segunda-feira, abril 11, 2011

A RELIGIÃO DESARMAMENTISTA: UM EDITORIAL MENTIROSO DE "O GLOBO"

\O grupo Globo, da família Marinho, é, como se sabe, um dos maiores defensores da idéia do "desarmamento". A Rede Globo de televisão, principalmente, é um celeiro de gente bonita e maravilhosa, que só quer o bem para a humanidade. Foi do Projac que saiu o pelotão de artistas e cantores que, em 2005, tentaram convencer a população, com musiquinha e tudo, que estaria mais segura e viveria em paz se aceitasse uma lei que retiraria do cidadão o direito de escolher ter ou não uma arma adquirida legalmente. (Nesses momentos, claro, a turma da esquerda que advoga a mesma idéia desarmamentista silencia sobre a emissora "de direita".)

O jornal O Globo, obviamente, não poderia ficar de fora dessa patacoada. Mal se haviam passado 24 horas do assassinato brutal e covarde de 12 adolescentes em uma escola municipal no Rio de Janeiro e o jornal carioca tratou de estampar em suas páginas um editorial que tem tudo para entrar para os anais do jornalismo. Não pela qualidade do texto ou pela verdade das palavras, mas exatamente pelo motivo oposto: trata-se de uma das maiores peças de desinformação e de manipulação da realidade que já li.

O problema do texto começa já pelo título: “Levar o desarmamento a sério”. Como se fosse possível levar a sério semelhante idéia estapafúrdia. Vocês verão por quê. É, de certo modo, uma síntese de todas as mentiras e lorotas que, repetidas por vigaristas, militantes devotos e iludidos vocacionais, estão sendo vendidas como verdade nesses dias, como se proibir o comércio legal de armas tivesse alguma coisa a ver com a tragédia perpetrada pelo louco de Realengo. Uma clara demonstração de que estatísticas existem para ser torturadas para que digam o que se convém.

Vejam por vocês mesmos. O editorial vai em vermelho. Eu vou em preto.

A campanha lançada em 2003 como desdobramento do Estatuto do Desarmamento, para recolher armas, foi eficaz instrumento de redução dos indicadores da violência.

Não foi, não. Os motivos estão listados em seguida.

Em outubro de 2005, ao fim do movimento que convidava a população a participar de forma espontânea, o total de armas recolhidas pelo Estado chegou à casa de 500 mil. Prova incontestável de que esse arsenal abastecia estatísticas com trágicos números foi recolhida em levantamento do Ministério da Saúde: de 2003 a 2006, houve uma queda de 17% nos registros de mortes por armas de fogo no país. No âmbito da administração pública, só em internações evitadas de feridos o SUS deixou de gastar R$93 milhões; pelo viés social, dessa redução decorreu que número significante de famílias deixou de lamentar a perda de parentes.

“Prova incontestável” de quê, cara-pálida? A queda de 17% no número de mortes por armas do fogo entre 2003 e 2006 foi devida ao desarmamento? Durante esse período, e mesmo antes, assistiu-se a uma redução da criminalidade em alguns estados, como São Paulo (no Nordeste, ao contrário, a taxa de crimes aumentou). O que isso teve a ver com o desarmamento? Nada, absolutamente nada. Teve a ver, sim, com mais investimentos públicos em segurança – em outras palavras, em mais polícia na rua. E quanto aos bandidos, teriam eles se convertido à campanha oficial e entregue suas armas? No dia em que isso acontecer, aí sim, as campanhas pelo desarmamento terão algum sentido. Se recolher armas diminuísse a violência, países como a Jamaica, onde as armas são proibidas, seriam paraísos da paz e do amor. Por que não recolher todas as facas?

Infelizmente, a esse bom indicador não se seguiu um movimento que aprofundasse o repúdio da sociedade a engenhocas letais.

O “repúdio da sociedade a engenhocas letais” foi ótimo... Para a Globo, o único repúdio que vale é o que o Viva Rio acha certo. A sociedade já deu seu repúdio à lorota desarmamentista. Mas isso, obviamente, não conta para a/o Globo. Ademais, uma faca, como já disse, ou um trator, também são engenhocas letais. Que tal proibí-las?

