domingo, fevereiro 24, 2013

YOANI SÁNCHEZ. OU: A HISTERIA DOS ESQUERDIOTAS


Imaginem o seguinte: um opositor de uma ditadura latino-americana está em visita a um país estrangeiro. Na chegada, é hostilizado por um bando de apoiadores dessa ditadura, que tentam calá-lo e impedir que divulgue sua mensagem pró-democracia. Xingam-no e insultam-no, cospem nele, atiram-no notas de dólares, acusando-o de espião e mercenário a serviço de uma potência estrangeira. Em todos os lugares aonde vai, depara com uma súcia que o insulta aos berros. Antes de sua chegada ao país, descobre-se que funcionários do governo, em conluio com o embaixador da ditadura, montam uma operação de espionagem para desacreditá-lo. O embaixador inclusive admite que agentes da ditadura atuam no país monitorando opositores – o que é uma clara violacão do princípio de não-ingerência.

Imaginaram? Agora pensem que a ditadura em questão é a ditadura militar do Brasil (1964-1985), e que o opositor é um exilado brasileiro.

A situação descrita acima aplica-se perfeitamente, apenas com o sinal ideológico trocado, à tumultuada visita ao Brasil da blogueira e dissidente cubana Yoani Sanchéz. Com algumas diferenças fundamentais: a ditadura militar acabou no Brasil há mais de vinte anos; a de Cuba, comandada pelos irmãos Castro desde 1959, ainda não acabou, nem dá sinais de que vai acabar um dia. Outra diferença é que a tirania cubana, um regime totalitário comunista, matou muito mais do que os generais brasileiros, e a censura do regime de 64 não chegou nem aos pés do controle total da informação pelo Partido-Estado na ilha-presídio.  

Mas a maior diferença é outra, e ficou explícita na visita de Yoani. Ao contrário dos militares brasileiros, uruguaios ou chilenos do passado, os gerontocratas cubanos contam com apoiadores fervorosos no Brasil. Mais que isso: prontos a usar a violência física contra quem ouse usar a palavra para criticar, por mínimo que seja, a ditadura mais antiga do Ocidente. Nenhuma outra ditadura latino-americana se equipara, nos quesitos repressão e longevidade, à gerontocracia cubana. E nenhuma tem tantos defensores apaixonados fora de suas fronteiras.

Desde o momento em que pisou em solo brasileiro, iniciando a primeira viagem para fora da ilha-cárcere em seis anos (e após 20 tentativas negadas pelas autoridades de Havana), Yoani foi constantemente hostilizada por uma turba de fanáticos e gorilas fascistóides pagos por partidos de esquerda que compõem o atual governo Dilma Rousseff. Foi ofendida e injuriada com slogans que a acusavam de ser espiã e mercenária da CIA (acreditem: há quem pense que ela é agente da ditadura castrista, e com os mesmos argumentos: ela bebe cerveja, vai à praia e come banana...). Tais bobocas impediram, na base do berro e de ameaças de agressão, a projeção de um documentário do qual Yoani participa. Perseguiram-na em quase todos os lugares, inclusive no Congresso Nacional, onde deputados do PT, do PCdoB e do PSOL comportaram-se de maneira semelhante às claques de militontos histéricos (caracterizando, aliás, o crime de constrangimento ilegal, tipificado no Código Penal brasileiro). Tamanha foi a fúria dos esquerdopatas inimigos da liberdade de expressão que até o senador Eduardo Suplicy, caprichando na pose de falso bobo alegre que é sua marca registrada, saiu em defesa de Yoani, esperando com isso que todos se esqueçam de décadas de conivência sua com a castradura cubana e ficar bem na fita. 

Pois bem. De nada adiantaria repetir aqui alguns fatos óbvios sobre a tirania dos Castro em Cuba. De nada adiantaria perguntar aos amantes da castroditadura, por exemplo, se eles topariam viver uma semana em um país onde faltam papel higiênico, sabão, pão, carne, leite, com apagões diários e vivendo (?) com 12 dólares por mês (detalhe: quem reclama termina no xilindró...). Tampouco seria de grande valia indagar aos parlamentares esquerdistas que tentaram calar Yoani se eles desejam para o Brasil o mesmo que defendem para Cuba, ou seja, uma ditadura eterna, com censura à imprensa, sem liberdade de expressão e de reunião, partido único, presos políticos etc. (muitos certamente  vão querer dizer "sim", mas não têm a coragem de dizer abertamente). Aduladores de ditaduras simplesmente estão além do alcance de qualquer racionalidade. O importante é que a visita de Yoani já é histórica.

