Pela primeira vez desde o governo Jânio Quadros, a política externa brasileira é objeto de intenso debate público. Tudo começou por causa de uma entrevista bombástica do Embaixador Roberto Abdenur, ex-titular da Embaixada em Washington, à revista Veja, há algumas semanas. Resumidamente, as afirmações do Embaixador Abdenur na entrevista foram as seguintes:
a) a política externa do atual governo petista é marcadamente ideológica e esquerdista ("vagamente antiglobalização, anticapitalista e antiamericana");
b) por causa desse viés ideológico, que privilegia as relações "Sul-Sul", o Brasil tem colecionado fracassos, deixando de fazer bons negócios com os países mais ricos;
a) a política externa do atual governo petista é marcadamente ideológica e esquerdista ("vagamente antiglobalização, anticapitalista e antiamericana");
b) por causa desse viés ideológico, que privilegia as relações "Sul-Sul", o Brasil tem colecionado fracassos, deixando de fazer bons negócios com os países mais ricos;
c) também por esse motivo, há um nítido declínio na qualidade dos quadros do Itamaraty: as promoções estariam sendo decididas pelo critério da afinidade ideológica com a atual direção, e não pela competência profissional. Além disso, os diplomatas estariam sendo constrangidos a se submeter a leituras obrigatórias, de caráter doutrinário de esquerda – uma situação vexatória, principalmente para diplomatas mais antigos.
A repercussão da entrevista foi imediata, provocando, claro, um verdadeiro terremoto na Casa de Rio Branco, um lugar geralmente avesso a polêmicas de todo tipo. Os defensores da atual linha itamaratiana não perderam tempo: a revista Carta Capital (No 433, 28/02/2007), espécie de porta-voz oficioso do governo, apressou-se em publicar reportagem de capa rebatendo as acusações do Embaixador Abdenur, a qual incluiu uma entrevista com o Chanceler Celso Amorim. Subjacente à defesa protocolar dos – supostos ou reais – êxitos da atual orientação diplomática brasileira, incluindo a tão decantada "democratização" do acesso à carreira, o Chanceler baseia seus argumentos na seguinte linha de pensamento:
a) a política externa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva não é antiamericana, nem tem viés ideológico: é, isto sim, uma política altiva e autônoma. Não há doutrinação de qualquer espécie, e a resistência às leituras obrigatórias seria por simples comodismo;
A repercussão da entrevista foi imediata, provocando, claro, um verdadeiro terremoto na Casa de Rio Branco, um lugar geralmente avesso a polêmicas de todo tipo. Os defensores da atual linha itamaratiana não perderam tempo: a revista Carta Capital (No 433, 28/02/2007), espécie de porta-voz oficioso do governo, apressou-se em publicar reportagem de capa rebatendo as acusações do Embaixador Abdenur, a qual incluiu uma entrevista com o Chanceler Celso Amorim. Subjacente à defesa protocolar dos – supostos ou reais – êxitos da atual orientação diplomática brasileira, incluindo a tão decantada "democratização" do acesso à carreira, o Chanceler baseia seus argumentos na seguinte linha de pensamento:
a) a política externa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva não é antiamericana, nem tem viés ideológico: é, isto sim, uma política altiva e autônoma. Não há doutrinação de qualquer espécie, e a resistência às leituras obrigatórias seria por simples comodismo;
b) as críticas à linha geral do Itamaraty são demonstrações de "certos setores" da diplomacia brasileira ligados à administração anterior (leia-se: ao PSDB), refratários à qualquer mudança. Coisa de "conservadores", portanto;
c) tais críticas e acusações decorrem do descontentamento desses setores com a perda de privilégios e regalias profissionais, de que gozavam no governo anterior. Logo, tudo não passaria de egos feridos e ressentimentos pessoais.
