tag:blogger.com,1999:blog-37351004.post4729902210459930598..comments2024-03-03T20:50:28.889-03:00Comments on Blog Do Contra: Mais um quadrúpedeGustavohttp://www.blogger.com/profile/13250023182081411985noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-37351004.post-14561521323200003812009-07-10T19:24:06.542-03:002009-07-10T19:24:06.542-03:00A Janela dos Outros
Martha Medeiros
Gosto dos livr...A Janela dos Outros<br />Martha Medeiros<br />Gosto dos livros de ficção do psiquiatra Irvin Yalom (Quando Nietzsche<br />Chorou, A Cura de Schopenhauer) e por isso acabei comprando também seu Os<br />Desafios da Terapia, em que ele discute alguns relacionamentos padrões entre<br />terapeuta e paciente, dando exemplos reais. Eu devo ter sido psicanalista em<br />outra encarnação, tanto o assunto me fascina.<br />Ainda no início do livro, ele conta a história de uma paciente que tinha um<br />relacionamento difícil com o pai. Quase nunca conversavam, mas surgiu a<br />oportunidade de viajarem juntos de carro e ela imaginou que seria um bom<br />momento para se aproximarem. Durante o trajeto, o pai, que estava na<br />direção, comentou sobre a sujeira e degradação de um córrego que acompanhava<br />a estrada. A garota olhou para o córrego a seu lado e viu águas límpidas, um<br />cenário de Walt Disney. E teve a certeza de que ela e o pai realmente não<br />tinham a mesma visão da vida. Seguiram a viagem sem trocar mais palavra.<br />Muitos anos depois, esta mulher fez a mesma viagem, pela mesma estrada,<br />desta vez com uma amiga. Estando agora ao volante, ela surpreendeu-se: do<br />lado esquerdo, o córrego era realmente feio e poluído, como seu pai havia<br />descrito, ao contrário do belo córrego que ficava do lado direito da pista.<br />E uma tristeza profunda se abateu sobre ela por não ter levado em<br />consideração o então comentário de seu pai, que a esta altura já havia<br />falecido.<br />Parece uma parábola, mas acontece todo dia: a gente só tem olhos para o que<br />mostra a nossa janela, nunca a janela do outro. O que a gente vê é o que<br />vale, não importa que alguém bem perto esteja vendo algo diferente.<br />A mesma estrada, para uns, é infinita, e para outros, curta. Para uns, o<br />pedágio sai caro; para outros, não pesa no bolso. Boa parte dos brasileiros<br />acredita que o país está melhorando, enquanto que a outra perdeu totalmente<br />a esperança. Alguns celebram a tecnologia como um fator evolutivo da<br />sociedade, outros lamentam que as relações humanas estejam tão frias. Uns<br />enxergam nossa cultura estagnada, outros aplaudem a crescente diversidade.<br />Cada um gruda o nariz na sua janela, na sua própria paisagem..<br />Eu costumo dar uma espiada no ângulo de visão do vizinho. Me deixa menos<br />enclausurada nos meus próprios pontos de vista, mas, em contrapartida, me<br />tira a certeza de tudo. Dependendo de onde se esteja posicionado, a razão<br />pode estar do nosso lado, mas a perderemos assim que trocarmos de lugar. Só<br />possuindo uma visão de 360 graus para nos declararmos sábios.. <br />E a sabedoria<br />recomenda que falemos menos, que batamos menos o martelo e que sejamos menos<br />enfáticos, pois todos estão certos e todos estão errados em algum aspecto da<br />análise. É o triunfo da dúvida.pomaserahttps://www.blogger.com/profile/03815379506069134069noreply@blogger.com