quarta-feira, dezembro 03, 2008

Ainda SaraMAGO, o mago do "comunismo hormonal"...


Ah sim, no "debate" de alguns dias atrás da Folha de S. Paulo, citado em meu último post, o grande humanista José Saramago também deitou falação sobre o tal acordo ortográfico, ratificado pelo Apedeuta algum tempo atrás. Disse o mago do "comunismo hormonal":

"Em princípio, não me parecia necessário. De toda forma, continuaríamos a nos entender. O que me fez mudar de opinião foi a idéia de que, se o português quer ganhar influência no mundo, tem de adotar uma grafia única. Se Portugal tivesse 140 milhões de habitantes, provavelmente teríamos imposto ao Brasil a nossa grafia. Acontece que os 140 milhões estão no Brasil, e o Brasil tem mais presença internacional. Perderíamos muito com a idéia de que o português é nosso, nós o tornaríamos uma língua que ninguém fala. Quando acabou o "ph", não consta que tenha havido uma revolução."

Saramago é a favor do acordo ortográfico. Eu sou contra. Ele está certo, claro, porque é um Prêmio Nobel, e eu sou um joão-ninguém. Mesmo assim, não posso deixar de estranhar mais essa pérola do filósofo de Lanzarote.

Em primeiro lugar, se o objetivo da estrovenga é facilitar o nosso entendimento, e, com ou sem o referido acordo, continuaríamos a nos entender do mesmo jeito, então qual a utilidade do mesmo? Difícil entender. Mais difícil ainda é compreender a lógica por trás da afirmação de Saramago, de que, para obter influência no mundo, o português teria que adotar grafia única. Primeiro, porque não me consta que é por meio de acordos e penadas do tipo que um idioma irá aumentar sua influência mundial (caso isso ocorra com o português, será um caso inédito na História). Segundo, porque o inglês não tem grafia única nos dois lados do Atlântico - veja a grafia de "harbor" e "harbour", por exemplo -, e isso não o impediu de ser a língua dominante nos negócios. Terceiro, se o critério para unificar a grafia devesse ser o número de habitantes por país, como sugere Saramago, o padrão lingüístico deveria ser o vigente no Brasil, que tem mais habitantes do que qualquer outro país lusófono. Ou seja: em vez de "voo" ou de "leem", como querem obrigar-nos todos a escrever a partir de agora, deveria ser adotado o "vôo" e o "lêem", tal qual se usa no Brasil. Quarto, e finalmente, não são 140, mas 190 milhões de habitantes...

O acordo é uma bobagem, uma inutilidade que só vai empobrecer, e não enriquecer, a língua de Camões. Com ele, o colorido das diferenças dará lugar ao artificialismo de uma decisão burocrática. Além disso, com ou sem o acordo, continuaremos a escrever e a falar errado - apenas precisaremos adaptar nossos erros às novas regras. Muito mais útil do que mudar as regras me parece seria simplesmente melhorar o nível do ensino de Português nas escolas (veja a imagem acima). Mas isso dá trabalho, é mais fácil "unificar" tudo apondo uma assinatura num pedaço de papel... Enfim, trata-se de uma tolice enorme, quase tão monumental quanto a egolatria de Saramago. Mas nada disso importa, pois Saramago é um Nobel e é um gênio, e sua palavra tem força de Lei. Falar mal dele, e do acordo ortográfico, é coisa de gente "do contra" como eu.

Um comentário:

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

Sim, mas a palavra de Saramago em Portugal está muito longe de ter força de lei!

O povo Português está-se completamente nas tintas, pois continuará a escrever como escreve, e a verdade é que a União Europeia é rica pela diversidade (dizem!), mas a língua Portuguesa seria pobre pelo mesmo motivo.

Não há nada pior do que intelectuais a querer botar figura de político!

Ultrapassam-nos a grande velocidade pelo radicalismo!

E essa dos 140 milhões? Enfim, desculpa-se pela idade, já que há muito o tempo parou para Saramago!