quinta-feira, novembro 22, 2012

EM DEFESA DO ÓBVIO

O Brasil - eu quase escrevi: o mundo (ainda não perdi totalmente a esperança...) - está se tornando um lugar em que afirmar o óbvio está cada vez mais difícil. E isso por culpa de "movimentos" (faço questão das aspas) que, em nome de "causas" as mais díspares - e disparatadas - querem porque querem convencer a todos que dois mais dois são cinco, como no célebre livro de Orwell.
 
Em que consiste a tática dos politicamente corretos, herdeiros diretos ou indiretos da velha "linha justa" dos partidos comunistas? Eis alguns exemplos.
 
- Fulano defende o direito de Israel se defender dos ataques terroristas do Hamas e condena o uso por este de civis palestinos, inclusive crianças, como escudos humanos (o que traz sempre dividendos propagandísticos contra Israel)? É um "sionista fanático, racista, imperialista e genocida".
 
- Quer ver os mensaleiros respondendo por seus crimes na cadeia? É um membro da "elite golpista", defensora de um "moralismo udenista de classe média".
 
- Considera o culto da ignorância promovido pelo lulopetismo uma ofensa aos pobres que estudam? É um "preconceituoso" e "elitista".
 
- É contrário ao sistema de cotas raciais no serviço público, pois se trata da oficialização do racismo (pior: num país de mestiços), e tem dúvidas quanto à sinceridade de Barack Obama no tocante à sua nacionalidade? É um "racista" e "teórico da conspiração".
 
- Não se deixa levar pelo discurso ensaiado e baseado em desinformação de celebridades televisivas contra a construção de uma usina hidrelétrica, sem a qual o país corre o risco de ficar às escuras? É um "inimigo da natureza" e defensor dos "interesses ruralistas".  
  
- É contra o desarmamentismo e a "descriminalização" da maconha, e defende leis mais severas para punir a criminalidade, como a redução da maioridade penal para 16 anos? É um "fascista".
 
- Considera revanchismo a idéia de rever a Lei de Anistia de 1979 para punir apenas um dos lados do conflito ideológico dos anos do regime militar, lembrando que a esquerda armada praticou terrorismo e assassinatos? É um "defensor da ditadura", "favorável a torturadores" etc. 
 
- Quer saber a verdadeira opinião de Dilma Rousseff sobre questões como o kit-gay e o aborto? É um representante da "direita medieval" etc. etc.
 
E, finalmente:
 
- Acredita que 1) aquilo que se faz na cama é um assunto estritamente privado; 2) preferências sexuais não devem ser fonte de direitos (nem de deveres); 3)criminalizar a "homofobia" é um disparate que levaria inexoravelmente à institucionalização da censura; 4) o Brasil está longe de ser um matadouro de homossexuais; e 5) nenhum comportamento humano está acima de crítica ou de chacota? Então só pode ser um "homofóbico", "preconceituoso" e inimigo da liberdade e da diversidade sexual etc. etc. etc. - ou seja: um leitor da VEJA (a "mídia golpista").
 
Qualquer pessoa ainda não lobotomizada pela propaganda esquerdopata e "politicamente correta" não terá dificuldade alguma em perceber que as conclusões acima são uma grossa empulhação, uma tremenda impostura decorrente da mais despudorada desonestidade intelectual. É algo facilmente notado por qualquer pessoa razoavelmente dotada de inteligência. Menos, claro, se você for um militante.

O leitor razoavelmente informado e perspicaz também já deve ter percebido do quê estou falando. Há dias, um artigo do colunista da VEJA J.R. Guzzo é motivo de revolta entre os militantes gays (que eu prefiro chamar de gayzistas) e seus simpatizantes. Estes inundaram as redes sociais de comentários indignados, supostamente por causa de uma alusão a cabras que os deixou particularmente ofendidos. Alusão esta que não passou disso: uma alusão, referente ao fato de que o casamento, em nossa sociedade, não é um direito ilimitado, daí a idéia do "casamento gay" não ser algo assim tão simples - assim como a união matrimonial entre um homem (ou mulher) e uma cabra (ou um bode). Aliás, ninguém é obrigado por lei a gostar de gays, de cabras ou de espinafre, é?
 