A visita de Yoani é histórica porque ajudou a tirar a máscara de muita gente no Brasil, mostrando a verdadeira cara dos militontos de esquerda, muitos dos quais adoram posar de defensores da democracia e dos direitos humanos (quando lhes convém, claro). Bastou a vinda de uma blogueira que não dança conforme a música ditada por Raúl e Fidel, e cujas críticas à tirania são aliás bastante moderadas, para tirar essa gente do sério e fazê-los mover mundos e fundos (principalmente fundos, que são abundantes) para atacar o mensageiro. Bastou a visita de Yoani para revelar para quem quiser ver que, para essa patota, há ditaduras boas e ditaduras más - as boas são as que matam mais (e que duram mais tempo).  Poucas vezes a expressão FASCISMO DE ESQUERDA fez tanto sentido quanto nesses ultimos dias no Brasil.

O jeito mais rápido e fácil de desmascarar um hipócrita esquerdista (seja "hard" ou da esquerda aguada, do tipo que se enche de indignação contra os crimes da ditadura militar mas considera "extremismo de direita" pedir democracia em Cuba) é perguntar o que ele(a) acha do regime comunista da ilha da fantasia da esquerda. Se ele(a) se recusar a condená-lo, insistindo num tom "neutro" ou fazendo silêncio, pode ter certeza: trata-se de um farsante. A visita de Yoani Sánchez foi uma excelente oportunidade de mostrar o que essa gente realmenre pensa e o que realmente quer.

Eis mais uma invenção da era lulopetista: o "protesto pró-ditadura", o "protesto a favor".

Imaginem o barulho que haveria se um grupo de "manifestantes" recebesse com gritos de protesto e ameaças de linchamento os exilados brasileiros que voltaram ao Brasil em 1979, chamando-os de agentes da KGB (e muitos eram mesmo)...

Como eu já disse inúmeras vezes, o clube mais numeroso do mundo é o dos inimigos das ditaduras passadas, e amigos das ditaduras atuais. Aí está Yoani para provar.

***
Não me admira a raiva dos militontos petistas e assemelhados contra Yoani Sánchez. Afinal, além de tudo que está aí em cima, ela milita "do lado errado". Vejam só:

- Yoani não ergue bandeira nem grita slogans contra o capitalismo, a globalização ou as multinacionais (até porque ela sabe que capitalismo e democracia, duas coisas inexistentes em Cuba, são inseparáveis);

- Yoani não invade igreja pelada para "comemorar" a renúncia do papa (até porque a religião cristã sofreu dura perseguição por parte da ditadura castrista em Cuba);

- Yoani não bate tambor em defesa do "casamento gay" e por uma lei "contra a homofobia" (o que diabos seria isso?);

- Yoani não defende cotas raciais nas universidades "contra o racismo" (ela vem de um país racialmente miscigenado, como o Brasil);

- Yoani não pinta a cara nem adota nome indígena fake no Facebook, posando de índio de boutique e defendendo aldeias e quilombos de mentitinha para mamar nas tetas do Estado-babá;

- Yoani não sai por aí endossando teses fajutas de artistas da Globo para protestar contra a construção de uma usina hidrelétrica (de onde ela vem falta luz todo dia);

- Yoani não gasta seu tempo em causas da elite descolada como a legalização da maconha (até porque em Cuba também há drogas, como sabe qualquer um que ler seu blog);

- Yoani não justifica atentados terroristas perpetrados por fanáticos islamitas, nem protesta contra os EUA por derrubarem tiranos genocidas;

- Yoani não sai por aí em favor do "controle social da mídia" (não, obrigado: ela sabe o que é censura);

- Yoani não considera o Mensalão "uma conspiração das elites";

- Yoani não quer rever anistias para punir apenas um lado etc.

Em vez disso, Yoani defende uma outra causa, mais simples: Liberdade e Democracia para Cuba.

Em resumo, Yoani não é uma militonta anticapitalista, antiglobalização, antirreligiosa, feminista, gayzista, racialista, ecochata, maconhista, antiamericana, antiocidental, multiculturalista, antiliberal e antidemocrata.

Convenhamos, realmente Yoani é uma figura muita estranha, estranhíssima. Principalmente no Brasil.

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