quarta-feira, abril 08, 2009

IDIOTAS ÚTEIS OU AGENTES DA TIRANIA?

Os jornais do mundo inteiro estamparam ontem a manchete com estardalhaço: "delegação de congressistas norte-americanos visita Raúl Castro em Cuba". A notícia foi saudada, por dez em cada dez grandes veículos de imprensa, como um "passo histórico" rumo à "normalização das relações" entre Cuba e os EUA. Uma demonstração clara da nova política do governo de Barack Obama para a ilha etc. etc.
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Os deputados que foram a Cuba são do Partido Democrata, o mesmo de Obama, e foram a Cuba como emissários do novo presidente norte-americano. É motivo suficiente para muita gente, especialmente nos círculos esquerdistas, ficar ouriçada com as brilhantes possibilidades de um futuro radioso pela frente. Afinal, tudo que diz respeito a Obama é imediatamente coroado com o adjetivo "histórico", ainda que seja a mera repetição de platitudes. Desconfio até que, se ele disser que a Terra é redonda, muita gente irá erguer a sobrancelha e exclamar que não sabia, até aquele momento. Há alguns dias ele esteve na Turquia, onde, para variar, fez mais uma declaração "histórica", ao dizer que a luta dos EUA era contra o terrorismo, não contra o Islã. Esqueceram-se que a frase vem sendo dita desde 2001, tendo sido repetida até a exaustão por ninguém mais, ninguém menos do que George W. Bush, o belzebu aposentado. Ah, esse Obama...
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E a visita dos sete congressistas americanos à ilha-prisão dos irmãos Castro? Também está sendo tratada, como não poderia deixar de ser, com confete e serpentina, mais um evento "histórico". Os deputados democratas avistaram-se com Raúl e com Fidel Castro, que classificou o encontro como "magnífico" (hummm...). É motivo suficiente, a meu ver, para ficar com o pé atrás. Os deputados falaram em acabar com o "bloqueio" americano à Cuba (hummm...), esquecendo-se que o único bloqueio existente é o que a ditadura dos irmãos Castro impõs ao povo cubano, já se vão mais de cinquenta anos. Após encontro com Fidel Castro, a chefe da delegação, a deputada Barbara Lee, disse, cheia de entusiasmo, que o Coma Andante "nos pareceu cheio de energia, nos reunimos em sua casa, uma casa muito modesta. Sua mulher estava lá, seu filho tirou fotos, foi um encontro muito emotivo, de certa maneira". Comovente, sem dúvida. Desnecessário dizer, mas as excelências não mencionaram em momento algum os presos políticos na ilha, nem se dignaram a se encontrar com nenhum deles.
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Até aí, você poderia dizer, nada de novo no front da desinformação esquerdista: visitas como essa ocorrem desde o governo Carter, que também ensaiou uma aproximação com Havana, recompensada em 1979 com o apoio de Fidel Castro à invasão do Afeganistão pela então URSS, e no ano seguinte com um dos maiores êxodos de refugiados dos tempos modernos, no qual o tirano aproveitou para se livrar de milhares de elementos "indesejáveis" na ilha-presídio. A visita seria apenas - de fato, foi - apenas mais um capítulo na interminável novela de enganação e auto-enganação patrocinada pela esquerda ocidental, que acredita piamente, ou finge acreditar, sei lá eu, que a ditadura castrista um dia chegará ao fim, bastando que para isso os EUA - sempre os EUA - deem o "primeiro passo". É uma lorota das grandes, claro. Mas o que me chamou a atenção, nesse caso, foi que, até mesmo para o nível habitual de enganação que cobre todas as notícias que nos chegam sobre Cuba, a visita dos parlamentares americanos ultrapassou todos os limites de mentira e manipulação.
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Vejamos a chefe da torcida organizada pró-tirania cubana, a deputada pela Califórnia Barbara Lee. Querem conhecer um pouco da referida? Dei uma pesquisada na internet. A mencionada foi, simplesmente, a única parlamentar que votou contra a decisão do governo norte-americano de usar a força contra a Al-Qaeda no Afeganistão depois dos ataques de 11 de setembro. Querem saber mais? Ela é uma militante esquerdista de longa data, tendo começado a carreira como simpatizante do grupo Panteras Negras, que pregava o racismo negro nos anos 60 e 70. Natural, portanto, que tenha feito boca de siri em relação à situação dos direitos humanos na ilha de Cuba, e se empenhado, em vez disso, em conseguir, junto ao governo dos EUA, a libertação de cinco espiões cubanos presos há anos nos EUA, onde foram condenados após julgamento, na forma da lei, tendo-lhes sido garantidas todas as possibilidades de defesa (coisa que não se pode dizer dos presos políticos cubanos). Uma pessoa altamente gabaritada para cumprir tão importante missão, não acham?
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"Ah Gustavo, mas que preconceito! Só porque ela é de esquerda..." Pudera. Se fosse só o que está aí em cima, já seria o suficiente para duvidar de mais essa tentativa de "aproximação". O problema, porém, vai mais além. A tirania castrista - a ditadura mais antiga do Ocidente - só existe e se mantém há mais de meio século por causa da repressão interna, implacável, e do apoio declarado de governos favoráveis, como os da Venezuela e do Brasil, e de idiotas úteis, que insistem em ver na ditadura castrista um exemplo de "dignidade" e de "resistência", enxergando na suposta intransigência da política norte-americana a verdadeira culpada pela... ditadura castrista, ora pois! Afirmam, nesse sentido, que basta o governo norte-americano - o culpado por tudo - fazer alguns gestos de boa vontade, como levantar o embargo comercial, e a ilha se tornará, um dia, uma democracia sueca. É uma mentira deslavada, que só se sustenta pela repetição incessante nos cérebros mal-informados. Cuba não é uma tirania por vontade dos EUA, nem deixará de sê-lo por causa disso. Nem, muito menos, vai virar uma democracia sendo adulada.
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Gente como Barbara Lee e os palhaços que a acompanharam a Havana para lamber as botas de Raúl Castro e de seu irmão moribundo não merecem sequer ser chamados de idiotas úteis. Ao contrário desses, eles não podem alegar ignorância ou ingenuidade. São, isso sim, agentes conscientes de uma das tiranias mais sanguinárias da História da América Latina. E não são os únicos.

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