quarta-feira, setembro 26, 2012

LULA: O COMEÇO DO FIM

 
"Este não é o fim, e pode mesmo não ser o começo do fim, mas é, certamente, o fim do começo". - Winston Churchill
 
O Brasil está mudando. E para melhor.
 
Alguns fatos apontam para essa conclusão otimista. Primeiro, o julgamento do mensalão, que começou morno e que parecia caminhar para terminar em pizza, parece que é para valer. Apesar da ausência inexplicável no banco dos réus do capo di tutti cappi, e de algumas questões mal resolvidas (como os constantes arranca-rabos entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski), as condenações, bem ou mal, estão saindo. Caiu por terra, assim, de forma acachapante, a tese defendida há sete anos por Lula e seus asseclas, segundo a qual o mensalão não existiu (ou foi uma "conspiração das elites e da mídia golpista" etc.). É algo positivo, sem dúvida. Ao que parece, o Brasil está aproveitando a chance de deixar de ser o país da impunidade.
 
Outro fato positivo, e simbolicamente mais importante, foi a recusa de alguns partidos da base aliada do governo de referendar uma nota a favor do ex-presidente - e enfatizo aqui o "ex-presidente", porque parece que ele não entendeu que não é mais presidente da República - Luiz Inácio Lula da Silva contra as acusações de Marcos Valério, feitas à revista VEJA, de que ele, Lula, não só sabia, como foi o mentor e chefe do esquema do mensalão. A nota, denunciaram os líderes de alguns partidos aliados, foi-lhes arrancada à base da coação pelo presidente do PT, Rui Falcão.
 
Não sei se vocês perceberam, mas o que está descrito aí em cima é algo absolutamente inédito: pela primeira vez em dez anos, e mesmo antes, um grupo de políticos (ainda por cima, aliados) recusou-se a fazer o papel de aduladores do Apedeuta. Pela primeira vez desde que este apareceu na vida política nacional, há mais de trinta anos, políticos aliados se negaram a bajulá-lo. Depois de décadas sendo sistematicamente paparicado, incensado, endeusado por legiões de políticos, artistas e intelectuais, Luiz Inácio Lula da Silva teve de ouvir um "não" como resposta. Não é pouca coisa.
 
Não é segredo para ninguém que o culto da personalidade de Lula já atingiu níveis realmente stalinianos, superando mesmo o de Getúlio Vargas na época da ditadura estadonovista. Em vários textos, escrevi sobre isso. É algo inseparável da criação de seu mito político, que se alimenta tão-somente de um misto de esquerdismo inercial e complexo de culpa das elites (já falo sobre isso). Agora, ao que tudo indica esse mito começa a desbotar, gerações de vigaristas ou de idiotas bem-intencionados estão vendo, finalmente, que o ídolo tem pés de barro. O reizinho está ficando nu. 
 
De vez em quando ouço alguém dizer, como que justificando para si mesmo o fato de se ter deixado enganar por tanto tempo: "Lula é um gênio". Comparam-no, assim, a um Einstein, um Newton, um Galileu. Um gênio instintivo, um gênio da política etc. etc. Ora essa! Nada mais equivocado e, diria mesmo, nada mais cretino. Dizer que Lula é um gênio é uma forma de alimentar o culto da personalidade criado em torno do Filho do Barril. É um insulto aos verdadeiros gênios, e é uma maneira de isentar-se de culpa pela construção do mito, a maior farsa política da História do Brasil.

Não, Lula nunca foi um gênio. É, sim, um demagogo, um político esperto que se aproveitou da boa-fé de milhões de incautos para chegar onde chegou e fazer o que fez. Um populista espertalhão, de escassa cultura e igual inteligência, que teve a sorte - e que sorte! - de encontrar pela frente um povo despolitizado e uma elite intelectual sequiosa de endeusar mais uma figura "popular". Lula teve a fortuna (no sentido maquiavélico do termo, e também pecuniário) de contar com os préstimos involuntários de uma oposição abúlica, que desperdiçou a oportunidade de retirá-lo do poder por impeachment (oportunidade que ele, Lula, jamais desperdiçaria). Junte-se a isso a amnésia que caracteriza o eleitorado brasileiro, uma mídia simpática e um fugaz crescimento econômico - construído sobre bases anteriormente estabelecidas - e se terá um retrato fiel da "genialidade" de Lula.

Em vão se buscará em Lula, desde sua aparição no cenário político nacional, uma única palavra sábia, alguma frase inteligente ou uma análise mais aprofundada sobre qualquer assunto. Vejam os registros. Não há nada, absolutamente nada: apenas velhos chavões esquerdistas, quando na oposição, slogans soprados por algum intelectual marxista, repetidos e adaptados à situação do momento. Nem um resquício, por menor que seja, de pensamento próprio ou original. Sem falar nos seus adversários políticos de ontem, como Sarney, Collor ou Maluf, hoje seus fiéis aliados. Em tudo isso, um grande vazio de idéias, sem qualquer conteúdo, embalado numa imagem messiânica de "líder popular", vindo de baixo e semi-analfabeto (por vontade própria, mas lembrar esse fato não é "politicamente correto"...). Gênio? 

