segunda-feira, maio 27, 2013

PAUSA PARA RIR

Aí vai um texto humorístico que me mandaram. Ri bastante ao lê-lo. O autor parece uma versão menos endinheirada de Paulo Henrique Amorim ou de Luís Nassif, o tipo de gente que fala "mídia burguesa" ou "PIG (Partido da Imprensa Golpista)". Gente que lê - e leva a sério! - coisas como Caros AmigosCarta Capital

A meu ver, o "gênio" que escreveu o que vai a seguir (em vermelho) deveria estar batendo ponto no Pânico na Band ou no Zorra Total. Tive de fazer um tremendo esforço para parar de rir e escrever meus comentários (em preto). Estou rindo até agora. 
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Dez mentiras que a direita quer tornar verdades

Postado por Juremir em 25 de maio de 2013 - Uncategorized

A direita brasileira é tão bobinha que faz rir.

Sofisma sem o menor constrangimento.

E ainda cita a frase nazista sobre mentiras que se tornam verdades.
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É o que gostaria de fazer.
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Não consegue.
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Gostaria de saber do quê - ou melhor: de quem - o rapaz está falando. Que direita, cara-pálida? O DEM de Afif Domingos, o 39o ministro de Dilma Rousseff? O PP do neocompanheiro e agora lulista desde criancinha Paulo Maluf? O PSDB do estatista José Serra (ex-presidente da UNE em 1964)? Quem sobra? Collor? Bolsonaro? 

Dez mentiras da direita que não emplacam:

1) Capa da Forbes mostra Lula como bilionário.

Era uma montagem rastaquera.
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Nem vou me dar ao trabalho de investigar se a capa era uma montagem ou não. A fortuna pessoal de Lula da Silva (que não trabalha desde 1975) é de todos conhecida, e ele mesmo se encarrega de ostentá-la. Assim como a de Lulinha, que multiplicou um salário de 600 reais em 2002 por 10 milhões de reais quatro anos depois. Seria montagem?  

2) Não há liberdade de imprensa na Venezuela.

Os jornais El Nacional e El Universal provam o contrário.

Liberdade de imprensa com jornalistas presos? Com a RCTV obrigada a fechar as portas? Com milícias armadas atacando diariamente jornalistas críticos do governo? Esse pessoal da sinistra tem cada idéia esquisita...

3) Cristina Kirchner quer calar o Clarín

O Clarín tem mais de 200 concessões de televisão. A lei dos meios, inspirada na lei americana, quer evitar a concentração de mídia.

É exatamente por isso que a Rainha Louca quer calar o maior órgão de imprensa do país: porque ela não aceita concorrência. A "lei dos meios" é inspirada na Venezuela chavista, não nos EUA. Agora, dizer que uma lei criada para inibir a liberdade de expressão quer "evitar concentração de mídia" só pode ser piada... 

4) Os dois lados precisam ser investigados pela Comissão da Verdade.

Um lado, o dos que resistiram à ditadura, foi investigado pela justiça militar do regime, submetido a processo, condenado, preso, torturado, morto, exilado.

Nem todos que "resistiram à ditadura" foram investigados, muito menos processados, condenados ou torturados. E, mesmo assim, os que foram tiveram os processos extintos pela Lei de Anistia (a mesma que a esquerda quer revogar).

A história dos processos e condenações dos resistentes está em documentos, livros, depoimentos, relatos, reportagens, etc.

O mesmo para os crimes da esquerda armada. Preciso citar?

Por que o lado dos resistentes deveria ser condenado duas vezes?

Adoro esses eufemismos que a esquerda usa: "resistentes" em vez de terroristas, por exemplo... O rapaz já ouviu falar numa tal Lei da Anistia? Ela extinguiu todas as condenações. Por esse motivo a "Comissão da Verdade" não poderá condenar ninguém (apesar do que dizem alguns de seus integrantes, que mostram assim desconhecer a própria lei que criou a comissão). Pelo visto a simples memória de fatos inconvenientes para a esquerda, como os atos terroristas, seria uma forma de condenação pela História. Não deixa de ser verdade.  

Os torturadores é que nunca foram investigados nem condenados.

Nem é para isso que se propõe a tal "Comissão da Verdade". Veja o parágrafo anterior. E, mesmo que fosse: isso justificaria o silêncio sobre os crimes da esquerda?

5) O Brasil estava à beira do comunismo em 1964.

Trata-se de uma tese sem fundamentação histórica.

Alguém está precisando de uma pequena lição de História. Aí vai um pouquinho de fundamentação histórica (pus algumas partes em negrito para ajudar na compreensão):

"Tornou-se corrente na literatura acadêmica a assertiva de que, no pré-64, inexistiu verdadeira ameaça à classe dominante brasileira e ao imperialismo. Os golpistas teriam usado a ameaça apenas aparente como pretexto a fim de implantar um governo forte e modernizador.

A meu ver, trata-se de conclusão positivista superficial derivada de visão estática das coisas. Segundo penso, o período 1960-1964 marca o ponto mais alto das lutas dos trabalhadores brasileiros neste século, até agora. O auge da luta de classes, em que se pôs em xeque a estabilidade institucional da ordem burguesa sob os aspectos do direito de propriedade e da força coercitiva do EstadoNos primeiros meses de 1964, esboçou-se uma situação pré-revolucionária e o golpe direitista se definiu, por isso mesmo, pelo caráter contra-revolucionário preventivo. A classe dominante e o imperialismo tinham sobradas razões para agir antes que o caldo entornasse." - Jacob Gorender, Combate nas trevas (5a edição, São Paulo: Ática, 1998, páginas 72-73).

Então, alguma dúvida?

