legítimo representante das forças do mal. Boquirroto, tosco, raso, brutamontes, despreparado - os adjetivos para enquadrá-lo são infinitos -, ele é brandido como um troféu pelas legiões da beautiful people, a gente linda e maravilhosa, geralmente filiada ou simpatizante do PT ou do PSOL, como a prova irrefutável de que ser de direita é sinônimo de destempero verbal e intolerância. É o adversário que os esquerdistas pediram a Deus, se nEle acreditassem.

O jeito troglodita de ser de Bolsonaro foi mais uma vez demonstrado, desta vez no programa CQC, da TV Bandeirantes. Num dos quadros do programa, Bolsonaro aparece respondendo uma pergunta da cantora Preta Gil. O que ele faria se um filho seu resolvesse namorar uma negra?, perguntou a filha do ex-ministro da Cultura (!), Gilberto Gil (a pergunta, vamos convir, já trazia em si uma forte dose ideológica embutida). Bolsonaro respondeu com uma frase sobre promiscuidade. Pronto. Estava criado mais um "caso" para a esquerda explorar.

É evidente que Bolsonaro se confundiu ao dar a resposta. Ele mesmo admitiu, logo depois, que esta não tinha nada a ver com a pergunta. Em vez de negro, ele quis dizer homossexual. Mas o estrago já estava feito. Deputado racista!, começaram a berrar, imediatamente, os monopolistas da virtude. Racista e homofóbico!, emendaram. Racista, homofóbico e de direita!, não esqueceram de mencionar os guardiães do bem e do belo, com o cuidado de insinuar uma relação causal entre uma coisa e outra. Ou seja: ele é racista e homofóbico porque é de direita, entenderam?... Aqui e ali, começou-se a ouvir o brado: levem-no ao Conselho de Ética! Quebra de decoro parlamentar! Cassação! (Só faltou o grito comum em certos lugares apreciados pela esquerda: paredão! paredão!...)

Bolsonaro é de direita? Eis uma boa questão. Mais do que isso: ele é "a" direita no Brasil? Se a resposta para essa pergunta for positiva, estaremos diante de uma situação em que o palhaço Tiririca deveria ser considerado "o" exemplo acabado de parlamentar brasileiro, já que foi eleito com uma votação expressiva (mais de 1,3 milhão de votos...). Considerar de direita um sujeito como Bolsonaro é o mesmo que dizer que Jean-Marie Le Pen ou Silvio Berlusconi são modelos perfeitos de políticos conservadores, defensores ardentes das idéias de Edmund Burke e John Stuart Mill. Que tal perguntar ao deputado Bolsonaro o que ele acha desses autores?

Não é difícil perceber por que os esquerdistas babam de gozo toda vez que Bolsonaro abre a boca. Em cada escorregão retórico, em cada frase infeliz que ele pronuncia, eles antevêem mais uma oportunidade para demonizar a "direita" brasileira (como se Bolsonaro, uma caricatura de político direitista, fosse o legítimo representante da direita...). É que, para os esquerdistas, tipos como Bolsonaro vêm bem a calhar. Com suas frases idiotas, ele lhes presta um serviço valioso, afastando a possibilidade de que surja aquilo que eles, os esquerdistas, mais temem: uma direita responsável e democrática, representada por um partido conservador sério e forte, como existe em TODAS - repito: TODAS - as democracias do mundo. Tipos folclóricos e patéticos como Bolsonaro permitem aos esquerdopatas e esquerdofrênicos tomar a caricatura por fato, enquanto eles próprios não passam de caricaturas de gente séria e honesta, que se fazem passar por legítimos representantes da sociedade e do bem. Por isso precisam de Bolsonaro. Ele é, a seu modo, um aliado objetivo.

As opiniões de Bolsonaro sobre o homossexualismo são reacionárias, estúpidas mesmo? Sem dúvida. Ninguém em sã consciência defende que "dar um coro" no filho irá impedi-lo de virar gay, por exemplo. Frases como essa são típicas de quem vive mentalmente no tempo das cavernas. Mas a questão é: ele tem ou não o direito de expressá-las? Se você respondeu "não", é porque não sabe o que é viver numa democracia, assim como muitos antepassados de Bolsonaro.

Aqui é que vem a questão principal, que, como sói acontecer em Pindorama, ficou esquecida no meio de mais esse factóide. Desde quando liberdade de expressão exclui opiniões julgadas repugnantes pela maioria? Desde quando ela existe tão-somente para as opiniões consideradas "boas" ou "corretas"? Onde, em que artigo e capítulo da Constituição, está escrito que a liberdade de expressão e de opinião existe apenas para dizer "sim", e jamais "não" (ainda que seja um "não" que nos cause repulsa)? Nas ditaduras, como em Cuba e na Síria, pode-se dizer "sim". O que diferencia a democracia da ditadura é a possibilidade - na verdade, o direito - de divergir, de dizer "não", ainda que todos digam "sim".

