Como faço toda semana, fui ao jornaleiro e comprei a Veja. Muita gente, principalmente de esquerda, diz detestar a revista da família Civita, cobrindo-a de rótulos como "neoliberal", "conservadora", "tucana"(sic), "direitista" etc. Mas a verdade é que, odeiem-na ou não, e embora não o admitam, seus detratores também a lêem, como demonstrado pela fogueira que alguns energúmenos fizeram alguns meses atrás em frente à sede da Editora Abril em São Paulo, com uma edição da revista que teve a ousadia de - pecado mortal! - falar mal de santo Che Guevara. Mas voltando ao que eu dizia antes. Desembolsei R$ 8,40 e comprei a revista. Lá pelas tantas, ao ler uma reportagem sobre as atrocidades das FARC, que Hugo Chávez quer ver retiradas da lista de organizações terroristas e elevadas à categoria de "força beligerante", deparei com algo que realmente me chamou a atenção, e que, a meu ver, por si só valeu o preço da revista: uma referência, clara e inegável, ao maior tabu do Brasil na atualidade: o Foro de São Paulo.
Até que enfim! Já estava ficando preocupado, começando a achar que o tal Foro era alguma espécie de alucinação de minha mente paranóica, que insistia em ver algo que a quase totalidade da mídia, falada, escrita e televisada, esconde sistematicamente do público há 18 anos. Como o personagem Simão Bacamarte do conto O Alienista, de Machado de Assis, cheguei a sentir ganas de concluir que a insanidade humana, longe de ser uma ilha, é um continente, e que, diante da loucura geral - que se manifesta, no caso, pela recusa em reconhecer a simples existência do tal Foro, até hoje considerado uma espécie de fantasma por muitos analistas "sérios" -, o melhor para a minoria de mentalmente sãos é se trancarem num hospício e jogarem a chave fora. Nessas férias, tentei puxar conversa sobre o assunto com amigos e parentes, chamando a atenção, sempre que a conversa versava sobre política e a oportunidade se apresentava, para os verdadeiros objetivos das esquerdas e do Foro de São Paulo. Como sempre, olharam-me como se eu estivesse falando grego ou sendo vítima de algum tipo de delírio persecutório. De nada adiantou lembrar-lhes que ouvi o Apedeuta em pessoa mencionar o dito Foro em 2005, em discurso durante a cerimônia de formatura de minha turma do Instituto Rio Branco. Ao me ouvirem falar abertamente do que ninguém na grande mídia parece disposto a falar, e que por isso desconhecem totalmente, devem ter pensado que eu havia bebido demais ou que seria melhor me trancafiar numa instituição psiquiátrica.
É verdade, a referência foi extremamente tímida, tendo vindo quase escondida, fora do texto principal, num box ao lado da foto do Marco Aurélio Garcia, mostrado como um dos simpatizantes brasileiros das FARC e ex-coordenador do Foro. Dada a importância e gravidade do tema, o assunto mereceria não uma nota de rodapé, mas uma reportagem de capa, até uma edição inteira. Mas já é alguma coisa. A menção está lá, na página 51, não foi ilusão de ótica. Por segurança, vou guardar a revista comigo, caso alguém queira reescrever a História, nunca se sabe. Salvo engano - corrijam-me se eu estiver errado -, é a primeira vez que um grande órgão da imprensa brasileira menciona o Foro de São Paulo. Tirando isso, há os artigos de Olavo de Carvalho (banido da imprensa brasileira há anos por sua insistência em falar do assunto) e o site Mídia Sem Máscara, além, claro, deste que escreve estas linhas.
Por mais tímida que tenha sido, a menção ao conclave esquerdista criado por Lula e Fidel Castro em 1990 para - são suas palavras- "restabelecer na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu", correspondeu a uma verdadeira lufada de ar num quarto abafado. Mais que isso: significa uma ruptura, infelizmente ainda não total, com quase duas décadas de cumplicidade silenciosa com o maior plano esquerdista de revolução continental urdido na América Latina desde a OLAS, nos anos 60 (ver meu texto anterior). Para que a quebra do silêncio seja completa, basta que se liguem os pontos, que unem o Foro de São Paulo, as FARC - que participam do Foro - e o conjunto da esquerda latino-americana, em que o governo Lula ocupa lugar de honra. Feito isso, não seria muito difícil compreender que as palavras de Lula proferidas em Cuba condenando os seqüestros como abomináveis não valem meia colher de mel coado, como se dizia antigamente. Não seria difícil também perceber que não são apenas os métodos das FARC, que incluem explodir pessoas que se recusam a ceder à extorsão e acorrentar reféns como animais na selva, que são terroristas. Seus objetivos, chancelados por Hugo Chávez e pelos companheiros petistas - a revolução comunista, a implantação de um regime marxista na Colômbia -, também são.
Durante décadas, tudo que se dizia a respeito dos crimes cometidos pelos regimes comunistas da URSS e da China era imediatamente descartado por grande parte da mídia esquerdista como simples propaganda capitalista e distorsão da verdade. Até hoje, aliás, é essa a atitude adotada pelas esquerdas e pelo governo Lula em relação à ditadura comunista de Cuba, verdadeiro xodó da companheirada. Foi preciso a URSS vir abaixo, em 1991, para que a verdade sobre os cerca de 100 milhões de mortos pelo comunismo no século XX começasse a vir à tona. Agora, quando a América Latina se vê alvo de um plano continental para reconstruir no continente a maior máquina de moer carne humana da História, a maioria esmagadora da imprensa liberal fecha voluntariamente os olhos e ignora completamente essa ameaça. Embriagada pela onda de triunfalismo inconsciente que se seguiu ao colapso do bloco comunista, que confunde sistematicamente com o fim do próprio comunismo, a mídia liberal recusa-se a enxergar o óbvio. Acordem, senhores. Lula, Chávez, Morales e as FARC são parceiros. O espaço em que estão articulados politicamente não são os salões atapetados das recepções diplomáticas e as declarações anódinas à imprensa, mas as reuniões do Foro de São Paulo. Ao persistirem no erro absurdo de não levar em conta essa maquinação gigantesca, considerando a democracia como um fato da natureza e Lula como um governante responsável, vocês estão cavando seu próprio túmulo. Depois não digam que foi por falta de aviso.
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