quarta-feira, julho 18, 2012

ELES SÃO O FUTURO? ENTÃO VIVA O PASSADO!


Outro dia vi um vídeo no youtube que me deixou intrigado. Nele, um jovem economista, defensor entusiasmado da escola liberal (ou "neoliberal", como gostam de dizer os esquerdistas, por ignorância ou má-fé), investia pesado contra um adversário ideológico. Em tom indignado, às vezes embolando as sílabas, o discípulo de Von Mises e de Hayek atacava com veemência um "filósofo-astrólogo", representante de uma direita "medieval" e "reacionária". Ele, o rapaz do vídeo, era o legítimo representante da direita, não o filósofo enganador, “teórico da conspiração” etc.

Pesquisei na internet, e vi vários vídeos e textos de teor semelhante, tanto por parte do economista liberal quanto do filósofo em questão. E reforcei minha quase certeza de que o que falta no Brasil é mesmo uma direita filosoficamente sólida e consequente.

A quizília parece ser antiga, e teria começado por causa de algumas mensagens no Orkut. Francamente, esse tipo de disputa não me interessa. Parece mais uma briga de egos, em que adjetivos injuriosos – não raro, com referências à vida pessoal de cada um – toma o lugar de argumentos. Já li que brigaram até mesmo por um pronome oblíquo.

Tão vazio e sem sentido quanto o arranco-rabo em si é a dicotomia que se quer estabelecer entre uma direita "medieval" e "reacionária" versus uma direita "moderna", "liberal" etc. Sobretudo se os pomos da discórdia forem, como são, questões como aborto, casamento gay e descriminalização das drogas. Onde está escrito que para ser “de direita” ou “liberal” é preciso defender esse tipo de coisa? Pode-se ser contra tudo isso com argumentos políticos e filosóficos, inclusive religiosos, perfeitamente legítimos. E, ainda que o crítico seja um membro da Opus Dei ou um saudoso das Cruzadas, como se poderia almejar, em sã consciência, um "retorno" ao passado? Como disse certa vez o filósofo acusado pelo economista de reacionarismo e medievalismo, isso não é ideologia: é espiritismo.

Não acredito que deva existir uma só direita, aliás não acho que exista somente uma (é curioso como se costuma falar "as esquerdas", no plural, mas quase nunca "as direitas"). Acredito, porém, que se deve ser coerente. Muitos que se dizem de direita hoje em dia são burguesinhos mais interessados na redução de impostos e em balancetes de lucros do que em democracia. São liberais, até ultra-liberais, mas não são conservadores. Pior: vêem mesmo contradição entre uma coisa e outra. Têm verdadeiro horror ao epíteto: para eles, "conservador" é pior do que ser de esquerda. Defendem com ardor o livre mercado e a propriedade privada, leram todo Adam Smith e John Stuart Mill, mas não dizem nada sobre Edmund Burke e G.K. Chesterton. Desde que a economia esteja nos trilhos, e os negócios estejam indo bem, não se importam que o governo seja formado por um bando de tarados e psicopatas. Esquecem que o conservadorismo é o verdadeiro esteio da democracia e que o contrário desta é revolução - seja violenta, seja mediante a guerra cultural gramsciana, que a esquerda está ganhando de goleada.

Esse tipo de "direita", francamente, me diz muito pouco. Do mesmo modo que desconfio de quem proclama as virtudes do liberalismo econômico mas vê na China comunista um modelo, aprendi a desconfiar de quem se diz "progressista" mas não tem uma palavra a dizer sobre o enforcamento de homossexuais e o apedrejamento de mulheres no Irã. A esquerda bem-pensante e politicamente correta está cheia desse tipo de vigarista, que adora acusar a Igreja Católica de reacionarismo, mas não vê nada errado nos países islâmicos. Quem é reacionário? Quem é medievalista?

Se há algo que distingue direita e esquerda, hoje em dia, não é a economia, mas princípios. E princípios, diga-se, morais e religiosos. No caso em questão, são os valores da civilização ocidental e, sim, cristã (em tempo: sou ateu, mas nem por isso deixo de reconhecer a importância desses valores para a democracia). É a defesa desses princípios universais que distingue a direita – pelo menos a direita com que me identifico – do que se convencionou chamar de esquerda. Por exemplo: roubar é errado. Matar, sobretudo se tiverem sido 100 milhões de pessoas, também. A vida humana e a liberdade individual, para mim, são sagradas. Assim como honestidade na política. Isso é "medievalismo"?

Em um país hegemonizado há décadas por um esquerdismo de botequim, onde o comunismo é levado a sério e “conservador” e “direitista” são palavrões, a existência de intelectuais que se reivindicam de direita – "medieval" ou não - é uma boa notícia. Seria uma pena que a vaidade e briguinhas pessoais tomassem o lugar de argumentos.

Certa vez, o escritor Nelson Rodrigues – um famoso "reacionário" –, indagado por um jornalista sobre suas idéias conservadoras, respondeu da seguinte forma, referindo-se aos comunistas: "se eles são o futuro, então eu sou o passado, sou a Idade Média!". As mesmas palavras podem ser repetidas hoje em dia. O futuro da humanidade é o "progressismo" preconizado por gayzistas, abortistas, maconhistas e outros do mesmo naipe? Muito prazer, eu sou o passado.

2 comentários:

Varela disse...

Matar (injustamente) é errado, roubar é errado, mas, talvez, o rol de valores "universais" da humanidade pare por aí. E justamente por serem "universais", nunca geraram bom debate, todo mundo sempre concordou com isso (muito embora se discorde sobre o que significa "matar injustamente" e "roubar").

No entanto, ser intolerante com as opções dos outros, não é tão universal assim, mas também é errado. Não há melhor regime que a democracia para o convívio e harmonização das diferenças, inclusive de ordem religiosa e moral. Essa é sua grande vantagem. Princípios morais religiosos não são fundamentos adequados a um regime democrático, uma vez que provém de uma autoridade ou vontade superior, não estão sujeitos ao debate e ao consenso.

O estado moderno deve ser laico. Esse é o primeiro ponto que a gente deve deixar claro. O fundamento ético (utilitarista, kantiano ou pragmático) pode ser debatido depois, sem se colocar Deus no meio da história.

Marcos Mitces disse...

Discordo desse comentario acima. Antes do estado ser laico, deve-se buscar a origem de sua implementação e sua preconização. O estado foi instituido por ninguem menos detalhista do que Deus. Isso mesmo, ele institui regras , normas, padrões e conceitos aos quais seguimos até hoje e, é através deles que subsistimos como sociedade. Mas , como somos subjugados pelos modelos "cráticos" de adoradores de deuses pagãos da grécia antiga, perdemos certas referências, vislumbrados pela mídia tecnológica e dominadora. O que o autor defende nesse texto é justamente a lógica determinada pelo criador. Família, trabalho, justiça, moral, ética, liberdade e racionalismo. Parabéns pelo Texto Gustavo! Abço!