segunda-feira, abril 28, 2008

ERRATA

Sua Majestade Fidel Castro Ruz em traje de dormir: o supra-sumo da humildade e do humanismo revolucionário

Penitencio-me perante os que lêem este blog por um pequeno erro que cometi em meu texto "Fidel, o Americanófilo", que publiquei aqui em 26/02 (ao contrário de muita gente, não vejo como demérito, mas como sinal de honestidade, admitir erros). No texto, afirmo que a retórica antiamericana do Coma Andante e serial killer do Caribe é uma farsa, pois, entre outras coisas, ele gostava de Coca-Cola, lia Hemingway e era fã de filmes de faroeste. Quanto aos dois primeiros, a afirmação procede. Mas não para os filmes de faroeste. Fidel nunca gostou desse tipo de filme.

Quem me chamou a atenção para esse detalhe foi o ex-analista da CIA Brian Latell, em um livro recentemente publicado no Brasil (Cuba sem Fidel, Editora Novo Conceito, 2008). Eu recomendo o livro. É uma das análises mais profundas que eu já li sobre a personalidade do tirano e de seu hermanito Raúl, que o sucedeu na chefia da castradura cubana. Latell, que foi analista da CIA para Cuba durante 30 anos (nossa, agente da CIA?! Pois é. Ao contrário do que pensam os esquerdóides, para quem só vale o ponto de vista a favor da ditadura cubana, isso, a meu ver, credencia-o para falar sobre a tirania castrista), vai fundo no estudo das motivações psicológicas do assassino em série. Quando analisa a infância e adolescência de Fidel, por exemplo, ele lembra que ele detestava filmes de faroeste e considerava o maior astro do western, John Wayne, uma figura ridícula. Sabem por quê?

O melhor vem agora. Fidel não gostava de faroestes por ter um gosto artístico refinado, ou por se solidarizar com os índios americanos, geralmente retratados de forma caricatural nesses filmes. Nada disso. Ele desprezava esse tipo de filme e os caubóis de Hollywood por um motivo, digamos, mais profundo, mais psicológico e pessoal: seus heróis sempre foram outros. Eram, para ser mais exato, figuras históricas como Napoleão, Júlio César e Alexandre, o Grande. Perto deles, figuras como John Wayne ou Gary Cooper pareciam, para o jovem Fidel, meros canastrões.

O detalhe não é insignificante. Revela bastante sobre a personalidade megalomaníaca e a ambição desmedida de Fidel Castro. Latell lembra que, entre os ídolos de infância e juventude de Fidel, jamais houve um líder democrata. Alguém assim como, por exemplo, um Churchill ou um Roosevelt (Fidel chegou a enviar uma carta a este último quando criança, mas muito mais para se gabar ante seus coleguinhas de escola do que por admiração genuína). Napoleão, César e Alexandre eram mais apropriados a seus sonhos de grandeza e poder, de fama e glória. Isso explica em muito sua trajetória posterior. Para Fidel, nada menos que o poder absoluto e sonhos megalomaníacos de grandeza parecem suficientes para seu ego gigantesco. Não por acaso, Latell lembra que, junto com Lênin, ele é o único líder dos últimos cem anos que jamais foi subordinado a alguém. Para ele, é o poder total, ou nada.

Jamais Fidel se sentiu atraído por representantes da democracia liberal, ou pelos instrumentos democráticos. Sua atração por líderes autoritários, seu pendor para a violência e a tirania, são traços marcantes de sua personalidade, em todos os momentos de sua vida. Nisso, o futuro ditador se mostrou, desde o início, bastante eclético ideologicamente. O livro de Latell recorda alguns fatos que, certamente, muitos dos admiradores esquerdistas de Fidel prefeririam ver esquecidos, ou desconhecem completamente: o que diria um Frei Betto, por exemplo, diante da revelação de que seu ídolo maior era um admirador entusiasmado do ditador Francisco Franco, da Espanha, ou que mantinha sempre à mão um livro com os discursos de Mussolini e de Hitler? A motivação essencial de Fidel, sua razão fundamental, sempre foi o poder. Nada menos que o poder. Poder absoluto.

Latell também se debruça sobre a personalidade de Raúl Castro. Ao contrário de Fidel, ele sempre se contentou com uma posição secundária. Raúl sempre se submeteu às decisões do irmão, que jamais foram contestadas. E uma das decisões que o ditador cubano se impõs é a confrontação com os EUA. A retórica antiamericana, afirma Latell, é uma verdadeira religião para Fidel e para o regime de Havana, que é totalmente dominado por um só homem. Daí porque a esperança de muitos analistas de que Cuba se torne, um dia, uma democracia sob a égide dos irmãos Castro é uma fantasia. Enquanto a sombra de Fidel pairar sobre a sociedade cubana, jamais a ilha se renconciliará com os EUA. Tudo isso por causa da megalomania narcisística de alguém que sempre se achou o Napoleão do Caribe, o Alexandre da América Latina.

Enfim, recomendo o livro de Brian Latell para quem quiser se aprofundar na história e na realidade do regime cubano e seu principal líder. É leitura bastante instrutiva, principalmente para a multidão de idiotas úteis e inúteis que insistem em enxergar no idoso ditador barbudo um "humanista", um líder do Terceiro Mundo inimigo do "imperialismo" e preocupado com o bem-estar de seu povo. Estes, certamente, vão ter uma surpresa nada agradável.

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