segunda-feira, setembro 03, 2007

O GRANDE AUSENTE


Não tem jeito. Quando eu achava que finalmente o Grande Molusco ia nos poupar por um tempo de suas pérolas lingüístico-populistas e eu finalmente poderia me dedicar a assuntos mais edificantes, eis que ele volta com a carga toda. A última do Apedeuta foi ter declarado ao microfone, durante o 3. Congresso Nacional do PT (para quem já se esqueceu, o partido do dito-cujo), que os réus no processo do mensalão (um "erro", segundo Sua Excelência), atualmente em curso no STF, os companheiros Zé Dirceu, Genoíno, Delúbio, Duda Mendonça, Silvinho Land-Rover e afins "não fizeram nada de que se envergonhar". Mais: certamente embalado pela visão de um microfone e algumas dezenas de companheiros petistas ululantes, mostrou ser correto o velho ditado de que quem muito fuma cachimbo (ou charutos cubanos), acaba com a boca torta, ao proclamar pela enésima vez que ninguém no Universo tem mais autoridade moral, política e o escambau do que... o PT (!). Não duvidem: em breve ele será visto, junto com a companheirada, caminhando sobre as águas.

Ai, ai. Lembrei no mesmo instante em que ouvi as sapientíssimas palavras de Nosso Guia Genial e Pai dos Pobres de outra frase de Lula, pronunciada há uns dois anos, no auge do escândalo do mensalão e do valerioduto. Na ocasião, o Apedeuta falou em rede nacional de rádio e televisão que se sentia "traído" pelo que estava acontecendo. Isso depois de ter tentado desqualificar as primeiras denúncias como "folclore" e ter dado uma entrevista em Paris dizendo que caixa dois "não era nada demais, todo mundo fazia". Admito que o papo de "traição" parece cair melhor em Lula, que tem como principal álibi para não estar presente no banco dos réus do atual julgamento do STF o "não sei de nada, não vi nada" - e que parece que todos, inclusive o Procurador-Geral da República e os Juízes do STF, engoliram. Por isso achei tão esquisito vê-lo declarar solidariedade àqueles que, em suas próprias palavras, o "traíram". Confesso que desconhecia por completo essa faceta do Grande Molusco: sendo verdadeiras suas palavras de dois anos atrás, é forçoso admitir que, tal como alguns maridos, ele parece gostar de ser enganado.

Mas o que me chamou mesmo a atenção foi a segunda frase, o elogio desbragado ao PT, o partido mais ético e com mais autoridade moral da História da Humanidade. Muita gente acreditou que, com a débàcle de 2005, os petistas teriam baixado a bola. Teriam descido do salto, caído na real, deixando de lado suas pretensões à santidade, descobrindo-se enfim feitos da mesma matéria do restante da espécie humana. Ledo engano. As palavras de Lula demonstram exatamente o contrário. Também pudera. O projeto político-ideológico do PT não se resume a oito anos de governo, nem a um PAC ou a um Bolsa-Família. Está baseado até a medula nos postulados do marxismo-leninismo, devotados que estão seus militantes a transformar o Brasil numa república soviética ou num Cubão. Isso não sou eu que digo, é o próprio Lula, fundador, juntamente com Fidel Castro, do Foro de S. Paulo, entidade cujo único propósito é servir de "espaço de articulação estratégica" dos diversos partidos e movimentos revolucionários de esquerda na América Latina, inclusive os narcotraficantes das FARC, para realizar, por estas bandas, o que ruiu na ex-URSS em 1991 (vejam aqui: http://www.olavodecarvalho.org/nota_lulafsp.html). Intoxicados por essa visão messiânica, os companheiros da estrela vermelha já se auto-proclamaram, há tempos, os únicos e legítimos donos da Verdade Revelada, os verdadeiros detentores do monopólio da ética e da virtude. Diante disso, a montanha de indícios contra ex-membros da alta cúpula do partido, a avalanche de denúncias coletadas pelo STF e noticiadas, diariamente, pela "imprensa burguesa", o mensalão, o valerioduto, tudo isso não é nada, é fichinha (ou mera conspiração das elites e da mídia, como gosta de repetir ad nauseam esse pessoal). Não será nenhum escândalo de corrupção que demoverá a companheirada de sua auto-atribuída missão histórica redentora. Daí as repetidas declarações de humildade de nosso Presidente, o homem que transformou sua própria ignorância em motivo de orgulho e que também já declarou, com toda sua modéstia, que ninguém nefte paif é mais gabaritado para falar de moral e ética do que ele, a encarnação de Tiradentes e de Jesus Cristo (com desvantagem para estes dois, é claro).

Qualquer pessoa com um mínimo de senso de realidade, para não falar em honestidade e vergonha na cara, já deve ter percebido que falta alguém no julgamento do STF. Esse grande ausente, claro, é Lula. Seria preciso ser um petista roxo e incurável, para quem o Apedeuta é a suprema personificação do Bem, ou um cego completo para ignorar um detalhe fundamental na denúncia contra os mensaleiros. Bastaria repetir para si mesmo a célebre máxima de Cássio: cui bono? (a quem beneficia?) Será que os 40 indiciados fizeram tudo apenas por amor ao companheiro-mor, sem que este soubesse de nada? Teriam sido capazes de tanto desprendimento? E Lula, teria estado alheio ao maior esquema de corrupção da História do Brasil, que tinha por objetivo principal favorecê-lo e era planejado a poucos metros de sua sala por pessoas de sua mais alta confiança?

Lula e os petistas são como um bicho-de-pé ou uma unha encravada. O mundo seria bem melhor sem eles. Mas por mais que a gente tente, não dá pra fingir que eles não existem.

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