O pior de tudo é que, graças a seu estilo brucutu, questões importantes apontadas por Bolsonaro deixam de ser discutidas. Não é preciso ser seu eleitor ou um saudosista do regime militar para perceber o caráter racista do sistema de cotas nas universidades. Ou para constatar o óbvio atentado ao bom-senso que é a distribuição do "kit gay" para crianças e adolescentes nas escolas públicas. Ou, ainda, a natureza fascistóide de leis como o PLC 122, que, sob o pretexto de criminalizar a "homofobia" (um termo, aliás, extremamente vago), ameaça sepultar a liberdade de expressão, sobretudo a liberdade religiosa, no Brasil. E antes de acusar o suposto ou real racismo de Bolsonaro, responda depressa: você, leitor, preferiria viajar num avião pilotado por um cotista ou por um não-cotista?

Está ocorrendo um fenômeno perigoso no Brasil. Aqui, defender a democracia passou a significar, de uns tempos para cá, a defesa da liberdade de expressão para apenas um lado, o livre debate de idéias concordantes. Jamais o direito a quem pensa diferente, jamais o contraditório. Em nome do que julgam ser direitos coletivos, minorias querem calar a maioria e acabar com os direitos individuais, instalando o "fascismo do bem". E o fazem alegando defender interesses de setores perseguidos e discriminados da sociedade. Isso gera uma situação no mínimo bizarra. No Brasil, como bem resumiu o Guilherme Fiúza num artigo para a Época desta semana, ninguém é de direita. Mas, coisa curiosa, muitos se dizem oprimidos pela direita. Estranho, não?

Outro dia tentei debater com um blogueiro pró-esquerdista. Tentei mostrar o perigo, para a democracia, de um pleito em que a direita estava ausente, e no qual a escolha se restringia a optar entre mais ou menos esquerda (se fosse entre mais ou menos direita, eu estranharia do mesmo jeito). Em certo momento, discordei da opinião dele sobre o Tea Party, o movimento neoconservador dos EUA. Afirmei que, embora não cogitasse votar em seus candidatos, até porque não sou norte-americano e, portanto, não posso votar nas eleições de lá, não vejo problema algum na existência em si do movimento, que demonstra, na realidade, a pluralidade e diversidade político-ideológica nos EUA, ao contrário do que ocorre por aqui, onde impera o pensamento único esquerdista. Por dizer isso, o veredicto de meu interlocutor foi o seguinte: eu tinha um discurso "proto-fascista"... Pelo visto, não foi só a direita que sumiu no Brasil. A inteligência - ou a honestidade intelectual - também.

Digamos que o Tea Party não tenha lugar num sistema democrático. Que deva ser banido, proibido, pois afinal não se enquadra naquilo que se convencionou chamar de democracia e, portanto, carece de legitimidade numa sociedade democrática. Pergunto: que legitimidade tem o PT ou o PCdoB que o Tea Party não tem? O que torna Obama (ou Lula) mais legítimo, à luz da democracia, do que Sarah Palin (ou o deputado Bolsonaro)? Respondam, por favor.

O caso de Bolsonaro é apenas um exemplo, entre tantos, de linchamento moral patrocinado pelas patrulhas esquerdistas contra todos aqueles que não se encaixam em sua idéia de democracia: uma assembléia ou um desfile, em que todos seriam esquerdistas. Alguns dias atrás, houve um bafafá porque um ator que estava em turnê com um espetáculo teatral em Teresina, Piauí, escreveu em seu Twitter uma frase idiota sobre o lugar, comparando-o à certa parte da anatomia. Um político espertalhão, deputado estadual pelo (adivinhem) PT, aproveitou para faturar em cima do episódio, fazendo demagogia com os brios ofendidos dos piauienses. Em vez de ameaçar processar ou mesmo chamar um boicote à peça do autor da frase infeliz, o que seria o caminho normal em um caso como esse, o que fez o digníssimo? Exigiu - e conseguiu! - a proibição da peça no teatro onde seria encenada! Quando alguém lembrou que existe algo chamado liberdade de expressão, e que fazer o que ele fez infringe os artigos 5 e 220 da Constituição Federal, sua excelência se disse um injustiçado, e acusou uma campanha das elites do Sul-Sudeste contra o Piauí... O bairrismo, o vitimismo regionalista, é mesmo o último refúgio da canalhice caipira.

Outro exemplo recente: no ano passado, logo após as eleições, uma adolescente abobalhada saiu espalhando comentários ofensivos em sua página de internet sobre nordestinos, associando-os - erradamente, aliás - à eleição da criatura de Lula da Silva. Seria o caso de tomar o ocorrido como mais uma demonstração individual de boçalidade, como milhares que ocorrem todos os dias na internet sobre os mais variados grupos (nordestinos, paulistas, mineiros, cariocas, gaúchos etc.). Mas quê! Alguém viu o dedo nefasto de uma "campanha" articulada e financiada sabe-se lá por qual misteriosa cabala contra os eleitores de Dilma Rousseff. Logo choveram manchetes e matérias de jornais e revistas acusando a "odiosa campanha contra os nordestinos na internet" etc. e tal.