Até o tão propalado carisma de Lula tem muito de falso e de artificial. Lula tornou-se líder carismático em contraste com os políticos mais tradicionais, velhas raposas vindas das oligarquias ou tecnocratas insossos como José Serra, tendo sido incensado mais por seus defeitos do que por qualquer qualidade, aliás inexistente. Por exemplo, seus erros de português, inaceitáveis num político tradicional, e mesmo num cidadão comum razoavelmente instruído, nele se converteram numa virtude a ser explorada, uma prova de sua origem "do povo" - criticá-lo por isso seria "preconceito elitista" etc. (Aliás, criticá-lo por qualquer motivo foi, durante decênios, um delito de lesa-santidade.) Que Lula só fale errado por ter desprezado a própria educação, e que se desconheça um único livro que tenha lido em toda sua vida porque escolheu, por vontade própria, ser limítrofe, é algo que passou completamente despercebido, um fato omitido até hoje pelos devotos da seita lulopetista. Lula foi erguido às mais altas posições - messias, oráculo, Deus - sem que nada o qualificasse a tanto. Ao contrário, foi escolhido exatamente por não ter nenhuma qualidade.
 
Tanto Lula é um homem sem qualidades que o mito lulista precisa, para existir, reescrever constantemente a história. Lula já disse que a democracia brasileira é fruto da luta do PT, o que é mentira - o PT nem existia em 1979, quando a Lei de Anistia, que agora muitos querem revogar, foi aprovada, após intensa campanha popular e democrática. Nos anos seguintes, o partido da estrela vermelha dedicou-se a promover greves, muitas delas irresponsáveis e eleitoreiras, tendo expulsado três parlamentares que votaram em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral em 1985 (o candidato do regime militar, talvez profeticamente, era o hoje aliado Paulo Maluf) e se recusado a assinar a Constituição de 1988. Lula, aliás, foi deputado federal constituinte, mas quase ninguém se lembra disso. Uma vez no governo, Lula surfou na onda alheia da estabilidade econômica, a qual se opõs quando era oposição -, apropriou-se das conquistas de outros e registrou, em cartório, a fundação do Brasil. Se conseguiu safar-se do julgamento do mensalão (não sem antes tentar coagir e chantagear um ministro do STF), foi não por seus próprios méritos, que não os tem, mas por obra e graça de uma legião de áulicos e adoradores, dispostos a tudo para alimentar o culto à sua personalidade. Lula foi "blindado".  

O mais irônico de tudo é que Lula é uma criação das elites - as mesmas elites que ele adora achincalhar em seus discursos. Foram as elites, foi a burguesia brasileira, a intelligentisia da USP e da PUC, as marilenas chauí, os emir sader, os frei betto, além de um exército de artistas e jornalistas, que criaram o personagem. É nesses setores que se encontram seus devotos mais ardorosos. Celso Amorim, por exemplo, chama-o de "nosso guia". Marta Suplicy declarou recentemente que Lula é Deus. Isso mesmo: Deus. Nada menos. É a elite, mais do que o povão, que adora rir de suas piadas chulas, e que vê sabedoria e inteligência onde só há platitudes e frases desconexas.

Já em 1979, o grande dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues apontava para esse fenômeno de sabujice coletiva, ao dizer, em entrevista à revista Playboy: "Vocês [os jornalistas] acham que o Lula é um Napoleão, um Gêngis Khan. Mas a verdade é que ele, Lula, não fez nada, rigorosamente nada". Lula não precisou fazer nada para chegar onde chegou: sempre achou quem fizesse o serviço sujo por ele - e inclusive quem por ele se sacrificasse, como Delúbio Soares, que já declarou que encara a prisão como um "dever partidário".

Diante de tanta mediocridade, agora cada vez mais exposta sem os confetes e o brilho do poder, os que um dia acreditaram no Lula redentor da humanidade - os que mantêm um resquício de pudor, pelo menos - recolhem-se com vergonha, num silêncio acabrunhado. Silêncio que aumenta diante da continuação de Lula que é Dilma Vana Rousseff. Nada mais natural que Lula tenha escolhido, para sucedê-lo, uma nulidade como Dilma Rousseff. Nulidades atraem nulidades.
 
Triste do país que já teve um Lula no mais alto cargo da nação. Triste do país que entroniza a vulgaridade, a safadeza, a cupidez e a ignorância. Lula já vai tarde. Este pode não ser seu fim. Mas que seja, pelo menos, o começo do fim.

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