Em 2005, o país perdeu, no plebiscito sobre o fechamento do comércio especializado, grande chance de tirar mais armas de circulação e estabelecer barreiras efetivas à compra de armamento.

Quem perdeu foi a Globo, não "o país". Barreiras efetivas à compra de armamento LEGAL, faltou dizer. Quanto às armas nas mãos dos bandidos... Só apelando para o Felipe Dylon, mesmo.

Em boa hora, portanto, o Ministério da Justiça reafirma a retomada da Campanha do Desarmamento. É medida urgente, imperiosa, premente, diante da tragédia de anteontem em Realengo, uma chacina que deixou 12 crianças mortas e um sentimento de horror no mundo inteiro.

“Em boa hora” quer dizer: vamos aproveitar a chance e manipular a opinião pública. Raras vezes vi confissão maior de demagogia do que essa. Por “medida urgente, imperiosa, premente”, leia-se: medida demagógica que tenta ressuscitar uma idéia idiota já rejeitada pela população, tentando faturar em cima da comoção por uma tragédia provocada por um demente que adquiriu suas armas de forma ILEGAL.

Não é, no entanto, ação com que se pretenda dar por resolvido o problema da violência. Mas o desarmamento é passo estratégico, e se devem dar outros, como o cumprimento estrito do Estatuto em vigor, a adoção de um programa de fiscalização permanente e um sistema efetivo de controle das fronteiras, por onde passa boa parte do arsenal que arma bandidos e loucos - e mesmo cidadãos que comungam com o equivocado princípio de se armar como defesa contra a violência.

Pelo menos O Globo não disse que o desarmamento vai curar o câncer e espinhela caída... Ah, mas é um “passo estratégico”. Para quê? Para desarmar os membros da ADA ou do Comando Vermelho? Já que o editorial fala de cumprimento ao Estatuto em vigor, que tal lembrar que as leis existentes no Brasil sobre porte de armas estão entre as mais rigorosas do mundo, e isso não impede em absolutamente nada fatos como o da escola de Realengo? Quanto à vigilância nas fronteiras, estou de pleno acordo. Até porque qualquer morador da Rocinha ou do Complexo do Alemão sabe perfeitamente que o arsenal que entra no País e que arma bandidos e loucos é de armas ILEGAIS - como fuzis e submetralhadoras – e que a maioria das armas compradas legalmente no Brasil são revólveres e espingardas produzidos nacionalmente. Mais uma vez: em que impedir o cidadão de possuir, se quiser, de forma legal tais armas irá impedir tragédias como a da escola Tasso da Silveira?

Mas atenção, leitor! A parte mais impressionante do editorial vem agora.

Adeptos desse tipo de raciocínio argumentam que, enquanto os cidadãos se desarmam, os criminosos reforçam seus arsenais - segundo eles, graças ao tráfico de armas, e não por culpa do comércio legal e controlado. Mas relatório da CPI do Tráfico de Armas da Câmara dos Deputados desmente a tese com números.

Vejamos o que diz o Relatório da CPI, e como o editorial de O Globo o interpreta.

De acordo com o documento, especificamente no Estado do Rio, palco da tragédia e onde existem quase 600 mil armas ilegais, 86% do armamento usado por criminosos saíram das lojas legalmente estabelecidas. Cai por terra, portanto, o argumento de que é possível manter sob controle, pelo rastreamento, a circulação de armas em mãos de cidadãos pacíficos. Ajuda a desfazer esta inocente visão o fato de a Polícia Federal ser leniente com o controle da trajetória desse arsenal em direção ao paiol dos bandidos.

Vamos pensar um pouco?

Primeiramente, de onde veio o número de 600 mil armas ilegais no RJ? Se são ilegais, como se pode ter chegado a essa estatística? Fizeram uma pesquisa com os traficantes?

