quarta-feira, maio 09, 2012

CUIDADO! A B.E.S.T.A. ESTÁ À SOLTA. E O INIMIGO DELA É A LIBERDADE DE IMPRENSA

Alguém importante com um dos chefes da BESTA: o inimigo é a imprensa não-estatal (ou seja: independente)

A Rede Record de Televisão (também conhecida como “Recópia” ou “a TV do Bispo”), braço midiático da seita conhecida como “igreja universal do reino de deus”, tem um jeito muito peculiar de fazer jornalismo. Ou algo que acredita ser jornalismo. No último domingo, isso ficou claro mais uma vez, quando o programa Domingo Espetacular, apresentado pelo ex-global, atual assalariado da IURD, blogueiro progressista e amigo de todos os governos desde o regime militar Paulo Henrique Amorim (“olá, tudo beeeeeeeeemmm?”), o homem do PIG (Partido da Imprensa Governista), apresentou, com a discrição sensacionalista de sempre, uma reportagem "exclusiva" e “estarrecedora”, que mostraria as "relações espúrias" de uma importante revista semanal com o esquema tentacular de corrupção capitaneado por Carlinhos Cachoeira.
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Preparado para ver chumbo grosso disparado na telinha e disposto a me deixar escandalizar com mais essa “reportagem-denúncia”, resolvi assistir ao troço. Por longos minutos, esperei a revelação bombástica, o tiro de canhão que iria destruir de vez um dos órgãos informativos mais conhecidos do Brasil, reduzindo a pó sua credibilidade.
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Pois é. Esperei, esperei… e continuo esperando.
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A “reportagem” (se é que se pode chamar assim uma peça de ficção feita sob encomenda) bateu e rebateu na tecla de que a revista VEJA estaria mancomunada com o esquema corrupto de Cachoeira. Qual a prova apresentada? Gravações de telefonemas entre o diretor da sucursal da revista em Brasília, Policarpo Jr., e Cachoeira, nas quais o bicheiro fornecia informações ao jornalista. Algumas dessas informações resultaram em reportagens que levaram à queda de seis ministros do governo Dilma Rousseff. Em outra gravação da PF, Cachoeira aparece comemorando com um cúmplice a queda da cúpula do DNIT, como resultado de uma matéria publicada na revista, baseada em informações por ele fornecidas.
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Fiquei pensando: isso deve ser o aquecimento, deve haver coisa mais pesada a seguir. Esperando ver algo mais substantivo, assisti à matéria até o final. Com voz grave e semblante soturno, o narrador insistia em dizer que as gravações “provavam” que o jornalista havia-se “unido” a Cachoeira, formando com este uma associação criminosa, igual à existente entre o bicheiro e o senador Demóstenes Torres.
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Puxa, uma gravação telefônica que mostra que o jornalista recebia informação de Cachoeira? E outra em que ele aparece comemorando o resultado da reportagem?
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A pergunta que fica é: e daí?
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Assisti ao vídeo da “reportagem” esperando o momento histórico em que veria um dos pilares do jornalismo brasileiro transformado em cinzas por uma montanha de evidências irrefutáveis. Em vez disso, depois de quase meia hora, duas perguntas ficaram martelando na minha cabeça:
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1) O jornalista que tem como fonte um corrupto, torna-se corrupto também?
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2) Se uma informação interessa, de alguma forma, à fonte, deixa de ser verdadeira? Deve, portanto, deixar de ser divulgada?
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Outras perguntas, decorrentes destas, são as seguintes:
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- Antes de obter uma informação, o jornalista deve exigir da fonte um atestado de bons antecedentes, ou então a informação não é válida?
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- Por que ninguém lembrou de exigir reputação ilibada de outros denunciantes quando as denúncias visavam a atingir adversários dos petistas, como os grampos do BNDES em 1998? (e que se revelaram falsas).  Por que, só quando as denúncias envolvem petistas e o veículo denunciador é a VEJA, exige-se que a fonte seja um cidadão respeitável, acima de qualquer suspeita, cumpridor de seus deveres e que vai à igreja todos os dias?
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- Dilma Rousseff demitiu seis ministros – e foi ela que demitiu, não a revista – apenas para agradar a VEJA?
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O que a patuscada da Record “provou”? Que Policarpo Jr. ofereceu ou recebeu dinheiro pelas informações de Cachoeira? Ele, o jornalista, deu ou obteve alguma vantagem financeira, ou outra qualquer, além da tarefa profissional de divulgar a notícia? Qual?
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Qualquer pessoa medianamente informada sabe perfeitamente que jornalistas não escolhem as fontes, e que estas raramente são desinteressadas. Isso não significa que o jornalista deve ignorar uma informação boa porque a fonte não é uma freirinha. Pelo contrário: quase sempre, é um integrante da quadrilha de bandidos que resolve denunciar o esquema. É assim que a coisa funciona. Ou vocês acham que Roberto Jefferson fez o que fez por amor à humanidade?