Quem está certo? Pelo que se viu até aqui, ambas as partes parecem ter suas doses de razão. Tirando um certo exagero em dizer que as promoções estariam sendo feitas por afinidade ideológica – se isso for verdade, já tenho pronta minha carta de demissão do Itamaraty, pois prefiro voltar a comer giz em sala de aula a desfilar em alguma parada, seja de esquerda ou de direita –, o Embaixador Abdenur está certo ao dizer que há, sim, uma certa inflexão ideológica da diplomacia brasileira no governo Lula, como demonstra a má vontade com que o atual governo encarou a proposta da ALCA, entre outras razões. Por sua vez, a afirmação de Celso Amorim de que os setores descontentes estariam inconformados com a perda de privilégios, como viagens aos EUA e ao México, também não parece descabida (quem quer que esteja minimamente familiarizado com a realidade do Itamaraty sabe perfeitamente que se trata de uma das maiores – senão a maior – concentração de egos e vaidades da administração pública brasileira). Mas a questão é outra.
A questão é que, ao apontar a ideologização da política externa brasileira sob o governo petista, o Embaixador Abdenur tocou numa ferida profunda da atual administração federal, e provocou um debate que há muito vinha sendo – por medo, timidez, ou falta de oportunidade – postergado. De fato, imprimiu-se, na gestão Lula-Amorim, uma indisfarçável tendência ideológica esquerdista ou, pelo menos, terceiro-mundista, na diplomacia brasileira. Isso fica claro na questão das leituras a que eram submetidos os diplomatas em Brasília: não consigo ver a escolha de um dos livros listados como obrigatórios, o de Moniz Bandeira, como algo dissociado de uma visão ideológica herdada das velhas platitudes marxistas (a menos que se tenha escolhido o título com o objetivo oposto, ou seja, para demonstrar até que ponto vai a paranóia antiamericana). Quem tiver alguma dúvida, recomendo que leia o prefácio do livro, assinado pelo Secretário-Geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, o qual dispensa comentários. A própria direção da Casa tratou de admitir tacitamente esse viés, ao decidir retirar, logo em seguida à entrevista de Abdenur, a obrigatoriedade das leituras, "para encerrar a discussão", segundo Celso Amorim. (algo, aliás, desnecessário: bastaria, na minha opinião, retirar o livro de Moniz Bandeira da lista).
Para complicar ainda mais as coisas, na mesma entrevista à Carta Capital, o Chanceler Amorim acaba dando mais munição a seus críticos. Por exemplo, quando responde a uma pergunta sobre a Venezuela, afirma que, no governo Lula, a aproximação com Caracas "aumentou e foi usada, deliberadamente, para ajudar a consolidar o processo democrático" naquele país vizinho. Visto que Hugo Chávez já anunciou o cancelamento da concessão de funcionamento de uma das principais redes de TV que lhe fazem oposição e acabou de receber poderes praticamente totais da Assembléia Nacional venezuelana (aliás, 100% chavista), a afirmação de Amorim soa, no mínimo, esquisita. Se, por consolidar a democracia venezuelana, o Chanceler entende ajudar Chávez a se reeleger indefinidamente, preparando o terreno para impor aos poucos uma ditadura pessoal, a ponto de até inauguração de ponte ter sido transformada em palanque para que Lula fizesse campanha eleitoral para seu "companheiro" – como de fato ocorreu ano passado –, então, realmente, estamos ajudando a democracia na Venezuela.
Ainda na entrevista à revista, Amorim, perguntado sobre a relação do Brasil com regimes não-democráticos (um eufemismo para totalitários) como o de Cuba, saiu-se com a seguinte frase, usando o exemplo do Oriente Médio: "não basta conversar com os amigos, tem que conversar também com os adversários". Aí é que está. Fosse a ditadura comunista de Fidel Castro um regime "adversário" ou, pelo menos, exótico, como o são, por exemplo, os da China e da Coréia do Norte, vá lá, se poderia falar de pragmatismo. Mas o problema é que Fidel não é bem um adversário de Lula, muito pelo contrário: é um de seus mais íntimos "companheiros", quase um mentor, e o atual Presidente brasileiro não esconde sua admiração pelo regime cubano. A ponto de, sempre que Fidel manda prender dissidentes ou fuzilar alguém, o Brasil adota a política de tapar os olhos na Comissão de Direitos Humanos da ONU (justiça seja feita: essa política é anterior ao governo Lula). O fato de o Chanceler Amorim ter dito, após certa relutância inicial, ser "de esquerda", em nada ajuda a dissipar a impressão de viés ideológico na atual política exterior. Ter Marco Aurélio Garcia como Assessor Internacional da Presidência da República, certamente também não.
