terça-feira, abril 29, 2008

FORJANDO ZUMBIS

O Cego guiando cegos, de Peter Bruegel, o Velho (1588)

O professor Carlão é uma figura. Suas aulas são bastante animadas. Ele costuma ilustrá-las com danças e coreografias, além de uma linguagem, digamos, bem despojada. Tem musiquinha também. Suas performances são um sucesso. Não por acaso, seus alunos parecem adorá-lo. Ele é, como se dizia antigamente, um sujeito boa-praça, um cara legal. Uma figuraça, o Carlão.
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Carlão é professor de História no colégio Anglo de Tatuí, em São Paulo. Ele virou uma celebridade na internet. Tudo graças a um vídeo no Youtube, em que ele professa uma de suas - como direi? - aulas. Ele está falando sobre os EUA. Selecionei alguns trechos para vocês conferirem. Conheçam Carlão, professor de História, em toda sua forma:

- "a indústria alimentícia, a indústria de automóveis, a indústria de refrigerantes, a indústria de roupas está toda atrelada à indústria bélica. Isso todo mundo sabe." [sobre a indústria norte-americana]

- "Porque eles matam! Essa é a idéia da riqueza estadunidense. E eles matam, eles continuam matando. Porque é a principal indústria, porra! “Num” tem muito que se pensar."

- "E você não pode esquecer que tudo isso é mercado consumidor que acaba sendo gerado pras principais indústrias que apóiam essa mesma indústria bélica, porra!"

- "Eles conseguem controlar a mídia de uma tal forma, que nós acreditamos que tudo que o Jornal Nacional fala é verdade, que o Jornal da Record fala é verdade, que não existe um nazismo presente filtrando a porra das informações."

- "Você não consegue enxergar neles nada de errado, porque eles conseguem criar uma verdade pela mídia. Então mentem, sim. E mentem mais. E são várias pessoas que mentem."

- "E o pior é que não se dão por satisfeitos. Eles precisam humilhar, não só mentir. Não é? [mostra telão] E aqui, olha, puta que o pariu!, gosto tanto dessa cena, em Cabul, eu acho tão bonita! Aqui nós temos um monte de iraquianos, um estadunidense aqui, “uma” estadunidense, deve tá com uns quinze mão na chana dela, ela tá sorrindo de alegria, não é?"

- "como é que a gente pode continuar acreditando que um mundo melhor possa ser construído com a presença deles? Incomoda. Eu acho que é o mesmo que, talvez, os gregos pensassem dos romanos."

- "Porque aonde eles entram, entra o mercado também. Onde eles dominam, é um mercado que [inaudível]... E as indústrias estadunidenses patrocinam a guerra porque precisam de mercado consumidor."

- "A gente precisa dar uma basta, mas devagar, resistir, tentar se conter a tomar uma coca-cola. Eu sei que é difícil. É preciso pagar e deixar o Hollywood, o cigarro."

- "Por isso que eu tô fazendo uma homenagem a esse povo com as torres gêmeas."

