Li há pouco na internet um texto de um humorista, ou, melhor dizendo, ex-humorista – e acredito que o que vem a seguir deixa claro por que ele, em minha opinião, abandonou o humorismo –, queixando-se de alguns colegas de profissão. Segundo o autor do texto, o humor brasileiro enveredou por um caminho de deboche e ofensa gratuita contra grupos sociais específicos, esbaldando-se em piadas de gosto duvidoso e abusando de estereótipos, como a "loira burra", o "gay travesti", o "português idiota" etc. Ele critica comediantes da nova safra do humor nacional, como Danilo Gentilli, por piadas supostamente sexistas e racistas sobre negros ("macacos"), judeus etc. No final, há um link para um documentário estrelado, entre outros, pelo deputado-BBB Jean Wyllys, figura de proa do "movimento gay" no Brasil, "denunciando" (o tom é de denúncia) os comediantes por fazerem piadas consideradas "homofóbicas" etc.
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Isso
tem virado uma rotina no Brasil: uma anedota ou um comercial mais ousado fere a
sensibilidade de algum militante e este resolve chamar a polícia. É espantoso
que um ex-humorista – e aqui espero deixar claro o porquê do "ex" –
escreva um longo texto em que pede nada menos do que a criação de um manual de
correção política para comediantes!
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Na
boa, fico preocupado quando vejo alguém reclamar de uma... piada! Não consigo
encontrar outra palavra no dicionário para definir qualquer tentativa de enquadrar o humor em um
molde "politicamente correto" do que CENSURA.
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Todo
humor é necessariamente anárquico e do contra, não tem nenhuma obrigação de ser
"a favor", "do bem" ou de bom gosto, apenas de ser engraçado.
Também não tem nenhum dever de ser um tratado sociológico, ou mesmo fiel à realidade. Pode ser, inclusive, preconceituoso. Realismo é para cientistas. E bom gosto é para socialites.
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Se uma piada ofende as suscetibilidades de quem
quer que seja (gays, loiras, feministas, militantes negros, judeus, portugueses
etc.), o problema está com quem se sente
“ofendido”, e não com a piada. Nesse caso, os “ofendidos” têm a
liberdade de não assistirem ao show do humorista. Ou, então, que respondam na
mesma moeda, fazendo piadas com machistas, racistas etc. E vamos rir todos
juntos!
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Piada
é piada, não manifesto político-partidário. No momento em que um humorista, ou
suposto humorista, adota uma agenda política e passa a se censurar, aceitando limites
ditados não pelo humor, mas pelas conveniências de "movimentos",
deixa de ser humorista. Vira militante. E todo militante é um chato que merece
ser ridicularizado.
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E
não pensem que tudo isso se limita às piadas ou à publicidade. Até na
Literatura (com L maiúsculo), os novos censores e paladinos da moral e dos bons
costumes já se imiscuíram. Há algum tempo, um burocrata ocioso incrustado em
algum departamento improdutivo do MEC lulopetista entrou com um processo para censurar
ninguém menos do que Monteiro Lobato, tentanto extirpar de sua obra genial
passagens consideradas "racistas". Daqui a pouco vão querer censurar
Shakespeare por antissemitismo, Voltaire por antiislamismo e a Bíblia por
homofobia. Provavelmente, é isso mesmo que querem.
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Pessoas
que não têm humor e que se levam demasiadamente a sério, além de
insuportavelmente aborrecidas, são burras e autoritárias. Não se contentam em
impor limites e regras para o que deve e não ser dito. São contra o próprio
humor, a forma mais livre e subversiva de crítica. São contra a critica, enfim
o próprio pensamento livre. O riso é a maior arma contra o autoritarismo. Não
por acaso, ditaduras odeiam o humor.
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Ninguém,
nenhum comportamento humano está acima da chacota, e isso é ótimo! Se é pra
fazer piada com poderosos e que podem se defender, então ainda espero ver
alguém fazer piada com o Islã e com Maomé. As com a Igreja, de tão repetitivas,
já perderam a graça. O riso não tem agenda política nem ideologia.
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Só
não aceito um tipo de piada: a que não é engraçada. E isso não vai ser uma feminista
de cara amuada ou um sindicalista do gayzismo que vão determinar. Humor é
liberdade. O resto é discurso ideológico de minorias afetadas e que não sabem
rir. Principalmente de si mesmas. No país da piada feita, motivos para isso não faltam.
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