Essa última afirmação do Chanceler Celso Amorim – "sou de esquerda" – merece uma análise um pouco mais atenciosa. Ao fazer tal declaração, ele parece querer se distanciar ideologicamente de seus críticos, revestindo-se – e a sua política externa – de uma aura de "progressismo", ao passo que, como ele mesmo diz, "ninguém se diz de direita no Brasil". O próprio Embaixador Roberto Abdenur, segundo a mesma Carta Capital, também engrossa a legião dos que se dizem de esquerda.
Eis algo que sempre me intrigou. No Brasil, dizer-se "de esquerda" virou quase que uma exigência moral, um atestado de pureza e santidade, enquanto que, do lado oposto, "conservador" e "direitista" continuam a ser, entre nós, insultos gravíssimos, verdadeiras ofensas à honra e à dignidade pessoal. Nisso os dois embaixadores não fogem ao lugar-comum historicamente incrustado em nossa mentalidade. Apesar de todas as mudanças que ocorreram no mundo nos últimos vinte anos, dos inumeráveis crimes e atrocidades dos regimes comunistas e do fracasso total do socialismo, ainda é charmoso se dizer "gauche" no Brasil. Mesmo se de instâncias mais altas vierem sinais retóricos de que tal associação automática – esquerda é bom, direita, é mau – é uma construção mental sem base na realidade. O Presidente Lula, como se sabe, já disse publicamente que não é de esquerda. No fim do ano passado, num afago público a Delfim Netto, chegou mesmo a dizer que quem continua de esquerda depois dos 60 anos, certamente tem problemas. Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia têm mais de 60 anos.
Como se sabe, os esquerdistas são pródigos em tentar desqualificar seus críticos, não seus argumentos. Nesse sentido, Celso Amorim, embora recuse a existência de qualquer viés ideológico na diplomacia brasileira, parece seguir à risca a cartilha da esquerda leninista. Não que nosso Chanceler seja algum sinistro capa-preta ou militante bolchevique pronto para saltar das sombras e pular no pescoço do primeiro burguês que encontrar pela frente, nada disso. Mas, ao se declarar de esquerda, em meio a uma polêmica em que a política externa por ele conduzida está sob forte crítica de antiamericanismo, ele se comprometeu com uma visão, sim, ideológica, e não pragmática, do mundo. Uma percepção caolha da realidade, levada a efeito por pessoas que, ao contrário do que dizem Marx e Engels no Manifesto Comunista, costumam esconder seus reais propósitos, camuflando-se debaixo de camadas e camadas de retórica aparentemente anódina e de causas supostamente neutras – os comunistas, por exemplo, tinham por hábito dissimular seus objetivos revolucionários disfarçando-os de defesa da "paz" e da "democracia", quando, como a História do Século XX demonstrou de forma cabal, eram seus maiores inimigos.
Quem está certo? Pelo que se viu até aqui, ambas as partes parecem ter suas doses de razão. Tirando um certo exagero em dizer que as promoções estariam sendo feitas por afinidade ideológica – se isso for verdade, já tenho pronta minha carta de demissão do Itamaraty, pois prefiro voltar a comer giz em sala de aula a desfilar em alguma parada, seja de esquerda ou de direita –, o Embaixador Abdenur está certo ao dizer que há, sim, uma certa inflexão ideológica da diplomacia brasileira no governo Lula, como demonstra a má vontade com que o atual governo encarou a proposta da ALCA, entre outras razões. Por sua vez, a afirmação de Celso Amorim de que os setores descontentes estariam inconformados com a perda de privilégios, como viagens aos EUA e ao México, também não parece descabida (quem quer que esteja minimamente familiarizado com a realidade do Itamaraty sabe perfeitamente que se trata de uma das maiores – senão a maior – concentração de egos e vaidades da administração pública brasileira). Mas a questão é outra.