Em texto meu anterior, fiz questão de rebater ponto a ponto os "argumentos" utilizados por um conhecido porta-voz político-artístico do "movimento" gayzista que, para tentar desqualificar o texto de Guzzo, demonstrou claramente não ter entendido o que leu (se é que leu). E tentei deixar claro - acredito que consegui fazê-lo - que o que mexeu com os brios do pessoal LGBT (ainda é assim que se chamam?) não tem nada a ver com cabras e espinafres: foram simplesmente os fatos citados acima, que Guzzo menciona em seu texto. Principalmente dois fatos que ainda esperam ser contestados: que os gays não são uma classe especial e diferente de cidadãos e que a propaganda gayzista, ao insistir na idéia contrária, acaba confirmando a Lei das Consequências Indesejadas, segundo a qual o resultado de uma luta - nesse caso, por "igualdade" - termina sendo, paradoxalmente, o seu inverso (o mesmo pode ser dito das cotas raciais, que, a pretexto de combater a discriminição racial, acabaram oficializando-a).  Assim, o "movimento" gayzista acaba conspirando contra os próprios homossexuais (que não são todos militantes da "causa", é bom que se diga). 
 
Como eu disse, já escrevi sobre o tema, e não pretendo me repetir. Vou apenas acrescentar um dado que julgo relevante. Trata-se da definição da assim chamada "homofobia", cuja criminalização é uma das principais bandeiras do "movimento" gayzista. Assim como J.R. Guzzo, tenho sérias dúvidas sobre o que viria a ser essa tal "homofobia" de que tanto falam. E, assim como o colunista da VEJA, não consigo ver nenhum sentido em criminalizar algo que não se sabe exatamente o que é e que ninguém - repito: ninguém - até agora definiu com clareza. "Homofobia" é, para dizer o mínimo, algo extremamente vago. Ao contrário, por exemplo, de "Matar alguém" ou de "Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso" (Artigo 208 do Código Penal Brasileiro; pena: detenção, de 1 mês a 1 ano, ou multa) - algo que costuma ocorrer, diga-se, nas paradas gay em várias capitais. Nesse caso, trata-se de um crime claramente tipificado pelas leis do país. Mas, "homofobia"? O que raios é "homofobia"? Citar uma passagem da Bíblia (ou do Corão) que condena a prática homossexual? Mas proibir tal coisa, concordando-se ou não com o trecho assinalado, é claramente um atentado à liberdade religiosa, um dos pilares da democracia. O que resta, então?  Uma piada de bar, talvez? É, sobra essa alternativa. Nesse caso, o que vai a seguir teria de ser proibido:
 
 
Pode-se considerar uma piada de mau gosto, ou discordar de um ponto de vista. Mas pode-se, sob qualquer pretexto, tentar censurá-los em um estado de direito democrático? De qualquer maneira, o que se estaria criminalizando é nada mais, nada menos, do que uma opinião. E delito de opinião só existe em ditaduras. Preciso ser mais claro?
 
Em outras palavras, é o seguinte: para que a tal "homofobia" seja transformada em crime, como pretendem os militantes gayzistas, a liberdade de expressão e de opinião - inclusive a liberdade de contar uma simples piada de bichinha - teria que ir para as cucuias. Isso significaria que todos teriam de ser obrigados a gostar, por lei, de gays. Ou de cabras e de espinafre.
 
Essa é a questão que está por trás (no bem sentido, claro...) de toda a onda de revolta e de indignação dos gayzistas contra o artigo da VEJA. Todo o resto - revolta por ser comparado a uma cabra, por exemplo - não passa de faniquito de viadinhos afetados e nervosinhos. Coisa de boiola.
 
Quando o debate está de antemão tolhido pelo discurso militante, que demoniza o antagonista em vez de analisar os fatos com honestidade, quem perde é a inteligência. Os militantes de "movimentos" como o LGBT se especializaram em satanizar seus críticos, cobrindo-os de injúrias de todos os tipos quando se dizem, eles mesmos, vítimas de injúria. Com essa tática desonesta, procuram desviar a atenção de fatos que lhes são incômodos, por destoarem frontalmente de seu discurso vitimista, fugindo do debate e colocando-se, assim, acima de qualquer crítica. A se julgar pela repercussão negativa do artigo da VEJA, a tática funciona.  

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