O Brasil que presta considera o preparo e a capacidade intelectual fundamentais para um governante. O Brasil que não presta acha que o marketing compensa qualquer deficiência, usando e abusando da propaganda ufanista para tentar vender uma nulidade como uma estadista.
O Brasil que presta acha que o papel do presidente da República é governar. O Brasil que não presta acha que a função principal deste é fazer campanha para sua candidata, durante e após o expediente.
O Brasil que presta busca colocar-se acima das questões partidárias, separando-as dos assuntos de governo. O Brasil que não presta confunde propositalmente Estado e partido, transformando o primeiro num puxadinho do último.
O Brasil que presta acredita que todos são iguais perante a lei. O Brasil que não presta acha que alguns são mais iguais do que outros, dividindo a sociedade em raças e grupos distintos, estabelecendo o racismo por meios oficiais.
O Brasil que presta acredita que invadir e depredar propriedades é crime. O Brasil que não presta acha que impedir a invasão e depredação é "criminalizar movimentos sociais".
O Brasil que presta aprende com os erros do passado. O Brasil que não presta se recusa a admitir que um dia errou e tenta reescrever a História - e ainda lucrar financeiramente com isso, numa orgia de indenizações milionárias por escolhas políticas do passado.
O Brasil que presta tem programa de governo e um projeto de nação. O Brasil que não presta tem apenas um projeto de poder, visando eternizar-se nele.
O Brasil que presta defende mão firme contra o crime. O Brasil que não presta mantém relações com terroristas e narcotraficantes (e berra quando isso é mencionado).
O Brasil que presta acha que ninguém está acima da lei. O Brasil que não presta posa de messias e divide a sociedade em pessoas comuns e aliados políticos, para os quais tudo é permitido.
O Brasil que presta exige punição para corruptos e ladrões do dinheiro público. O Brasil que não presta diz ''não sei nada, não vi nada'' e ''fui traido'' - e bota a culpa na imprensa.
O Brasil que presta segue regras. O Brasil que não presta acha que tudo é válido, e que a única coisa proibida é perder as eleições e o poder.
O Brasil que presta quer apenas que o Estado não atrapalhe e o deixe em paz. O Brasil que não presta acha que o Estado deve controlar a vida do cidadão, e depende da máquina governamental para fazer bons negócios.
O Brasil que presta considera a honestidade um valor em si. O Brasil que não presta cultiva a ambigüidade moral e o relativismo para os seus.
O Brasil que presta desconfia das ideologias. O Brasil que não presta usa a ideologia sempre que lhe é conveniente, como uma forma de colocar os ricos contra os pobres (por exemplo, chamando denúncias de corrupção de "conspiração das elites").
O Brasil que presta tem vergonha até de fazer oposição ao governo (não deveria ter). O Brasil que não presta não tem limites, nem tem vergonha de nada. Só de perder o poder.
O Brasil que não presta usa a própria origem social como álibi para cometer falcatruas e para fugir da responsabilidade. O Brasil que presta acha que mais importante do que a origem pobre é ter vergonha na cara.
O Brasil que não presta se orgulha de não ter estudado quando pôde, e faz o culto da ignorância. O Brasil que presta acha que isso é um insulto aos pobres que estudam.
O Brasil que não presta acha pragmatismo e sabedoria querer que todos esqueçam o que disseram e fizeram no passado. O Brasil que presta acha que isso é oportunismo e sem-vergonhice.
O Brasil que não presta confunde bom governo com popularidade, e urna com tribunal. O Brasil que presta acredita que uma coisa não tem nada a ver com a outra.
O Brasil que não presta acha que o problema do Brasil é o ''excesso de liberdade'' da imprensa. O Brasil que presta acha que o problema do Pais é o excesso de liberdade do Brasil que não presta.
O Brasil que presta acha que democracia pressupõe a pluralidade e o contraditório. O Brasil que não presta acha que democracia deve ser uma competição entre semelhantes.
O Brasil que presta tem princípios. O Brasil que não presta só tem conveniências.
Se o Brasil fosse um país sério, e não uma terra de abestados e tiriricas, a parte que presta estaria no poder. E a que não presta estaria fora da política. Ou na cadeia.
Em alguns dias, os dois Brasis irão se enfrentar nas urnas. A julgar pelo que dizem as pesquisas, sairá vencedor o Brasil que não presta, o Brasil da mentira, do crime e da corrupção. É que este tem militantes. O outro Brasil, o Brasil que presta, tem, se tanto, eleitores.
2 comentários:
Este é o melhor texto que eu li até hoje neste blog. Excelente. Meus sinceros parabéns.
Bastaria apenas compreendermos que o estado de direito é algo inegociável e que, na democracia, as vontades pessoais nao podem se sobrepor ás istituiçoes, contudo, em uma siciedade de massa, o mais provável é que vejamos como resultado dessas eleiçoes a troca da legalidade por um prato de comida.
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