A propósito, Jacob Gorender, como se percebe pelos termos empregados acima, é comunista de carteirinha.

6) O bolsa-família torna as pessoas preguiçosas e dependentes.

Um milhão e seiscentos mil beneficiados saíram espontaneamente do sistema.

E quantos são os estado-dependentes, digo os "beneficiados" pelo Bolsa-Cabresto, cujos números não param de aumentar? Deixa pra lá.

Vejamos o que o próprio auto-proclamado pai dos pobres e criador do Bolsa-Esmola falava sobre iniciativas assistencialistas do tipo, antes de chegar ao poder:



Não sei quanto ao tal Juremir, mas eu concordo plenamente com o que Lula diz no vídeo acima.

7) Alunos cotistas não conseguem acompanhar o ritmo dos outros.

A média dos cotistas, numa escala comprimida, é 5.4, a dos não cotistas, 6.0. Uma diferença mínima, estatisticamente irrelevante.

Que curioso. É a primeira vez que vejo alguém dizer que uma estatística que prova o contrário do que se afirma é irrelevante. Se os números fossem o inverso, ou seja, cotistas com média ligeiramente superior aos não-cotistas, será que seriam "estatisticamente irrelevantes"? Acho que não.

8) Não havia corrupção no regime militar.

O historiador Carlos Fico e muitos outros mostram o tamanho da corrupção ao longo da ditadura. Só não se podia falar sobre ela nos jornais.

Gostaria que o Juremir citasse um único autor de direita, de esquerda ou de centro que diz não ter havido corrupção no regime militar... De minha parte, acredito que houve sim corrupção, principalmente na fase final, nos governos Geisel e Figueiredo. Mas duvido que os militares chegaram perto da malandragem dos petralhas, com seus mensalões e rosemarys. Até porque não precisavam, por exemplo, comprar o Congresso, que já estava sob controle devido às leis de exceção.

By the way, Carlos Fico é o mesmo historiador que desde 2010 luta na Justiça para ter acesso aos prontuários de Dilma Vana Rousseff no DOPS. O governo vem tentando a todo custo impedir que essa documentação seja divulgada. É esse o tal "direito á memória e à verdade" de que falam por aí?

E só para reforçar o que eu já disse: eu quero mais é que o regime militar se dane. Até porque não sou adepto do espiritismo para querer a sua volta. Quero apenas que a verdade histórica sobre o período venha à tona - TODA a verdade, e não só a metade que convém dizer. Fui claro?

9) Jango foi um presidente fraco.

Jango foi um visionário que se dispôs a antecipar reformas que teriam melhorado tanto o Brasil que os conservadores trataram de derrubá-lo.

O "visionário" Jango é assim descrito pelos próprios esquerdistas: "covarde, traidor" (Leonel Brizola); "frouxo" (Darcy Ribeiro); "despreparado" (Elio Gaspari). É pouco ou quer mais?

Quanto às "reformas que teriam melhorado o Brasil", várias delas foram encampadas pelos "conservadores". Um exemplo: o Estatuto da Terra, criado em 1964 pelo governo Castello Branco, que tratou de implementar a proposta original de reforma agrária janguista. Outro exemplo: o Mobral, que nada mais foi do que o método Paulo Freire sem a ideologia marxista.

10) O Estado mínimo produz o máximo de benefícios e não existe a divisão esquerda/direita.
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Paul Krugman, prêmio Nobel de economia, tem surrado os que acham, por ignorância ou ideologia, que a crise de 2008 nada tem a ver com Estado mínimo e com neoliberalismo.
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“EXAME - Os defensores do Estado mínimo não estão agora na defensiva?
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Paul Krugman – Claramente estão. É preciso muita ginástica intelectual para defender que o livre mercado estabiliza a si mesmo. Muitos economistas até criaram explicações para que as persistentes e elevadas taxas de desemprego não sejam mais consideradas deficiência do mercado. Mas certamente esse não é um ambiente muito amistoso a quem defenda o rigoroso funcionamento do livre mercado.”

Não saber diferenciar opinião de fato é típico de mentes débeis. Krugman expôs uma opinião - nesse caso, contrária ao liberalismo e a favor da intervenção estatal (nota: os militares brasileiros de 1964 também eram intervencionistas e estatistas; fim da nota). A superioridade do livre mercado sobre o dirigismo estatal, por sua vez, é um fato. Basta ver os países mais bem-sucedidos economicamente (dou o exemplo mais óbvio: EUA). E se for para ficar no argumento da autoridade, prefiro a opinião de um outro Nobel de Economia, Friedrich Hayek, que passou a vida toda surrando os devotos do Estado-empresário (recomendo O Caminho da Servidão, cujo título já diz tudo).
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A crise de 2008 enterrou essa vulgata de manual do neoliberalismo. A ideia de que não existem mais esquerda e direita é uma ideia de direita.
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A idéia de que a crise de 2008 "enterrou" o "neoliberalismo" é uma piada inventada pelos mesmos idiotas que inventaram esse tal "neoliberalismo".  Trata-se de uma ladainha que se repete pelo menos desde 1929 (na época se anunciou o "fim do capitalismo"... pois é). Nem para repetir a si mesmos os inimigos do capitalismo conseguem ser originais. Pudera: para ser original é preciso ter honestidade e inteligência.
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De toda essa lenga-lenga aí em cima, concordo somente com uma coisa: esquerda e direita não deixaram de existir. Aí está o Brasil, onde a esquerda é hegemônica há décadas e a direita é inexistente, para provar. Aliás, essa é  uma das causas do país ser o que é.
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Chega, né? Tenho mais o que vou fazer do que dar atenção ao Juremir. Melhor  ler alguma coisa que valha a pena.  

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