É isso mesmo que vocês leram. Para o querido mestre, toda a indústria norte-americana - absolutamente toda - está atrelada à indústria bélica. Os EUA fazem guerras para garantir mercados consumidores (em Cabul e em Bagdá? Pois é...). A riqueza dos EUA é proporcional à miséria dos países pobres. "Eles" controlam ainda a mídia e tudo o mais. E etc. etc. Vai mais além: acha difícil um mundo melhor "com a presença deles" (do que se deduz que eles, os norte-americanos, devem ser exterminados?) e propõe um boicote aos produtos dos EUA. Além disso, Carlão não se faz de rogado: faz uma "homenagem" aos EUA, comemorando a queda das Torres Gêmeas, onde morreram cerca de 3 mil pessoas em 11 de setembro de 2001. Um grande humanista, esse Carlão.
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Esse tipo de propaganda antiamericana tosca está sendo ensinado nas escolas brasileiras como se fosse História. E com uma platéia cativa. Os alunos parecem embevecidos com as palavras de Carlão. No video, pode-se ver vários celulares levantados, registrando sua performance. Um exemplo de didatismo e seriedade no ensino de História, certamente.
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Retirei os trechos acima do blog do Reinaldo Azevedo, que transcreveu as melhores passagens da, digamos, aula de Carlão. Como não poderia deixar de ser, muitos alunos do professor bombardearam o blog com mensagens furiosas, protestando contra o que consideravam ser uma imagem errada do Carlão. Diziam, entre outras coisas, que o blog não teria captado o "verdadeiro" Carlão, como se o Carlão que estivesse no vídeo fosse outra pessoa (um clone, talvez?). Outros, ainda, escreveram para concordar com cada palavra de Carlão, sem dúvida um exemplo de profissional de ensino, capaz de instilar uma "consciência crítica" em seus alunos (é uma pena que essa tal consciência crítica não pareça vir acompanhada da simples obediência às regras da gramática... o que demonstra que ela vai bem além da crítica aos EUA, atingindo também a própria língua portuguesa).
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As, com o perdão da palavra, "aulas" de Carlão vêm comprovar aquilo que venho dizendo neste blog já há algum tempo: que a educação, no Brasil, de uns tempos para cá, tornou-se nada mais do que propaganda ideológica disfarçada (ou nem isso), sempre a serviço de "causas" antiamericanas e totalitárias. Não se trata de um fenômeno novo. Qualquer um que tiver mais de quarenta anos já foi vítima desse tipo de doutrinação por algum molestador juvenil travestido de educador. Carlão é apenas mais um exemplar dessa fauna. Como indivíduo, ele não é importante. Assim como ele, os Carlões da vida proliferam, tanto no ensino público como no privado, incentivados oficialmente por cartilhas ideológicas do MEC classificadas abusivamente de "livros didáticos".
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Sob a égide da doutrina marxista e gramsciana, as escolas brasileiras há muito se transformaram em verdadeiras madraçais, em que, em vez de História, ensina-se o ódio aos EUA e ao capitalismo. Há muito os slogans anticapitalistas, antiamericanos e antiglobalização tomaram o lugar de qualquer compromisso com a verdade e com o pensamento crítico, que foi totalmente abandonado pelos professores. Estes, embalados por coreografias e slides sensacionalistas, esforçam-se para transmitir a adolescentes de 18 anos uma visão de mundo retirada de velhos manuais marxistas. O resultado é que, em vez de estudantes preparados intelectual e moralmente para a vida, forjam-se anualmente milhões de zumbis, adestrados a repetir slogans e incapazes de um raciocínio próprio, até mesmo de pronunciar uma frase coerente, com sujeito e predicado. Graças aos Carlões do ensino brasileiro.
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Não digo isso por ouvir falar. Também já fui professor e, por coincidência, da mesma matéria ensinada por Carlão. Nessa condição, deparei-me com muitos alunos que estranhavam minha atitude de querer dar aula em vez de pronunciar discursos inflamados contra os EUA, o imperialismo e o "governo neoliberal de FHC" (era a época de FHC). Certa vez, fui, inclusive, quase agredido fisicamente por um bando de militantes profissionais, quando, cumprindo a vontade dos próprios alunos, insisti em dar aula durante uma greve na universidade (qualquer dia escreverei sobre isso aqui). Portanto, sei algo sobre o assunto. Via então, e continuo vendo hoje, aqueles alunos que me interpelavam como vítimas de um sistema educacional corrompido, destinado a formar militantes esquerdistas, e não cidadãos. O próprio Carlão, de certa forma, é uma vítima dessa máquina de moer cérebros. Quando estudante, certamente ele esteve sob a influência de algum militante fantasiado de professor, que lhe serviu de mestre. Ele apenas reproduz, em suas aulas-comício-espetáculo, o que sempre lhe foi ensinado em sala de aula.

O Anglo é uma escola particular, onde estudam os filhos da classe média. De lá sairão alguns futuros advogados e profissionais liberais do Brasil, inclusive professores. Pergunto: se é assim numa escola cara como o Anglo, em que supostamente existe algum tipo de controle de qualidade do que seus professores dizem na sala de aula, o que dizer do que acontece nas escolas da rede pública espalhadas por esse Brasil de Lula e companhia?

Esse é um retrato da educação brasileira.

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