A questão é que, ao apontar a ideologização da política externa brasileira sob o governo petista, o Embaixador Abdenur tocou numa ferida profunda da atual administração federal, e provocou um debate que há muito vinha sendo – por medo, timidez, ou falta de oportunidade – postergado. De fato, imprimiu-se, na gestão Lula-Amorim, uma indisfarçável tendência ideológica esquerdista ou, pelo menos, terceiro-mundista, na diplomacia brasileira. Isso fica claro na questão das leituras a que eram submetidos os diplomatas em Brasília: não consigo ver a escolha de um dos livros listados como obrigatórios, o de Moniz Bandeira, como algo dissociado de uma visão ideológica herdada das velhas platitudes marxistas (a menos que se tenha escolhido o título com o objetivo oposto, ou seja, para demonstrar até que ponto vai a paranóia antiamericana). Quem tiver alguma dúvida, recomendo que leia o prefácio do livro, assinado pelo Secretário-Geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, o qual dispensa comentários. A própria direção da Casa tratou de admitir tacitamente esse viés, ao decidir retirar, logo em seguida à entrevista de Abdenur, a obrigatoriedade das leituras, "para encerrar a discussão", segundo Celso Amorim. (algo, aliás, desnecessário: bastaria, na minha opinião, retirar o livro de Moniz Bandeira da lista).
Para complicar ainda mais as coisas, na mesma entrevista à Carta Capital, o Chanceler Amorim acaba dando mais munição a seus críticos. Por exemplo, quando responde a uma pergunta sobre a Venezuela, afirma que, no governo Lula, a aproximação com Caracas "aumentou e foi usada, deliberadamente, para ajudar a consolidar o processo democrático" naquele país vizinho. Visto que Hugo Chávez já anunciou o cancelamento da concessão de funcionamento de uma das principais redes de TV que lhe fazem oposição e acabou de receber poderes praticamente totais da Assembléia Nacional venezuelana (aliás, 100% chavista), a afirmação de Amorim soa, no mínimo, esquisita. Se, por consolidar a democracia venezuelana, o Chanceler entende ajudar Chávez a se reeleger indefinidamente, preparando o terreno para impor aos poucos uma ditadura pessoal, a ponto de até inauguração de ponte ter sido transformada em palanque para que Lula fizesse campanha eleitoral para seu "companheiro" – como de fato ocorreu ano passado –, então, realmente, estamos ajudando a democracia na Venezuela.
Ainda na entrevista à revista, Amorim, perguntado sobre a relação do Brasil com regimes não-democráticos (um eufemismo para totalitários) como o de Cuba, saiu-se com a seguinte frase, usando o exemplo do Oriente Médio: "não basta conversar com os amigos, tem que conversar também com os adversários". Aí é que está. Fosse a ditadura comunista de Fidel Castro um regime "adversário" ou, pelo menos, exótico, como o são, por exemplo, os da China e da Coréia do Norte, vá lá, se poderia falar de pragmatismo. Mas o problema é que Fidel não é bem um adversário de Lula, muito pelo contrário: é um de seus mais íntimos "companheiros", quase um mentor, e o atual Presidente brasileiro não esconde sua admiração pelo regime cubano. A ponto de, sempre que Fidel manda prender dissidentes ou fuzilar alguém, o Brasil adota a política de tapar os olhos na Comissão de Direitos Humanos da ONU (justiça seja feita: essa política é anterior ao governo Lula). O fato de o Chanceler Amorim ter dito, após certa relutância inicial, ser "de esquerda", em nada ajuda a dissipar a impressão de viés ideológico na atual política exterior. Ter Marco Aurélio Garcia como Assessor Internacional da Presidência da República, certamente também não.
Essa última afirmação do Chanceler Celso Amorim – "sou de esquerda" – merece uma análise um pouco mais atenciosa. Ao fazer tal declaração, ele parece querer se distanciar ideologicamente de seus críticos, revestindo-se – e a sua política externa – de uma aura de "progressismo", ao passo que, como ele mesmo diz, "ninguém se diz de direita no Brasil". O próprio Embaixador Roberto Abdenur, segundo a mesma Carta Capital, também engrossa a legião dos que se dizem de esquerda.
