quarta-feira, junho 20, 2012

O AMADOR E O PROFISSIONAL

Francamente, não sei por que todo o bafafá por causa da coligação Maluf-Lula-Haddad em São Paulo. Não entendo o choro e ranger de dentes. Como escrevi em outro texto, a notícia não me surpreendeu nem um pouco.

A enxurrada de críticas e de exclamações nas redes sociais bate na mesma tecla: "Mas como? Lula e Maluf, juntos no mesmo palanque? O PT, aliado do PP? Como pode?" etc. etc. 

Até parece que Lula é um santo e que o PT é uma confraria de senhoras tomadoras de chá.  Qual a surpresa?

É preciso ser muito avoado para ficar "surpreso" ou "decepcionado" com esse vale-tudo. É preciso ter PhD em cegueira, estupidez ou ingenuidade.

Ora, o que vocês queriam? Lula é o principal beneficiário do maior escândalo de corrupção da História do Brasil, o mensalão, e o PT é a maior máquina de cooptação política que já apareceu por estas plagas. Maluf, em comparação, é um mero batedor de carteiras. Lula já acolheu em suas asas Collor e Sarney. Era uma questão de tempo até que Maluf fosse batizado na fogueira santa dos companheiros mensaleiros e aloprados.  Perto do Apedeuta, Maluf é uma freira.

Cedo ou tarde, os dois se encontrariam. Vejam Gilberto Carvalho, o capacho-mor do Apedeuta. Ele disse que o acordo com Maluf em troca de uma secretaria no Ministério das Cidades "não é nenhuma catástrofe". Não considera catastrófico ter como aliado um dos quatro brasileiros na lista de corruptos do Banco Mundial. Realmente, por que deveria? A menos que Lula fosse alguém que tivesse algum princípio, com um mínimo de decência e vergonha na cara, e o PT, um partido comprometido com a ética e com a moral, por que tal coisa causaria escândalo? Isso é para os "moralistas burgueses", não é mesmo? 

É por isso que acho um teatro de baixa qualidade a saída lacrimosa de Luíza Erundina da chapa de Haddad-Lula, segundo ela por causa da foto em que Maluf aparece, com aquele sorriso famoso, sendo afagado em sua própria casa pelo ídolo de uma legião de tontos. Pelo visto, Erundina continua achando (ou finge que acha) o PT um partido de anjos, que não se mistura "com isso que está aí". Assim como ela, muitos insistem em não enxergar o óbvio: que não é o PT que se corrompe com a aliança com gente como Maluf, mas é ele, Maluf, que avança uma quadra e alcança um novo patamar ao aliar-se com Lula e o PT. 
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Ao contrário de seu novo aliado, Lula jamais se deixaria fichar pela Interpol ou amargar alguns dias de cadeia por roubalheira, tendo escapado do impeachment em 2005 por causa unicamente da incompetência e da falta de testosterona da "oposição". Maluf é um amador; Lula é um profissional. E o que faz o amador diante do profissional? Apóia o seu menino, claro. (A propósito: Erundina continua a apoiar Haddad, e vai trabalhar para que ele seja eleito.)

Não me entendam mal. Não estou dizendo que a aliança com Maluf deve ser encarada como algo normal, ou com aquela frase entre resignada e cínica: "são coisas da política".  Não, a aliança Lula-Maluf não é "coisa da política". É um caso de polícia.

2 comentários:

Thomas disse...

Não seja moralista e ingênuo. No meio político sabemos muito bem que todo tipo de aliança pode ser feita com o intuito de se atingir ou manter o poder!

Gustavo disse...

Caro Thomas,

Você acha mesmo que "todo tipo de aliança" pode ser feito em nome do poder? "Todo tipo"?

Desculpe, eu penso diferente. Acredito que política é uma coisa, criminalidade é outra. Prefiro ser moralista e ingênuo, obrigado.