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A “reportagem” da Record não passa de um amontoado de ilações e insinuações, destinada a distorcer os fatos e inverter a realidade, demonizando o jornalismo investigativo e mostrando criminosos como vítimas. Lá pelas tantas, o telespectador é lembrado que um repórter da VEJA “invadiu” no ano passado o cafofo do Zé Dirceu, apresentando o ex-chefe da Casa Civil de Lula como vítima de uma tentativa de "invasão de privacidade". Só esqueceu de dizer que o chefe da quadrilha (é assim que ele é chamado pela Procuradoria Geral da República) comandava um governo paralelo em Brasília. Unindo o grotesco à chanchada, a Record ainda  tentou forçar uma comparação entre o dono da Editora Abril, que publica VEJA, Roberto Civita, e o multibilionário da mídia australiano Rupert Murdoch, condenado recentemente pela Justiça britânica por espionar personalidades da política. Ridículo. Patético.
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Teve mais: em dado momento da reportagem sobre o nada, o narrador tenta ser irônico, mostrando uma matéria da VEJA de algum tempo atrás em que o agora desacreditado Demóstenes Torres aparece como um "mosqueteiro da ética". O que se estaria tentando insinuar? Que VEJA estaria mancomunada com Demóstenes? Nesse caso, seria preciso incriminar toda a imprensa séria brasileira, que, assim como a VEJA, deixou-se cair no conto do político com princípios (como ocorreu, aliás, com seus eleitores). Ora, em 1993, a mesma VEJA se deixou enganar, enaltecendo o petista-cuecão José Genoíno como um dos paladinos da moral e da virtude cívica na CPI dos anões do orçamento (era assim que ele se apresentava na época, e muitos caíram na conversa). Por que não lembrar isso também?
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Não tenho procuração para falar em nome da VEJA, nem é preciso que eu o faça: a revista dispõe de uma equipe competente de colunistas, e longe de mim competir com eles. Tampouco é minha intenção obter algum retorno financeiro (seria mais fácil, aliás, se eu fosse petista). Mas não dá para ficar em silêncio diante de tamanha empulhação vomitada pela emissora de Edir Macedo. A VEJA, satanizada pelos petralhas como “direitista” (só mesmo no Brasil uma revista pró-aborto, pró-gay e pró-Obama é considerada de "direita"...) tem importantes serviços prestados à democracia. O impeachment de Collor em 1992 nasceu de uma entrevista de seu irmão, Pedro, à revista. Pedro não botou a boca no mundo porque era uma boa alma, mas porque se sentiu prejudicado em seus interesses particulares pelo tesoureito de campanha de Collor, PC Farias. Hoje, Fernando Collor é aliado de Dilma e, como membro da CPMI do Cachoeira, quer se vingar da VEJA. O que incomoda essa gente é a existência de uma imprensa realmente independente, que não se sujeita ao papel abjeto de agência chapa-branca.
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Assim como ocorre com as fontes, o ataque político à VEJA também não acontece de forma desinteressada. Às vésperas do julgamento do Mensalão, a banda do PT aliada ao jornalismo vigarista da Record quer desesperadamente criar uma cortina de fumaça e livrar a cara dos mensaleiros. Para isso, conta com a velha arma dos canalhas: a calúnia. Com uma oposição abúlica, ainda mais desmoralizada pelo caso Demóstenes, o alvo dos totalitários passou a ser a imprensa livre. Não se trata, assim, de uma briga Record X VEJA, mas, na realidade, de um ataque à liberdade de imprensa e ao próprio jornalismo. Um ataque, enfim, à democracia.
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O que Record, PHA, Carta Capital e outros veículos da imprensa chapa-branca - reunidos, na internet, na chamada BESTA (Blogosfera Estatal) - mais querem é calar as vozes dissonantes, impedindo "certas notícias" de virem à baila.  Aliados do que de pior existe na política brasileira, não podem suportar a existência de jornais e revistas que não dançam conforme a música e que, em vez de tecer loas ao governo dos companheiros, insistem em fazer jornalismo. Com isso, esses paladinos do jornalismo de aluguel agem de acordo com a estratégia dos atuais donos do poder: incapazes de comprar toda a imprensa com verbas públicas e contratos oficiais de publicidade, os petralhas e associados passaram a investir pesado na criação de uma imprensa domesticada, em troca de alguns favores muito lucrativos. Há vinte anos, quando Lula e o PT eram oposição, a "igreja" do "bispo" Macedo dizia a seus fiéis que os petistas eram o diabo; agora, com eles no governo, o diabo mudou de endereço. (A propósito, quem sabe o ataque da Record à VEJA tem algo a ver com isso aqui: http://veja.abril.com.br/blog/mainardi/na-revista/o-dizimo-do-trafico/) Quem diria: como disse o Reinaldo Azevedo, colunista da VEJA, o PT começou citando Karl Marx e terminou no colo de um exorcista amador - e outras coisas até piores. (Cá pra nós: passou de um farsante a outro, mas isso é outra história.)
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Muita gente se deixará enganar por mais essa impostura da Record, integrante da BESTA, do mesmo modo que tantos podres-diabos se deixam enganar pelas promessas de cura e pelos exorcismos dos telepastores da IURD. Não é para menos. Para quem falseia a Bíblia para lucrar explorando a credulidade alheia, mentir a favor do governo não chega a ser nenhum pecado. O jornalismo da Record tem tanta credibilidade quanto a teologia do “bispo” Macedo.

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