quarta-feira, fevereiro 27, 2013

EM DEFESA DA PIADA

 


Li há pouco na internet um texto de um humorista, ou, melhor dizendo, ex-humorista – e acredito que o que vem a seguir deixa claro por que ele, em minha opinião, abandonou o humorismo –, queixando-se de alguns colegas de profissão. Segundo o autor do texto, o humor brasileiro enveredou por um caminho de deboche e ofensa gratuita contra grupos sociais específicos, esbaldando-se em piadas de gosto duvidoso e abusando de estereótipos, como a "loira burra", o "gay travesti", o "português idiota" etc. Ele critica comediantes da nova safra do humor nacional, como Danilo Gentilli, por piadas supostamente sexistas e racistas sobre negros ("macacos"), judeus etc. No final, há um link para um documentário estrelado, entre outros, pelo deputado-BBB Jean Wyllys, figura de proa do "movimento gay" no Brasil, "denunciando" (o tom é de denúncia) os comediantes por fazerem piadas consideradas "homofóbicas" etc.
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Isso tem virado uma rotina no Brasil: uma anedota ou um comercial mais ousado fere a sensibilidade de algum militante e este resolve chamar a polícia. É espantoso que um ex-humorista – e aqui espero deixar claro o porquê do "ex" – escreva um longo texto em que pede nada menos do que a criação de um manual de correção política para comediantes!
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Na boa, fico preocupado quando vejo alguém reclamar de uma... piada! Não consigo encontrar outra palavra no dicionário para definir qualquer tentativa de enquadrar o humor em um molde "politicamente correto" do que CENSURA.
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Todo humor é necessariamente anárquico e do contra, não tem nenhuma obrigação de ser "a favor", "do bem" ou de bom gosto, apenas de ser engraçado. Também não tem nenhum dever de ser um tratado sociológico, ou mesmo fiel à realidade. Pode ser, inclusive, preconceituoso. Realismo é para cientistas. E bom gosto é para socialites.
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Se uma piada ofende as suscetibilidades de quem quer que seja (gays, loiras, feministas, militantes negros, judeus, portugueses etc.), o problema está com quem se sente  “ofendido”, e não com a piada. Nesse caso, os “ofendidos” têm a liberdade de não assistirem ao show do humorista. Ou, então, que respondam na mesma moeda, fazendo piadas com machistas, racistas etc. E vamos rir todos juntos!
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Piada é piada, não manifesto político-partidário. No momento em que um humorista, ou suposto humorista, adota uma agenda política e passa a se censurar, aceitando limites ditados não pelo humor, mas pelas conveniências de "movimentos", deixa de ser humorista. Vira militante. E todo militante é um chato que merece ser ridicularizado.
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E não pensem que tudo isso se limita às piadas ou à publicidade. Até na Literatura (com L maiúsculo), os novos censores e paladinos da moral e dos bons costumes já se imiscuíram. Há algum tempo, um burocrata ocioso incrustado em algum departamento improdutivo do MEC lulopetista entrou com um processo para censurar ninguém menos do que Monteiro Lobato, tentanto extirpar de sua obra genial passagens consideradas "racistas". Daqui a pouco vão querer censurar Shakespeare por antissemitismo, Voltaire por antiislamismo e a Bíblia por homofobia. Provavelmente, é isso mesmo que querem.
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Pessoas que não têm humor e que se levam demasiadamente a sério, além de insuportavelmente aborrecidas, são burras e autoritárias. Não se contentam em impor limites e regras para o que deve e não ser dito. São contra o próprio humor, a forma mais livre e subversiva de crítica. São contra a critica, enfim o próprio pensamento livre. O riso é a maior arma contra o autoritarismo. Não por acaso, ditaduras odeiam o humor.
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Ninguém, nenhum comportamento humano está acima da chacota, e isso é ótimo! Se é pra fazer piada com poderosos e que podem se defender, então ainda espero ver alguém fazer piada com o Islã e com Maomé. As com a Igreja, de tão repetitivas, já perderam a graça. O riso não tem agenda política nem ideologia.
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Só não aceito um tipo de piada: a que não é engraçada. E isso não vai ser uma feminista de cara amuada ou um sindicalista do gayzismo que vão determinar. Humor é liberdade. O resto é discurso ideológico de minorias afetadas e que não sabem rir. Principalmente de si mesmas. No país da piada feita, motivos para isso não faltam.

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