O mesmo aconteceu com Bolsonaro. Ninguém o vê como o que ele realmente é: um bobalhão, um idiota que não representa ninguém a não ser a si mesmo e suas opiniões destrambelhadas, mas como "o" direitista, "o" conservador por excelência... Seria simplesmente ridículo, se tanta gente não se deixasse levar por essa lorota.

Na entrevista ao CQC, Bolsonaro disse estar se lixando para os gays. É direito dele pensar assim, como é direito de alguém ter preconceitos, por mais odiosos e repugnantes que sejam. Eu, se fosse gay, não me importaria com as opiniões de gente como Bolsonaro, nem iria exigir que ele aceitasse e gostasse de minha opção sexual. Pelo simples motivo de que o que ele pensa a respeito não me interessaria nem um pouco. Daria de ombros, e seguiria em frente. Mas não é o mesmo se você é um militante, disposto a tudo para impor seu ponto de vista.

Mais uma vez: o fato de o deputado Jair Bolsonaro detestar os gays e ser um boquirroto o torna o arquétipo de um político de direita? A menos que você seja um desses petistas irrecuperáveis, para quem ser de direita é o mesmo que ser "fascista", tal associação automática é uma grande bobagem e um absurdo total. Coisa de quem está se lixando para a verdade e a lógica. E novamente: o fato de ele dizer cretinices retira seu direito constitucional de falar besteira? Nesse caso, deveríamos cassar os mandatos de todos os parlamentares e fechar de vez o Congresso - idéia, aliás, que já foi defendida, a sério, pelo próprio Bolsonaro.

Todos conhecem - ou, pelo menos, deveriam conhecer - a frase de Voltaire: "Discordo de tudo que você diz, mas até a morte lutarei para que você tenha o direito a dizer o que pensa". Mas ninguém a leva a sério. Não no Brasil. Por estas bandas, todos defendem a democracia, mas ninguém a pratica. Ou a liberdade de expressão existe para os que discordam de nós mesmos ou não existe. Simples assim. Como ninguém aprende, é preciso repetir sempre essa verdade tão óbvia.

4 comentários:

Anônimo disse...

Gustavo , você deve ser um personagem ... quero crêr desta maneira pois não acredito que alguem realmente pensa desta maneira.
Em seu texto você diz que um deputado eleito e representante do povo, tem o direito de dizer bobagens e exibir seu preconceito livremente, ele pode, mas eu como cidadão que sou tenho o direito de não querer ouvi-las, de não incentivar atitudes semelhantes.
Não é possivel que em 2011, alguem diga que tem saudades da ditadura e que compare os negros aos primíscuos, se realmente foi um " engano", ele que pense melhor antes de sair falando afinal ele é um " parlamentar" que no mínimo deveria vigiar melhor o que fala. Ao invés de críticar o PT, a direita que você tanto defente é que deveria não dar voz a sujeitos como este.
É um absurdo você perguntar se eu entraria em um avião pilotado por um " cotista", isso porque você já disse não ser " racista", se fosse então não sei o que diria então. Você pelo visto não entraria, certo ?
Eu te respondo, o cotista seja por cota ou não estudou na mesma instuição de preparo? se formou ? então eu entrario em um avião pilotado por um cotista.
Nosso país tem uma direita forte e atuante que entretanto não se assume como tal, afinal de contas o povo descobriu o mal e o cancer que ela representa para o nosso país, dado trechos de textos como o seu.

Anônimo disse...

Você é um imbecil com extrema megalomania...

Anônimo disse...

Caro anônimo,
Vejo nos meios de comunicação, a todo momento,os teus partidos de esquerda a apregoar a instalação de um regime socialista no Brasil. Engraçado, o socialismo, que matou mais 100 milhões de pessoas em menos de 70 anos.
Isso não seria fato real para barrar o que estes partidos dizem e fazê-los calar? Sim, seria.
Mas, felizmente, como vivemos em uma democracia, fico feliz que vocês tenham o direito de dizer tanta besteira!
Enfim, precisa-se ter muito cuidado em punir aquilo que é ligado à liberdade de expressão. O limite entre o legal e o ilegal é muito estreito.
O que tenho medo é que, se punindo sujeitos como este parlamentar, vivamos em um tipo de sociedade "tolerância zero". O que precisamos, é o oposto disto. Precisamos viver em uma democracia! O lugar onde pessoas diferentes e ideias diferentes convivam juntas.

Anônimo disse...

lula disse que os homossexuais eram VIADOS em PELOTAS
Enfim..Dona marta suplicy em sua campanha para o governo de são paulo , sugeriu que kassab poderia ser homossexual, sem condições portanto de ser governador de são paulo

eta petralhada imunda..isto, eles nada falam