sexta-feira, agosto 19, 2011

O DIREITO A SER TOLO. OU: A INTOLERÂNCIA DOS TOLERANTES. OU AINDA: OS OBSCURANTISTAS DO BEM

Escolha uma das alternativas abaixo. Para você, liberdade de expressão é:

a) a liberdade de manifestar a opinião sobre qualquer assunto, sem medo de censura;

b) essencialmente, o direito de pensar diferente, de divergir;

c) um direito constitucional inalienável e uma das bases da democracia;

d) o direito de expressar somente a opinião considerada justa pela maioria, ou correta, sensata e inteligente.

Se você escolheu, entre as opções acima, qualquer uma que não a "d", parabéns, você é um cidadão que sabe o significado da liberdade de expressão, está plenamente habilitado para conviver com outros numa democracia. Se, ao contrário, você optou por NÃO marcar "a", "b" ou "c", seu lugar é em Cuba ou na Coréia do Norte.

Agora leiam o que está nos links a seguir:


A primeira notícia é sobre um processo que está sendo movido pelo Ministério Público de São Paulo contra um pastor de uma igreja evangélica. Motivo: ofensa aos ateus. Querem que a rede de televisão em que o tal pastor falou se retrate pelo que ele disse etc.

Nem vou discutir, aqui, as palavras do tal pastor da tal igreja, de quem nem tinha ouvido falar. Pelo que li, o que ele disse foi uma tolice, uma cretinice. Não é preciso ser crente em Deus para ser uma pessoa boa e pacífica, como sabem os fundamentalistas islamitas. A questão não é essa. É a seguinte: ele tem ou não o direito de falar o que pensa?

Sou ateu, portanto não tenho nada de positivo a dizer sobre as crenças de evangélicos, católicos, muçulmanos, judeus ou umbandistas. Exatamente por isso, aliás, não posso aceitar que queiram cassar uma opinião diferente da minha. O nome disso é censura. Ponto.

Todos os dias, pastores evangélicos - para não falar dos católicos - são avacalhados na internet, e no entanto não se vê ninguem pedir a cabeça de seus detratores numa bandeja (e se o fizessem, eu seria um dos primeiros a reclamar contra esse absurdo). As ofensas, inclusive, já chegaram à esfera criminal: na última parada gay em São Paulo, imagens de santos católicos foram achincalhadas e expostas ao ridículo por militantes gayzistas (o que é, aliás, um crime, pois viola o Artigo 208 do Código Penal, que pune com cadeia quem desrespeitar símbolos religiosos). Ainda assim, não se viu ninguém ameaçando-os de processo penal por causa disso. Por que, então, um pastor deve ter seu direito à palavra cassado e caçado por causa de sua opinião sobre o ateísmo? Em que parte da Constituição ou do Código Penal está escrito que isso é um delito? Onde está escrito que a liberdade de expressão vale para uns e não para outros?

Repito: não creio em Deus, entre outros motivos, porque considero a religião uma questão privada, individual. Exatamente por isso, defendo o direito dos crentes falarem o que quiserem a meu respeito (desde, claro, que não seja uma incitação à violência). Posso garantir que jamais me verão ameaçando processar alguém por causa de uma opinião, seja ela qual for. Para mim, sagrado é o direito ao livre pensamento - meu e de quem discorda de mim. E os que querem calar o tal pastor, podem dizer a mesma coisa?

Quanto à segunda notícia, quem a ler vai perceber claramente que a intolerância não está do lado de quem espalhou os outdoors, mas de quem quer punir uma opinião religiosa. Pode-se discordar dela, achá-la estúpida e até preconceituosa, mas se pode, francamente, impedir que ela seja veiculada? O outdoor em questão limita-se a citar três passagens bíblicas contrárias ao homossexualismo. Foi o bastante, porém, para a mensagem ter sido considerada (horror, horror!) "homofóbica". Ora, o que se deve fazer: reescrever a Bíblia?

Pelo visto essa deve ser a intenção do sr. Luiz Mott, presidente do Grupo Gay da Bahia e queridinho da Rede Globo. Mott deve ser um teólogo frustrado, a se julgar por sua afirmação de que citar a Bíblia nessa questão seria uma atitude obscurantista e intolerante, pois afinal o Antigo Testamento defende o apedrejamento de adúlteras etc. Atenção, católicos do mundo todo: há um impostor em Roma! O verdadeiro papa não se chama Bento XVI: ele se chama, na verdade, Luiz Mott! É ele a suprema autoridade teológica, o maior exegeta dos textos sagrados desde S. Tomás de Aquino...

