terça-feira, julho 24, 2012

A MORTE DE UM DISSIDENTE

Oswaldo Payá, 1952-2012

No último domingo, morreu num suposto acidente de automóvel Oswaldo Payá, um dos principais opositores à ditadura totalitária comunista cubana. O carro em que estava teria batido numa árvore na província de Granma (antiga província de Oriente). Payá era o líder do Movimento Cristão Libertação e ficou famoso ao apresentar, em 2002, uma petição para a realizacão de reformas democráticas na ilha dominada há 53 anos por Fidel e Raúl Castro. A iniciativa, conhecida como Projeto Varela, valeu-lhe duas indicações ao Nobel da Paz e a perseguição sem tréguas do regime castrista.

É possível que a morte de Oswaldo Payá tenha sido um acidente, como se apressou a informar o regime comunista cubano. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas um fato está fora de dúvida: ditaduras são sempre suspeitas. Se a ditadura em questão é a tirania comunista dos irmãos Castro, que já fez 100 mil mortos (entre fuzilados e afogados tentando escapar da ilha-cárcere), então essa observacão deve ser multiplicada por mil: em primeiro lugar, na ilha-presídio não há imprensa livre para contestar a versão oficial do governo. Some-se a isso o fato de que Payá já havia sofrido outro "acidente" recentemente e o caso torna-se ainda mais estranho. Há fortes razões, portanto, para acreditar que sua morte não tenha sido acidental e que a nota divulgada imediatamente pelo regime lamentando o fato seja, no mínimo, morbidez hipócrita.

Em 1976, a estilista Zuzu Angel morreu no Rio de Janeiro num acidente de carro semelhante ao que vitimou Payá em Cuba. Hoje, ninguém questiona que ela tenha sido assassinada por agentes da ditadura militar. Muita gente ainda hoje acredita que o ex-presidente Juscelino Kubitschek tambem foi assassinado nas mesmas circunstâncias e pelos mesmos algozes. Tanto Zuzu Angel como JK eram figuras incômodas ao regime de 64, assim como Oswaldo Payá era uma pedra no caminho da tirania cubana. Por que o que vale para uma ditadura não vale para outra?

Inútil perguntar. Católico fervoroso, opositor da ditadura mais longeva e adulada do Ocidente, Oswaldo Payá não se encaixava no padrão adotado pela "festiva". A causa pela qual lutou e a que dedicou sua vida - a liberdade - não faz muito sucesso entre os "progressistas". Ele não queimava bandeiras dos EUA. Não cantava loas a tiranos e terroristas. Não era, enfim, um da turma.

Como falei antes, sempre que morre um opositor de uma ditadura, esta é a principal suspeita, ainda que a morte tenha sido causada por uma gripe. Trata-se de um fato óbvio. A menos, claro, que a ditadura tenha amigos poderosos como a cubana. Nesse caso, qualquer pedido de investigação é imediata e rapidamente descartado como teoria conspiratória. E assim fica comprovado, mais uma vez, o método com o qual os "progressistas" daqui e de alhures tratam o regime de Havana: com dois pesos e duas medidas. Também, quem mandou morrer do lado errado, não é mesmo?

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