Eis algo que sempre me intrigou. No Brasil, dizer-se "de esquerda" virou quase que uma exigência moral, um atestado de pureza e santidade, enquanto que, do lado oposto, "conservador" e "direitista" continuam a ser, entre nós, insultos gravíssimos, verdadeiras ofensas à honra e à dignidade pessoal. Nisso os dois embaixadores não fogem ao lugar-comum historicamente incrustado em nossa mentalidade. Apesar de todas as mudanças que ocorreram no mundo nos últimos vinte anos, dos inumeráveis crimes e atrocidades dos regimes comunistas e do fracasso total do socialismo, ainda é charmoso se dizer "gauche" no Brasil. Mesmo se de instâncias mais altas vierem sinais retóricos de que tal associação automática – esquerda é bom, direita, é mau – é uma construção mental sem base na realidade. O Presidente Lula, como se sabe, já disse publicamente que não é de esquerda. No fim do ano passado, num afago público a Delfim Netto, chegou mesmo a dizer que quem continua de esquerda depois dos 60 anos, certamente tem problemas. Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia têm mais de 60 anos.
Como se sabe, os esquerdistas são pródigos em tentar desqualificar seus críticos, não seus argumentos. Nesse sentido, Celso Amorim, embora recuse a existência de qualquer viés ideológico na diplomacia brasileira, parece seguir à risca a cartilha da esquerda leninista. Não que nosso Chanceler seja algum sinistro capa-preta ou militante bolchevique pronto para saltar das sombras e pular no pescoço do primeiro burguês que encontrar pela frente, nada disso. Mas, ao se declarar de esquerda, em meio a uma polêmica em que a política externa por ele conduzida está sob forte crítica de antiamericanismo, ele se comprometeu com uma visão, sim, ideológica, e não pragmática, do mundo. Uma percepção caolha da realidade, levada a efeito por pessoas que, ao contrário do que dizem Marx e Engels no Manifesto Comunista, costumam esconder seus reais propósitos, camuflando-se debaixo de camadas e camadas de retórica aparentemente anódina e de causas supostamente neutras – os comunistas, por exemplo, tinham por hábito dissimular seus objetivos revolucionários disfarçando-os de defesa da "paz" e da "democracia", quando, como a História do Século XX demonstrou de forma cabal, eram seus maiores inimigos.
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É sobretudo nos adjetivos escolhidos para contrarrestar seus adversários que o discurso esquerdista se revela: ao mesmo tempo em que defende o suposto caráter ideologicamente neutro da política externa do governo Lula, Celso Amorim não hesita em atribuir a seus críticos motivações ideológicas ("é uma reação conservadora"). Ou seja: para defender uma política externa que afirma não ter caráter ideológico, acaba sacando da gaveta velhos chavões esquerdistas – só faltam os indefectíveis "agente da CIA" e "lacaio do imperialismo". Ou, então, busca reduzir as críticas a um simples gesto de ressentimento pessoal de alguém que se acha preterido. Desse modo, tenta-se desviar o foco da questão, atribuindo todo o debate sobre a diplomacia brasileira a uma mera questão de ciúmes. O que é uma forma também de desqualificar o adversário, sem precisar analisar mais a fundo a pertinência, ou não, de suas críticas. É a velha tática de atacar o mensageiro, não a mensagem.
As duas táticas – acusar os críticos de reacionarismo e atribuir a estes inconfessáveis motivações particulares – estão de acordo com a lógica esquerdista: o rótulo ideológico é sempre de quem acusa, não de quem é acusado. As motivações egoístas, também. Como se vê, o passado insiste em bater à nossa porta.
As duas táticas – acusar os críticos de reacionarismo e atribuir a estes inconfessáveis motivações particulares – estão de acordo com a lógica esquerdista: o rótulo ideológico é sempre de quem acusa, não de quem é acusado. As motivações egoístas, também. Como se vê, o passado insiste em bater à nossa porta.
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