Se me perguntarem quantas armas clandestinas existem na minha vizinhança, eu direi que não tenho a menor idéia, exatamente porque são clandestinas e estão, portanto, além de qualquer monitoramento... Particularmente – é só um chute, nada tem de científico – acredito que o número de 600 mil armas ilegais no RJ é bem inferior ao que existe na realidade.

Outra coisa: 86% das armas usadas por criminosos ou 86% das armas APREENDIDAS? Existe aí, convenhamos, uma grande diferença. Pode-se dizer, com uma margem pequena de erro, o percentual de armas recolhidas pela polícia que saíram de estabelecimentos legais. Mas dizer quanto por cento de revólveres ou pistolas usados atualmente por assaltantes e outros criminosos se encaixa nessa categoria é puro palpite. Eu não sei. O governo não sabe. Ninguém sabe. Quem disser que sabe ou tem dons telepáticos ou é um vigarista.

Digamos que 100% das armas usadas em assaltos ou assassinatos recolhidas pela polícia tenham saído de lojas de caça. O que isso prova? Que não existem armas ilegais, e que a quantidade de pessoas mortas ou feridas por tais armas é menor do que a por armas legais? A meu ver, esse dado prova apenas que apreender um revólver 38 é mais fácil do que, digamos, um AR-15 ou um AK-47.

Enfim, o relatório da CPI não desmente "tese" alguma. Até porque não existe nenhuma "tese" a ser desmentida, mas um FATO - as armas que abastecem a bandidagem chegam a ela de forma clandestina e ilegal, mediante o tráfico de armas. Só não vê quem não quer - ou quem leva a sério os editoriais desarmamentistas e oportunistas de O Globo.

É preciso tratar a questão do desarmamento, da aplicação do Estatuto e da fiscalização como política de Estado, perene.

Como na Jamaica?

Criar barreiras para a circulação de armas não é uma fórmula mágica, panaceia capaz de, por si só, proteger a sociedade de psicopatas como o assassino de Realengo.

Desarmar cidadãos de bem também não. Aliás, o efeito disso seria justamente o contrário do esperado. Vejam, novamente, o caso da Jamaica. Ou dos proprios EUA, como mostra John Lott em seu livro More Guns, Less Crime (que ninguém na Globo e no Viva Rio leu ou lerá um dia, pelo visto).

Mas é uma entre tantas medidas a serem tomadas pelo poder público para reduzir riscos e conter a banalização de tragédias, sejam elas restritas a pequenos círculos familiares ou de proporções como o assassinato em série na Escola Tasso da Silveira.

Está mostrado e demonstrado que retirar armas legais de circulação - e, com isso, o DIREITO do cidadão de armar-se, se assim considerar necessário - não reduz riscos nem contém a banalização das tragédias. Mas vamos admitir, por um momento, que sim, proibir a posse de armas legais tenha algum resultado benéfico nos números de pessoas mortas por armas de fogo, seja por violência ou por acidente. Nesse caso, o que deveria ser feito com as facas de cozinha? Ou com os próprios automóveis, que são também instrumentos letais, causadores de milhares de mortes todos os anos? Se for para seguir o mesmo raciocínio dos desarmamentistas, todos deveriam comer com facas de plástico e andar a pé.

Lembro que quando eu era criança, certa vez me feri com uma faca de cozinha. O corte foi profundo, e perdi muito sangue. Na hora, fiquei com muita raiva, e desejei um mundo sem facas de cozinha. Algumas horas depois, estava procurando uma faca para cortar um pedaço de pão.

REPITO A PERGUNTA: EM QUE IMPEDIR A VENDA DE ARMAS LEGAIS IRÁ IMPEDIR TRAGÉDIAS COMO A DO RIO? SE ALGUM PAI DE ALUNO ESTIVESSE PRESENTE E ARMADO PARA DETER O ASSASSINO, SERÁ QUE O NÚMERO DE VÍTIMAS FATAIS TERIA SIDO O MESMO? Estou pensando em mandar essa pergunta para a seção de cartas de O Globo. Mas algo me diz que eles não vão responder.

Um comentário:

Anônimo disse...

MAIS UM EDITORIAL PERFEITO QUE ESSE SITE PRODUZ. PARABÉNS.