Como disse, sou ateu, mas nem por isso vou sair por aí me arrogando ares de teólogo, coisa que não sou nem pretendo ser. Ao contrário dos "inimigos do obscurantismo", não tenho a ambição de reescrever nenhum texto religioso para que se adapte a minhas próprias convicções particulares. Basta-me a razão. Citar a Bíblia, ou qualquer outro texto religioso, para criticar o homossexualismo pode até ser um anacronismo, algo incompatível com a modernidade. Mas é um crime?

Mais uma vez, o que se quer é instituir o delito de opinião. E delito de opinião só existe em ditaduras. Preciso repetir o que penso a respeito?

Quando pretensos ateus e militantes gayzistas, que se apresentam como campeões da tolerância, tentam, em nome dessa alegada tolerância, intimidar e calar quem pensa de forma divergente, é porque estamos vivendo uma época realmente perigosa. Não me acanho em denunciar esse total absurdo, até porque há ateus que se comportam como inquisidores medievais, e há evangélicos (ou católicos) que levantam bem alto a bandeira da liberdade de expressão. A meu ver, esse tipo de coisa demonstra apenas a fragilidade daquilo que passa por aí como ateísmo: chego mesmo a duvidar de uma corrente filosófica que apela para as leis (além do mais, leis inexistentes), em vez de argumentos racionais, contra quem dela discorda. Confundem mesmo Estado laico com Estado ateu, que é exatamente o oposto da democracia.

E se alguém apontar alguma suposta contradição nessa minha atitude, porque afinal sou ateu (logo, por uma estranha lógica, deveria ser "contra os crentes" etc.), não hesitarei em lembrar o óbvio: que liberdade é sempre a liberdade de discordar, de pensar diferentemente. É a liberdade, inclusive, de dizer bobagem. O resto é intolerância e ditadura. Ponto final.

Até porque, se for para proibir as pessoas de dizerem tolices, seria preciso colocar uma mordaça em todo mundo. Vai ver é exatamente isso o que querem os "progressistas". Com o apoio de muitos "intelectuais" e de grande parte da imprensa (e, agora, do Ministério Público), estão conseguindo.

3 comentários:

Ari disse...

Sei não, tchê Gustavo... Acho que falta uma outra alternativa na tua pergunta sobre o que é a liberdade de expressão.
Por causa desse texto (http://www.sibila.com.br/index.php/mapa-da-lingua/1083-diario-de-um-detento-a-poesia-na-era-lula) de Luiz Dolhnikoff fui ver o que é esse tal de Racionais MC, e parte do que ouvi me fez duvidar da pertinência da liberdade irrestrita de expressão.
A expressão liberdade de expressão exprime um conceito, digamos, passivo, de dispormos de um direito natural de enunciarmos qualquer tipo de pensamento. Ocorre que nossa expressão pode também ser "ativa", e no sentido de impor que outras expressões tornem-se iguais à nossa, negando assim a própria liberdade de expressão a outrem. E essa imposição pode se dar por convencimento, por ludíbrio ou por atemorização (ou "terrorização").
A que é feita por convencimento é legítima; as outras são tirânicas. E sob tirania pode haver expressão, mas não liberdade. Então, haveria um limite para liberdade de expressão: seria o respeito à mesma liberdade, alheia. Uma vez infrigido, perde a validade, e o amparo legal de que desfruta indevidamente.

Anônimo disse...

Falando em liberdade de expressão, alguns parecem tropeçar nas palavras.

Veja reportagem do G1 sobre "homofobia".

Ela acaba revelando que muitos dos assassinatos de homossexuais não têm motivação de ódio. Grupo Gay da Bahia (GGB) fala isso, veja:

“Em todo ano passado [2010] foram 11 assassinatos por motivação homofóbica.” (11 de 260 é 4%) , no G1:

http://tinyurl.com/3p95reg

Eles não apresentam as fontes dos dados, mas já entregaram o jogo.

Aqui tem um site que contesta estes dados, e mostra as FONTES, e com números mostra como ocorrem muitas destas mortes, crimes passionais, além dos dados de 2011, tem até mesmo os dados do GGB, para 2001 e 2004:

http://tinyurl.com/3wdwju2

ou

http://homofobianaoexiste.wordpress.com/

Abraço.
Soares

Anônimo disse...

Não sabia da existência desse blog! Achei ótimo! Parabéns!

Esse pastor que pede "Quem não acredita em Deus fique longe de mim!" está simplismente contradizendo sua fé. Não vejo porque puní-lo por esse motivo. Ele pode acabar sendo muito mal amado, assim como qualquer pessoa que fala coisas tão ignorantes como esta.
Sou cristã e vejo tanta gente que mancha as palavras da Bíblia com declarações como esta.

"Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor.
Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo." (Gálatas 5:13)
Duvido que algum homossexual queira odiar um religioso que que se coloca como servo ao invés de juiz.